Por Delmo Menezes

O ano era 1971 e o Brasil estava em pleno regime militar. O país vivia o êxtase da conquista da copa do mundo, com Pelé e companhia. A frase que mais se ouvia na minha querida Santarém-Pará, também conhecida como a Pérola do Tapajós, era: “ame-o ou deixe-o”. Foi neste ano que teve início a construção da rodovia Santarém-Cuiabá (BR-163), que ligaria o Norte ao Sul do Brasil.

alter-do-chaoSantarém é uma linda cidade que fica no oeste do Pará. É banhada pelo rio Tapajós, e suas praias naturais encantam os turistas de todo o mundo. Alguns anos atrás a famosa praia de Alter do Chão, foi escolhida pelo jornal inglês The Guardian, uma das 10 mais bonitas do Brasil, desbancando paraísos incontestes como Fernando de Noronha e Jericoacoara e praias tradicionais do Rio de Janeiro e da Bahia.

Emílio Garrastazu e Mário AndreazaAinda muito criança, me lembro da visita do presidente militar, Emílio Garrastazu Médici, à cidade de Santarém, para acompanhar de perto o início das obras da Rodovia de Integração Nacional como ficou conhecida a BR-163.

Na época, o prefeito local mandou passar um “piche” (asfalto em estado líquido), na avenida Rui Barbosa e outras das quais não me recordo os nomes, onde deveria passar a comitiva presidencial. Com uniforme escolar ao lado de centenas de crianças e adolescentes, lá estava eu com uma bandeirinha do Brasil, acenando bravamente durante a passagem da comitiva. A intenção dos políticos da região, era impressionar os militares, mostrando que o povo de Santarém estava dando todo apoio ao regime.

BR-163-8º becO êxodo do Sul para Santarém (norte), iniciado pelo 8º Batalhão de Engenharia e Construção (8º BEC), foi motivo de festa na cidade por vários dias. O 8º BEC, ficaria responsável em dar manutenção e iniciar o processo de construção da rodovia BR-163 – Santarém-Cuiabá, no trecho até a Serra do Cachimbo na divisa com o Mato Grosso. O trecho Cuiabá-Cachimbo, ficou na responsabilidade do 9º BEC. Com 1.780 km de extensão, a rodovia fazia parte do Plano de Integração Nacional (PIN).

O tema / slogan do regime militar na época era: “Integrar para não Entregar”!

Juntamente com a Transamazônica, a rodovia Santarém-Cuiabá, seria de grande relevância, pois daria início a ocupação da Amazônia e iniciaria o processo do “êxodo” do Sul para o Norte do país. O sonho dos paraenses parecia que finalmente se tornaria realidade, com a inauguração da BR-163, em 20 de outubro de 1976, pelo então presidente Ernesto Geisel. A inauguração ocorreu, quando os homens do 9º BEC encontram o 8º BEC na região sul do Pará, após cinco anos de trabalhos.

Durante todos estes anos, muito se falava que a BR-163 finalmente iria ser asfaltada. Porém, entra governo e sai governo, e a situação no trecho do Estado do Pará, só se agrava, tornando praticamente intrafegável durante o inverno amazônico, a passagem de automóveis e transporte de carga.

Balsas-rio amazonasComenta-se pelos mais antigos moradores de Santarém, que durante muitos anos as Balsas que faziam o transporte fluvial pelo Rio Amazonas, de Belém até Manaus, eram de propriedade de políticos da época (deputados, governadores e senadores), e que eles não teriam nenhum interesse no asfaltamento da BR-163, pois seus lucros ficariam prejudicados.

Passados 41 anos, aquele sonho de centenas de paraenses, viria a se tornar um pesadelo na chamada rodovia da Integração Nacional. O assunto ganhou destaque nos últimos dias, com o atoleiro de centenas de caminhões e ônibus às margens da rodovia no trecho do Pará. Parece que agora o atual governo acordou para a realidade de uma das rodovias mais importantes do país.

De acordo com cálculos da Confederação Nacional da Indústria (CNI), com a conclusão do asfalto da BR-163, seria gerada uma economia de R$ 1,4 bilhão/ano, e consolidaria a rodovia para exportação de grãos, via porto de Santarém.

BR-163-3Esta semana a rodovia ganhou projeção nacional e internacional, não pela sua grandeza, e sim pelo estado vergonhoso em que se encontra, com prejuízos aos agricultores na ordem de R$ 350 milhões nesta safra. As cidades de Trairão e Novo Progresso, no Pará, decretaram situação de emergência. Equipes do DNIT estão no local a vários dias tentando liberar a rodovia. Formou-se um engarrafamento de mais de 40 km de extensão, com prejuízos enormes a economia da região. São pelo menos 240 quilômetros de estrada de terra, onde a sinalização é precária e vários atoleiros se formam no período de chuvas. Mais de 4 mil caminhoneiros estão parados a dias aguardando condições favoráveis para seguir viagem.

Nota de repúdio

No dia 15 de fevereiro, a Associação Comercial e Empresarial de Santarém (ACES) manifestou indignação através de uma nota de repúdio a respeito das  atuais condições de trafegabilidade da BR-230 (a Transamazônica) e da BR-163 (Santarém-Cuiabá). A nota diz que estas rodovias, são fundamentais para o escoamento da produção da região oeste do Pará, que anualmente sofrem com as chuvas no inverno amazônico. Ainda segundo a nota, este problema é de conhecimento público e enfrentado há mais de quatro décadas pelo setor produtivo. Um entrave decisivo para o desenvolvimento econômico e social de uma população de mais de 1 milhão de habitantes.

BR-163-atoleiroChegou a hora do governo federal priorizar o asfaltamento total da BR-163, em respeito à população dos municípios da região, que um dia acreditaram que poderiam ter suas vidas melhoradas.

De nada adianta o governo se movimentar apenas no período chuvoso, e depois abandonar a rodovia, como acontece a mais de 40 anos. Falta coragem e determinação de nossos representantes tanto na esfera estadual como na federal, de deixarem a politicagem de lado e pensarem um pouco mais nestas pessoas tão sofridas, que um dia acreditaram que seus sonhos se tornariam realidade.

 Da Redação do Agenda Capital

3 COMENTÁRIOS

  1. HAJA POVINHO PETISTA MALDITO. EM APENAS 1 ANO DE GOVERNO TEMOS TANTAS COISAS BOAS A COMEMORAR E AGRADECER. FICAM COM ESSAS HISTÓRIAS DE QUE DILMA FEZ 97% DESSA ESTRADA. GENTE MENTIROSA E SAFADA. DOIDO É QUEM AINDA ACREDITA NESSA CAMBADA.

  2. EU NAO SOU DESSA ÉPOCA,MAS MORAVA EM RIB PRETO SP E FIZ MUITAS E MUITAS VIAGENS DE OITENTA E OITO A NOVENTA E QUATRO. NA SECA VINHAMOS POR MT ONDE ERA SÓ PINGUELAS DESCARREGAVAM OS EM SANTAREM E CARREGAVAM OS EM SANTAREM DE CIMENTO PARA MARABA.ONDE DEPOIS CARREGAVAM PARA SP.E SAIAMOS NO GUARAÍ OU IMPETATRIZ ONDE ESTAVA MELHOR..JA CHEGAMOS A RODAR POR SETEBTA E DOIS DIAS ATÉ SAIR NA BELEM BRASILIA..RECURSOS ERA QUASE NADA.COMUNICAÇAO QUASE ZERO.MAS ESTAMOS AQUI PARA TESTEMUNHAR O QUE JA PASSAMOS NESSA 163 E TRANSAMAZONICA..

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