“A imprensa é a vista da Nação”.

Por Edgar Lisboa

Certamente todos já ouviram esta citação muitas vezes. É talvez um dos conceitos mais utilizado, no Brasil, quando se trata de apontar ao papel da imprensa na sociedade e a importância da preservação da liberdade de expressão. Esta frase, ao mesmo tempo simples profunda, faz parte de uma conferência sobre “a Imprensa e o Dever da Verdade”, que Rui Barbosa preparou, mas a não pode fazer por motivos de saúde, em 1920.

Ao abordar o assunto, Rui Barbosa não se limitou a uma analogia superficial com o sentido de visão. Não se pode esquecer que a imprensa de então estava restrita aos jornais. Levaria ainda muitos anos para que as emissoras de rádio surgissem e se multiplicassem. A televisão, era coisa de ficção científica, na melhor das hipóteses.
Mesmo os jornais não passavam de pasquins, em geral de tiragens pequenas e mais voltados para a propaganda ideológica que para a informação.

Passados quase 100 anos, muda completamente a maneira de levar a informação ao consumidor que a recebe, em tempo real, numa velocidade jamais imaginada e por meios os mais diversos, diretamente em sua casa ou onde estiver.
Desde os primórdios, qualquer pretensão de seriedade num debate sobre a imprensa e Estado – quer se trate do Poder Legislativo, do Executivo ou do Judiciário – deve partir do reconhecimento de que a Imprensa é efetivamente um ator político.

Perceber este vínculo entre a Imprensa e o sistema político vigente é vital para que se possa compreender o papel desempenhado pela imprensa numa sociedade como a brasileira sem resvalar para um moralismo unilateral ou cair em preconceitos estéreis.

Não há nada de novo no que diz respeito aos indivíduos que participam da vida política ou às instituições que a integram. A novidade, talvez, esteja em apontar a Imprensa como ator político quando temos toda uma tradição tendente a apresentar a Imprensa não como um ator, mas como um espaço neutro no qual se reproduz e amplifica a atuação dos demais atores.

O jornalista inglês Anthony Smith é autor de um texto interessante – “Los valores de las notícias y la ética del periodismo”, no qual resume a trajetória de alguns dos principais conceitos sobre o jornalismo e seus valores.
A realidade histórica não se conforma com a camisa de força que a obrigam a vestir quando tratam de buscar justificativas no passado para essa tese de Imprensa como espelho plano da realidade. O senso comum também não. E é por isso que, embora a Liberdade de Expressão seja um dos valores mais caros à sociedade ocidental contemporânea, sua vigência sempre foi problemática e esteve inúmeras vezes no centro das disputas políticas.

Suprimi-la, conquistá-la, ou exercê-la sempre foi uma das motivações ou um dos recursos dos atores políticos. A Imprensa, por sua vez, foi sempre um desses atores, mesmo quando instrumentalizada por outros atores, o que, de modo geral, implica no cerceamento da liberdade.

A pretensão à imparcialidade permite propor o fim do faccionismo, na medida em que um veículo de comunicação e inclua-se aí, blogs, sites, portais e outros meios de comunicação modernos, com informações gerais e objetivas e que pode ser lido por todos, inclusive os que não compartilham das opiniões do editor daquele veículo de informação.

A imparcialidade, em tese, viabiliza o que a economia exige: a ampliação dos universos de leitores. O patrocínio dos jornais, blogs, sites, rádios e televisões deslocam-se do plano ideológico para o comercial, tendo como referência a massa de leitores. Os veículos passaram a se orientar pela lógica do mercado sem perder sua condição de atores políticos, na medida em que influenciam sobre a opinião pública e, através desta, sobre os demais atores políticos. “As forças do mercado invalidavam a ética do suborno”, comenta em sua publicação o jornalista inglês, Anthony Smith.

O primeiro grande momento da história contemporânea em que a lógica política irrompeu de forma generalizada, subordinando a lógica de mercado na Imprensa foi a Primeira Guerra Mundial. Isso foi mostrado de maneira exaustiva pelo jornalista Phillip Knightley, ao longo de um livro de 562 páginas. O título “ A Primeira Vítima” ele tomou emprestado do senador norte-americano Hiram Johnson que, em 1917, já comentava que “ A primeira vítima, quando começa a guerra, é a verdade”. Vale lembrar que serve para qualquer tipo de “guerra”, mesmo entre a Imprensa e os Poderes Legislativo e Executivo ou a Lava Jato.

O bom do avanço tecnológico e a possibilidade de veicular informações, de forma democrática, é que os limites para as ações dos veículos de comunicação deixam de ser estabelecidos pelos seus proprietários, os poderosos donos de jornal do passado, seus operadores ou o Estado, para situarem-se no plano difuso e mais democrático que é a sociedade como um todo, entretanto, com um risco bastante grande de posições, em alguns casos irresponsáveis de alguns jornalistas ou editores. Por outro lado, a contestação também é rápida pois não faltam meios e espaços para o contraponto.

A incorporação das nações de responsabilidade, na missão social da Imprensa se somam à de Liberdade de Expressão que não, pode nunca ser confundida com irresponsabilidade editorial, por seus atores formadores de opinião, como se observa. É inevitável que o conflito se acentue numa velocidade ainda maior com essa disseminação de instrumentos de distribuição de notícias. Cabe ao jornalista, o editor, informar com responsabilidade pois o controle sobre o mau jornalismo, agora, é da sociedade, um controle mais poderoso e mais rigoroso que qualquer Tribunal.

A Liberdade de Imprensa no Brasil, após a aprovação do capítulo 220 da Constituição, na última Constituinte é um fato incontestável. O que ainda exerce um certo controle é a opção comercial de Governos sobre onde e quando anunciar, privilegiando alguns veículos mais simpatizantes da causa de quem está no poder. Mas mesmo isso, começa a sofrer um forte controle e acompanhamento da sociedade como um todo.

Por isso, nós que trabalhamos com informação temos que ter a responsabilidade de informar com credibilidade e isenção. O jogo exercitado por alguns blogueiros ou editores de jornais, revistas, de apoio ou denúncias vazias, não tem mais espaço. É prejudicial a todos: ao jornalista, ao veículo e, principalmente, a sociedade consumidora da informação. As alternativas de leitura são cada vez maiores.

Cada um tem que proteger seu conteúdo com informações verdadeiras e que não abram espaço para contestações. Ninguém consegue contestar informações verdadeiras e checadas. Isso, desde o tempo de Rui Barbosa. Reflitam todos sobre a grande responsabilidade que cada um de nós têm, principalmente, agora, que estamos às vésperas de mais um ano eleitoral.

Edgar Lisboa é jornalista, editor do blog: www.edgarlisbo.com.br; diretor da Agência Digital News, colunista político do Jornal do Comércio (RS), ex-Diretor Executivo da Associação Nacional de Jornais (ANJ) e Diretor de Relações Públicas da Associação de Blogueiros de Política de Brasília.

Delmo Menezes
Gestor público, jornalista, secretário executivo, teólogo e especialista em relações institucionais. Observador atento da política local e nacional, com experiência e participação política.

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