Ibaneis Rocha. Foto: Reprodução

Depois de crescer 14 pontos nos últimos seis dias, segundo pesquisa Ibope, aumenta a possibilidade de o pleito se desenrolar sem uma “final”

Por Manoela Alcântara e Isadora Teixeira

Uma das eleições mais confusas e emboladas do Distrito Federal pode ter um desfecho surpreendente: ser liquidada ainda no primeiro turno. Trata-se de um cenário remoto, mas que, nessa quarta-feira (3/10), mostrou-se matematicamente possível. Analisando o histórico de sondagens do Ibope – um dos institutos mais tradicionais do país –, conclui-se que, se o líder nas intenções de voto mantiver o mesmo crescimento, decretará vitória sem a necessidade de um segundo turno.

De acordo com pesquisa divulgada pelo instituto, Ibaneis Rocha (MDB) atingiu 34% das intenções. Em 24 de agosto, o ex-presidente da Ordem dos Advogados do Brasil no Distrito Federal (OAB-DF) aparecia no levantamento com apenas 2%, disputando com outros 10 postulantes. No dia 12 de setembro, ele cresceu cinco pontos percentuais. Cinco dias depois, chegou a 9% e começou a ascensão vertical.

Em 10 dias, encostou na então líder dos levantamentos, Eliana Pedrosa (Pros), com 20%, um acréscimo nas intenções de 11 pontos percentuais. Passados seis dias da data de divulgação do teste, Ibaneis saiu de 20% e foi para 34%, um incremento de 14 pontos percentuais, média de 2,3 por dia.

Para chegar aos 50% mais um voto e vencer, o advogado necessita subir quatro pontos por dia até domingo (7). O esforço seria em dobro, mas, diante de um cenário pulverizado e que não empolga, Ibaneis teria de manter foco total em lacunas deixadas pelos concorrentes.

Para o consultor, jornalista, professor e colunista do Metrópoles Hélio Doyle, os últimos dias da campanha vão ser de guerra. “Ibaneis vai ser bombardeado. Os outros candidatos vão bater muito nele, porque ele está na frente. Se você notar, pela aritmética, ele tirou voto da Eliana, do Fraga, do Rosso e de indecisos. Se somar o que eles perderam, dá o que o Ibaneis ganhou e ainda sobra”, analisou.

O professor emérito da Universidade de Brasília (UnB) David Fleischer observa ser possível uma vitória em primeiro turno caso Ibaneis continue subindo e os adversários caindo. “É difícil analisar a subida rápida, mas pode ser reflexo da decepção com outros candidatos e, por isso, o eleitor decidiu migrar para a candidatura dele. Se ele sair tão forte no primeiro turno, é muito provável levar no segundo”, ponderou.

Na opinião do doutor em sociologia política e professor de direito do Centro Universitário de Brasília (UniCeub) Edvaldo Fernandes, Ibaneis tem crescido nas intenções de voto aferidas pelo Ibope porque se apresenta como uma figura externa à política. “Além disso, contou com uma estrutura partidária sólida e bem-ramificada”, pontuou.

Ataques, ações e brigas

Um dos fatores que podem prejudicar a continuidade da ascensão nas intenções de voto em torno de Ibaneis é a mudança de perfil dos concorrentes. É nítida a ferocidade dos ataques contra o primeiro colocado. Se antes Rodrigo Rollemberg (PSB) era o alvo dos embates, agora é Ibaneis quem entrou na mira dos adversários.

Com a estagnação do atual chefe do Executivo nas pesquisas, com percentual médio oscilando entre 10% e 11%, o foco em debates, ações judiciais e discursos mudou para o lado do emedebista. Desde que subiu na avaliação quantitativa dos institutos, Ibaneis teve vídeos e ações em seu desfavor divulgados e tornados públicos, entre outros reveses.

Mesmo assim, Ibaneis está confiante: “Acredito que podemos chegar [à vitória] no primeiro turno”, disse em entrevista ao Metrópoles na segunda-feira (1º/10).

