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Para as mulheres, os fatores de risco em decorrência do abuso de drogas podem acarretar diversas vulnerabilidades

Por Paula Ribeiro*

No mês de março, grande parte das discussões está voltada para o entendimento do que é ser mulher, do papel da mulher na sociedade, dos direitos adquiridos pela mulher historicamente, da proteção da mulher e outros tantos assuntos afins. Isso porque, no dia oito do referido mês, celebra-se o Dia Internacional da Mulher. Celebrar essa data não quer dizer, em momento algum, que a atenção e os cuidados à mulher merecem reconhecimento apenas neste dia. Muito pelo contrário, a data existe e merece destaque para reforçar que essa valorização e todo esse zelo devem ser constantes. É, sim, uma data honrosa e muito especial!

Pois bem… e quem é essa mulher maravilha?

Opa… é bem aqui que já se encontram algumas divergências no discurso pronto de muitos, aquele que é reproduzido de geração em geração, sabe? Ao descrevê-la, são muito comuns descrições do tipo: “menina pura que mudou sua vida após a maternidade”. Por outro lado, como se fosse um problema, “a mãe solteira que venceu”. Tem também “a mulher do lar”, “a dona de casa exemplar”, “a mãe de três filhos”, “a chefe de família”. Ou ainda, “a executiva de sucesso”, “ a boa de cama” ou “a dona de sua própria vida”, aquela mulher magra, que apresenta unhas sempre feitas e cabelo sempre arrumado. E, acima de tudo isso, é apresentada a mulher maravilha, aquela mulher que é tudo isso aí ao mesmo tempo.

Nesse contexto, é possível perceber como uma ideia, propagada tantas vezes, por tantas gerações, pode se tornar uma verdade absoluta e incontestável. E, muitas vezes, essa imposição de valores atinge mulheres de uma maneira tão singular, causando tantos sofrimentos internos e ocultos, que elas acabam se tornando vítimas de um sistema hipócrita e cruel. E são todas elas. Em algum aspecto, todas serão reprovadas por algum motivo. Já parou para pensar nisso?

Paula Ribeiro – Mestra em Educação, Especialista em Orientação Educacional, Ex Conselheira de Política sobre Drogas do Distrito Federal

Um rótulo comum muito propagado, inclusive por mulheres, expressa que a mulher aceita pela sociedade, em geral, é casada, mãe e dona de casa. Ela é inteligente, por isso, também trabalha fora.  Ela não bebe, não fuma, não fala alto, não dança funk, vive pela família, cuida de todos e dá conta de fazer tudo ao mesmo tempo. Ela vota e pode ser votada. E ela pode até se casar de novo. Mas, se não se casou até os 30, difícil alguém querer casar com ela. Ela tem de ter filhos, afinal, quem vai cuidar dela na velhice? Ela pode comer à vontade, só não pode engordar; pode envelhecer, mas não pode ter cabelos brancos. Ela pode ser branca ou preta, mas tem de ser cisgênero, ou seja, aquela mulher que se identifica com a genitália feminina, apresenta características físicas femininas e que adota padrões sociais femininos, como o uso de salto, batons, tom de voz etc.” E por aí vai…

Quantos rótulos? Quantos estigmas e estereótipos? Quantos padrões sociais? Quantas opiniões? Quantas críticas? Quanto peso!!!

A verdade é que se encaixar nos padrões impostos à mulher para que ela seja ela mesma causam grande desconforto e a colocam em espaço de extrema vulnerabilidade. As exigências são tão segregativas e causam tanta intolerância, que muitas mulheres desistem de si mesmas. Daí, sentimentos de baixa autoestima, depressão, medo, ansiedade, pânico, desespero, angústia, dentre outros. Essa realidade configura um conjunto de fatores de risco que podem gerar atitudes e comportamentos indesejados, como o uso indevido de medicamentos e o abuso de álcool e outras drogas.

Para as mulheres, os fatores de risco em decorrência do abuso de drogas podem acarretar diversas vulnerabilidades. A sobrecarga que tenta definir a mulher ideal e reproduzi-la socialmente pode fazer com que a mulher recorra ao uso de drogas lícitas e ilícitas. Os estigmas e os estereótipos sociais atrelados às exigências padronizadas pela sociedade em relação à feminilidade, além das múltiplas responsabilidades colaboram para o sentimento de inadequação, baixa autoestima, fragilidade e impotência. Essa realidade pode ser um motivador para o abuso de substâncias psicoativas, seja para alcançar o corpo ideal (por exemplo, termogênicos e anabolizantes), seja para tratar a mente (ansiolíticos, antidepressivos e outros medicamentos) ou seja para “fugir da realidade” (álcool e outras drogas).

Assim, elas podem entrar em um círculo vicioso: compulsão, falta de controle, dificuldade de cessar o consumo, dificuldade em realizar tarefas, além das diversas alterações físicas. Aos poucos, elas podem não conseguir mais exercer os papéis socialmente impostos a elas, como o de boas mães, cuidadoras e provedoras. Esse peso da desigualdade de gênero, pode gerar impactos à saúde das mulheres como a dependência química.

O fato de as mulheres ainda estarem em uma posição desprivilegiada na sociedade pode levar ao abuso de substâncias psicoativas, como uma espécie de “fuga” às pressões sociais. É interessante considerar que os motivos que levam as mulheres a iniciarem o uso de drogas são diferentes daqueles apresentados pelos homens. É comum elas iniciarem o consumo de substâncias a partir da ocorrência de eventos significativos, tais como problemas com a autoestima, desestruturação familiar, traição, pressões profissionais, adoecimento físico ou psíquico, violência doméstica, violência sexual e assédio moral.

Especialistas afirmam que as mulheres têm maior predisposição a se tornarem dependentes químicas do que os homens de acordo com suas condições biológicas, físicas e cerebrais. Portanto, tendem a sofrer maiores impactos em decorrência do uso abusivo de drogas, podendo sofrer maiores danos do que os homens. O volume corporal de água das mulheres é menor que o dos homens. Assim, a concentração de álcool ou de outras drogas no sangue é maior, ou seja, elas se intoxicam mais rápido, afirma o médico psiquiatra Marcel Vella Nunes do Hospital Santa Mônica, de São Paulo.

Além disso, cientistas descobriram que as mulheres podem ter problemas relacionados à produção de hormônios, ciclo menstrual, fertilidade, gravidez, amamentação e menopausa. Pode-se dizer que as drogas afetam a produção hormonal feminina. Logo, é muito importante prevenir tais agravos à saúde da mulher. Cuidar da saúde física e mental é indispensável para evitar fatores de risco e potencializar fatores de proteção para a prevenção ao uso indevido de drogas.

Essa realidade se aplica a todas as mulheres, que independente de serem casadas ou solteiras, magras ou não, pobres ou ricas, pretas ou brancas, donas de casa ou executivas, com ou sem filhos, dependentes químicas ou não, são todas mulheres! Então, ao invés de buscar a mulher maravilha, vamos reconhecer a mulher contemporânea.

Parabéns mulher, afinal, todo dia é seu dia!!!

*Paula Ribeiro – Mestra em Educação, Especialista em Orientação Educacional, Ex Conselheira de Política sobre Drogas do Distrito Federal e Colunista do Agenda Capital

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