A Polícia Federal cumpriu nesta quarta-feira, 22, mandado de prisão preventiva contra o ex-ministro Milton Ribeiro, da Educação. Foto: Dida Sampaio/Estadão

Integrantes da frente parlamentar admitem desgaste e citam constrangimento com a prisão de ex-ministro, mas pretendem manter apoio ao presidente

Por Felipe Frazão

BRASÍLIA – A bancada evangélica quer isolar politicamente a prisão do ex-ministro da Educação Milton Ribeiro, da Igreja Presbiteriana, e dos pastores-lobistas Arilton Moura e Gilmar Santos, da Assembleia de Deus Cristo Para Todos. Aliada de primeira hora do presidente Jair Bolsonaro, a Frente Parlamentar Evangélica admite o desgaste que o escândalo traz para a campanha à reeleição. Seus integrantes se dizem “constrangidos” com o caso protagonizado por evangélicos, mas pretendem manter o apoio a Bolsonaro e ajudar na reação do Palácio do Planalto, temerosos com a repercussão negativa entre os fiéis.

O escândalo do gabinete paralelo operado por pastores sem cargo no Ministério da Educação, revelado pelo Estadão em março, agora ganhou a chancela oficial da Polícia Federal (PF), que citou suspeitas de que os alvos tenham cometido quatro crimes: corrupção passiva, tráfico de influência, prevaricação e advocacia administrativa.

Apesar de ser evangélico, o ministro não era um apadrinhado da bancada. Tampouco os pastores Arilton e Gilmar tinham relações políticas com a frente. O ex-ministro ingressou no governo com articulação do hoje ministro do Supremo Tribunal Federal André Mendonça, segundo deputados que tiveram outros indicados preteridos. Logo ao perder o cargo, Ribeiro recebeu socorro em público da primeira-dama, Michelle Bolsonaro, mas não da bancada. “Deus vai provar que ele é uma pessoa honesta”, afirmou Michelle.

Para não ver apoiadores da pauta anticorrupção se desgarrando ainda mais entre os conservadores evangélicos, Bolsonaro manteve a programação de participar no sábado da Marcha Para Jesus, em Balneário Camboriú (SC).

O presidente da Frente Parlamentar Evangélica, deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), diz que o escândalo não vai afetar a adesão a Bolsonaro no segmento, embora o presidente tenha perdido densidade antes quando foi acusado de interferir na PF pelo ex-juiz e ex-ministro Sergio Moro.

“Temos que ter maturidade para separar o joio do trigo. Cada um responde pelos seus atos. Politicamente é uma notícia ruim para o governo, tem que medir o desgaste que isso produz. É lógico que era melhor que não houvesse nada, mas, se vier escândalo, o segmento quer que seja punido”, disse Sóstenes, membro da Assembleia de Deus Vitória em Cristo. “Vamos aguardar para ver o que acontece. Todo segmento tem pessoas boas e pessoas ruins. Se houver punição será um bom sinal do governo. Afasta-se, investiga-se e, se tiver problema, vai preso mesmo. Se tiver mais agente de governo envolvido que seja punido, mas duvido que tenha outros links, para mim é caso isolado.”

Diante do cenário adverso, o pastor Marco Feliciano (PL-SP) foi um dos primeiros a reconhecer que a prisão do ministro e dos pastores-lobistas causa “profundo constrangimento” na comunidade protestante, em especial nas Assembleias de Deus, ramo do qual ele faz parte. “É um dia muito triste para a igreja evangélica de vertente pentecostal”, disse Feliciano.

O pastor Silas Malafaia, líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, lembrou que cobrou “investigação total” do caso, em março. Na ocasião, ele disse que os líderes das igrejas não “tomariam lama” por causa de dois religiosos e, apesar de ter preservado o ministro num primeiro momento, passou a pedir a demissão com a revelação de que ela estampara a própria imagem em bíblias, que teriam sido compradas como forma de propina.

Mafalaia e aliados da bancada evangélica agora cobraram mais detalhes das investigações conduzidas pela PF, como quem teria pagado a propina, uma estratégia de defesa do governo. “Se estão presos por suspeita de corrupção, cadê os prefeitos? Corromperam quem?”.

Os evangélicos também deram o tom de comparação com escândalos de corrupção em governos do PT, estratégia que o comitê bolsonarista quer emplacar para evitar uma sangria maior. Para eles, não há base para comparação com casos como mensalão e petrolão.

“Bolsonaro tem que fazer do limão uma limonada, é só saber comunicar. No meu governo a gente afasta e vai preso, no do PT tentavam dar imunidade, nomear como ministro, como aconteceu com Lula”, cita Sóstenes, em referência à tentativa de nomeação dele para a Casa Civil da ex-presidente Dilma Rousseff, em 2016, barrada durante a Lava Jato.

O deputado disse que cobrou o afastamento de Ribeiro do MEC, mas afirmou que o presidente queria evitar a demissão e que nenhum deputado da bancada evangélica tinha ciência de detalhes do esquema. “Estava claro para mim que aquele Arilton era um pilantra, antes mesmo de o presidente afastar (Ribeiro). Estávamos pressionando, mas não tínhamos detalhes. Ele (Bolsonaro) naquele princípio de lealdade militar tentou contemporizar e só afastou porque ficou insustentável”, disse Sóstenes.

Procurado pelo Estadão, o deputado João Campos (Republicanos-GO), que era aliado dos pastores e foi um dos que abriu portas no governo a eles, inclusive com reuniões no Palácio do Planalto, não quis se manifestar.

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Com informações do Estadão 

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