Margem de erro ou imprecisão

Para tal cenário se concretizar, é preciso que as pesquisas estejam corretas. Em outras eleições, o resultado das urnas não refletiu as sondagens. Não raras as vezes, candidatos com boas pontuações às vésperas do pleito não se elegeram como previam os levantamentos. Noutras situações, os eleitores confirmaram vitória em primeiro turno quando todos os institutos indicavam um “segundo round”. A forma de uma consulta mostrar-se mais próxima da realidade é a comparação com outros institutos. Nesta quinta-feira (4), por exemplo, os postulantes ao Palácio do Buriti ficarão atentos ao Datafolha.

Um exemplo recente em que as pesquisas passaram distante da realidade ocorreu em 2016, na corrida à Prefeitura de São Paulo. A última consulta do Ibope, feita na véspera da votação, apontava para um segundo turno entre João Doria (PSDB) e Fernando Haddad (PT). No entanto, ao final da apuração, o empresário foi eleito em primeiro turno, com 53%, uma diferença de 15 pontos percentuais em relação à sondagem.

Assim como Ibaneis, Doria apresentava um tímido desempenho há um mês do pleito – tinha somente 6% –, mas cresceu meteoricamente na reta final e assumiu o cargo.

Em 2014, a eleição de Rui Costa (PT) para o governo da Bahia, no primeiro turno, também divergiu dos resultados apresentados por levantamentos eleitorais. A aferição do Ibope publicada dois dias antes da votação indicava empate técnico entre o petista e Paulo Souto (DEM), o que resultaria em segundo turno. Mas a contagem surpreendeu e Rui Costa atingiu 54% dos votos válidos, liquidando a corrida sem a necessidade de uma disputa “final”.

Críticas

Como ocorre em todas as eleições, candidatos que perdem fôlego na campanha começam a desqualificar os resultados. No DF, Rogério Rosso (PSD) e Alberto Fraga (DEM) tornaram-se críticos ferrenhos dos levantamentos. “Essas pesquisas serão a maior decepção da história dos institutos. A eleição se decide no dia 7, nas urnas”, disse Rosso. Fraga endossou: “Tem muita pesquisa comprada. A única coisa que não pode ser comprada é o voto”, disparou.

Nas eleições de 2006, o Ibope apontava José Roberto Arruda, então no PFL, como eleito já no mês de agosto. Na ocasião, ele tinha 51% das intenções, contra 17% da segunda colocada, Maria de Lourdes Abadia. Em 1º de outubro, ele ganhou o pleito com 50,38% dos votos válidos. Diferentemente de Ibaneis, Arruda tinha espólio político e demonstrava força desde o primeiro momento.

Anteriormente, em 1994, um cenário parecido com o que se desenha em 2018 surpreendeu a capital da República. Naquele ano, Cristovam Buarque, então pouco conhecido da massa, foi lançado candidato ao Governo do Distrito Federal (GDF) pelo PT. Desacreditado no início, superou Maria Abadia, do PSDB, e foi ao segundo turno contra Valmir Campelo, candidato do PTB apoiado pelo ex-governador Joaquim Roriz. Por fim, venceu a disputa com 53,89% dos votos válidos.

Agora, Ibaneis, também “desconhecido” do povo, ultrapassa Eliana Pedrosa, a postulante apoiada pelo clã Roriz. “Ibaneis mostrou que pode ser como Cristovam naquele ano. Não estou dizendo que vai ganhar, mas só o fato de passar para o segundo turno e ter pulado de 2% para 34%, segundo o Ibope, mostra que a teoria de que o ‘sem voto’ não tem chance é equivocada”, observou Hélio Doyle.

Fator Roriz

No entendimento do professor do Instituto de Ciência Política da UnB Ricardo Caldas, parte da população ficou sem referência após a morte do ex-governador Joaquim Roriz, na quinta-feira da semana passada (27/9).

Para o docente, Ibaneis tem ocupado esse lugar por estar no MDB, partido ao qual Roriz foi filiado por anos. “Tem o aspecto simbólico, aquele legado subjetivo. E isso quem herdou, certamente, não foi Eliana, Rosso nem Fraga [candidatos que têm ligação com Roriz]”, analisou.

Da Redação com informações do Metrópoles

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