Presidente do Senado, Davi Alcolumbre. Foto: Reprodução

Com as presidências da Câmara e do Senado nas mãos, DEM reivindica cargos no governo, sem depender de critérios exclusivamente técnicos para indicações

Por Rodolfo Costa / CB

As vitórias do DEM nas eleições para presidente da Câmara e do Senado foram apenas o começo do renascimento do partido. A legenda, agora, se movimenta para crescer no vácuo do PSL, partido do presidente Jair Bolsonaro, dentro do Congresso e no próprio Palácio do Planalto. No Parlamento, o partido se articula para liderar as negociações com o governo em troca de cargos. No Planalto, o ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni (DEM), acomoda, desde o início do ano, apadrinhados políticos de aliados na Esplanada dos Ministérios, segundo afirmam correligionários do presidente.

No Congresso, o discurso é de que o próprio Bolsonaro terá de pedir para o DEM auxiliar na articulação. Mas isso terá um preço. Em troca de apoio pela aprovação da reforma da Previdência, o governo está disposto a oferecer cargos de segundo escalão para baixo por meio do “banco de talentos”, mecanismo que tem por objetivo “profissionalizar” as indicações políticas. Inicialmente, a proposta foi ironizada por líderes e pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP). Agora, maturada, abriu caminho para a barganha de postos mais altos.

Em reunião de expoentes de partidos com Bolsonaro amanhã, o líder do DEM e do bloco vencedor das eleições na Câmara, Elmar Nascimento (BA), vai colocar na mesa de negociações a proposta de que aliados ocupem cargos de primeiro escalão. Ou seja, ministérios. “Se o governo está achando que vai nos tratar com banco de talentos e segundo escalão, está se enganando. Não vai dar. Se quer governar só com militares, é uma escolha. Sem reforma ministerial, terá dificuldades para compor base. Ninguém está atrás de marmita. Poder, ninguém dá, tem que arrancar, e Elmar vai levar isso a ele”, afirma o deputado Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ).

Na Esplanada, no primeiro escalão e em alguns postos chave do segundo, o governo dispõe de 12 integrantes oriundos das Forças Armadas, excluindo o vice-presidente, Hamilton Mourão, ocupando postos de primeiro e segundo escalões. O estopim da revolta de aliados foi a substituição de Gustavo Bebianno, ex-ministro-chefe da Secretaria-Geral, pelo general Floriano Peixoto. “Supostamente, a maioria dos parlamentares não quer cargos. Mas cada um sabe o valor que tem seu mandato. Se o governo quer compor a base, então coloca os generais para articular. Parlamentar quer respeito, ser ouvido e atendido”, alerta Sóstenes.

O DEM se mantém na dianteira das articulações com o governo e conta com o respaldo de líderes do bloco, que inclui o PP, PSD, MDB, PR, PRB, PSDB, PTB, PSC, PMN e o próprio PSL. A curto prazo, lideranças não têm esperança de que o governo ceda postos de primeiro escalão. Mas avaliam que Bolsonaro pode mudar de ideia, à medida que sinta dificuldades para aprovar as reformas na robustez proposta pelas equipes técnicas. A retórica capitaneada pelo DEM é que há parlamentares e indicados com qualificação técnica e política para exercer cargos de alto escalão no governo.

Aliados entendem que o governo foi eleito com o discurso de combater o “toma lá da cá” —, a acomodação de apadrinhados condicionada à troca de apoio na aprovação de reformas. Mas vão alertar o incômodo com o “banco de talentos”, visto como desmerecimento e discriminação com a categoria política. “Por uma base mais qualificada, é importante que o governo compatibilize qualificação política e técnica qualificada. Terá que avaliar bem o discurso para não transparecer discriminação e radicalização com a base. Há indicados e parlamentares ficha limpa qualificados que podem ocupar, inclusive, o primeiro escalão”, aconselha o senador Izalci Lucas (PSDB-DF), vice-líder da legenda no Senado.

Prestígio

No Planalto, Onyx é o responsável pelas articulações. O ministro, no entanto, é acusado de privilegiar o próprio partido nas interlocuções. Levantamento da agenda oficial do ministro aponta que, desde 2 de janeiro, recebeu em 12 oportunidades filiados do DEM. O PSL foi prestigiado em 10 ocasiões, excluindo as reuniões com o líder do governo na Câmara, Major Vitor Hugo (PSL-GO). O MDB, o PSD e o PSDB aparecem divididos em terceiro com mais prestígio, com sete ocasiões na agenda. “As articulações com o DEM vão muito bem. Com outros partidos e a base do próprio Jair, não”, criticou um correligionário de Bolsonaro.

A avaliação de alguns integrantes na bancada do PSL é que Onyx usa o poder da caneta de articulador político para prestigiar aliados e se cacifar dentro do DEM para fazer concorrência à articulação do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), dentro do partido e na Câmara. A própria vitória de Alcolumbre no Senado é encarada como uma interferência do ministro, que trabalhou nos bastidores para o sucesso do correligionário.

Na Esplanada, Onyx é apontado como responsável pela indicação do secretário executivo do Ministério da Ciência e Tecnologia, Julio Semeghini, ex-deputado federal pelo PSDB. Também teria reconduzido Robson Tuma, ex-deputado federal pelo DEM, para a Superintendência do Patrimônio da União em São Paulo. Outra indicação do ministro seria a de Felipe Sartori Sigollo, do PSDB, para ser secretário executivo adjunto da Secretaria Executiva do Ministério do Desenvolvimento Social. A assessoria da Casa Civil nega que o ministro tenha feito as indicações.

Da Redação com informações do Correio

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