Foto: Reprodução

Por Merval Pereira

Ficou famosa a frase de Lula pouco antes de ser preso: “Se me prenderem, viro herói, se me matarem, viro mártir, se me deixarem solto, viro presidente”. Da mesma forma, um dos filhos de Bolsonaro, o candidato a senador pelo Rio Flávio Bolsonaro, disse logo depois do atentado: “Acabaram de eleger meu pai”.

Lula virou herói, mas dificilmente será presidente da República novamente, pelo menos nesta eleição. Não se sabe se Bolsonaro, preso à cama de um hospital nos próximos dez dias pelo menos, e em repouso forçado até o fim do primeiro turno, se elegerá presidente.

Mas o fato é que a campanha presidencial, que se assemelhava à de 1989 com uma forte polarização entre esquerda e direita e vários candidatos em disputa renhida, transformou-se em caso único no país, com os principais candidatos afastados da campanha, um por estar preso por corrupção e lavagem de dinheiro, outro por estar fora de ação devido a um atentado.

É completamente diferente também do que aconteceu em 2014, quando o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, morreu em desastre de avião e foi substituído por sua vice, Marina Silva.

A comoção provocada pelas duas tragédias provavelmente afetará o resultado desta campanha de maneira diferente. Marina Silva, que havia feito uma jogada política inesperada e surpreendente desistindo de sua candidatura a presidente e aderindo a Campos como sua vice, teve um impulso nas pesquisas de opinião ao assumir seu lugar na corrida presidencial, mas trazia consigo uma lembrança eleitoral de quem já tivera 20 milhões de votos na eleição anterior, em 2010.

A substituição do candidato do PSB marcou sua eleição, mas os efeitos políticos da tragédia se refletiram mais localmente em Pernambuco. Já o caso de Bolsonaro é diferente. Ele, para uma grande massa de eleitores, representa a rejeição à política tradicional, embora seja um parlamentar antigo e sem grandes feitos ao longo de seus vários mandatos de deputado federal.

Como deputado, era um candidato de nicho de militares, e transformou-se, devido à desesperança de muitos, em candidato nacional e símbolo da solução das graves crises do país.

O atentado contra ele é uma mudança política radical nos hábitos brasileiros, um retrocesso aos anos 30, um tempo político de questões resolvidas a bala que culminou com o suicídio de Getúlio Vargas em 1954.

Além do mais, Bolsonaro candidato em recolhimento de repouso terá a possibilidade de usar a internet, que sempre foi a grande força de sua campanha, pois não tem estrutura partidária nem tempo de propaganda eleitoral.

Em 2005, quando o ex-presidente Lula estava no chão devido às primeiras denúncias do mensalão, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso levou o PSDB a não se empenhar pelo pedido de impeachment para “não criar um Getúlio vivo”, referindo-se ao suicídio do ex-presidente, que virou a opinião pública a seu favor.

Naquele momento parecia a todos que Lula não teria condições políticas de se reeleger, assim como hoje; com as denúncias do petrolão, houve quem pensasse que ele não sobrevive ria, assim como o PT sofreu uma grande derrota nas eleições municipais de 2016.

Neste momento, a campanha contra Bolsonaro levada a efeito nas redes sociais e nas inserções de televisão pelo candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, já mostrava, pelas pesquisas, que seus efeitos poderiam reforçar a resistência das mulheres à sua candidatura.

A esta altura não é possível afirmar que esta mudança perdurará, mas é certo que os ataques ao Bolsonaro vítima de um atentado deverão ser amenizados por seus adversários. Não apenas a campanha de Bolsonaro terá que ser reposicionada, mas sobretudo a de seus adversários.

As primeiras declarações de Bolsonaro, do leito do hospital, foram de apaziguamento, e é provável que o clima de radicalização seja reduzido, restando saber como os militantes dos lados opostos se comportarão.

É certo que os ataques ao Bolsonaro vítima de um atentado deverão ser amenizados por seus adversários.

Da Redação com informações O Globo

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