Governador eleito de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM). Foto: Reprodução

Em entrevista ao Correio, o governador eleito de Goiás, senador Ronaldo Caiado (DEM), fala em implementar uma secretaria para tratar da região

Por Redação

Em quase três décadas de vida pública, Ronaldo Caiado (DEM), governador eleito de Goiás, assumirá, pela primeira vez, um cargo no Executivo. A partir de 1º de janeiro, comandará o nono estado mais rico do país e precisará lidar com um rombo de R$ 7 bilhões nos cofres públicos. 

Ronaldo Caiado adianta que o número de secretarias deve ficar entre 18 e 19, e garante que uma delas será para tratar de assuntos do Entorno, em parceria com o governador eleito do DF, Ibaneis Rocha (MDB). Também não nega apoio ao presidente eleito, Jair Bolsonaro. “No que depender do meu governo, ele terá um bom mandato”, pondera. Confira a seguir os principais trechos da entrevista.

Leia a íntegra da entrevista:

Após 20 anos de Goiás sob o controle do PSDB, o senhor colocou fim à era Marconi Perillo. O que isso significa?

A palavra mais frequente na campanha foi o apelo pela mudança. É impressionante o quadro de estafa do goiano. Sei da minha responsabilidade. Não se resolve os problemas de um estado do tamanho de Goiás de uma hora para outra, mas vou me dedicar com toda experiência e relacionamentos que tenho e buscar parcerias, seja na iniciativa privada, no Sistema S, seja nas instituições sem fins lucrativos e com governadores para acabar com essa vivência inquieta que as pessoas têm tido graças à omissão dos governos.

Como tem sido a transição entre o senhor e Perillo?

Está indo de forma muito lenta. A complexidade de Goiás é que nunca houve uma transição. O governo atual ficou 20 anos no poder e ficou passando para seus aliados. É um processo inédito. Estou tentando fazer diagnósticos, aprofundar informações e, ao mesmo tempo, planejar ações e definir metas. Uma preocupação é que precisamos encontrar uma forma rápida para quitar a folha de pagamento de dezembro. Não podemos deixar de priorizar o pagamento dos salários.

Como será a sua relação com o presidente eleito Jair Bolsonaro?

A melhor possível. Já estive com ele várias vezes, tivemos a oportunidade de conversar sobre segurança pública, sobre presídios, sobre os problemas fiscais, sobre educação, onde foi colocada uma pessoa extremamente qualificada. Estive com o presidente no dia da indicação do (futuro ministro da Saúde) Luiz Henrique Mandetta. Tenho um bom relacionamento com ele e vou trabalhar o máximo possível apoiando o governo dele para que tenha excelentes resultados.

O partido do senhor, o DEM, ganhou três ministérios na nova gestão. Pode ser um facilitador para o estado de Goiás?

De maneira alguma. As pessoas são filiadas ao DEM, mas são indicadas sem nenhuma influência partidária. As indicações têm sido feitas por uma escolha pessoal do presidente ou por elas congregarem ideias com os setores que vão administrar. Não há indicação partidária.

Ainda não foi divulgado o secretariado de sua gestão. Há dificuldades em encontrar nomes?

Cada governante tem seu estilo. Prefiro fazer uma análise mais detalhada, buscar as  informações das pessoas, avaliar o perfil. Isso não é simples. Quanto mais se aprofunda na busca, mais acertados são a escolha e os resultados. Quero ter um secretariado bem articulado, com bons gestores e metas, onde faremos avaliação de dois em dois meses para saber o que está funcionando e o que não está.

Quantas secretarias o senhor pretende manter?

Entre 18 e 19. Estou terminando esse organograma e recriando as que são importantes.

Esse número é maior que as 13 existentes hoje…

O que aconteceu foi a fusão de secretarias, criando superpastas que entraram em colapso. As pessoas não cuidavam mais de suas áreas, não tinham conhecimento das que foram agregadas, ninguém se entendia. Tivemos áreas importantes dentro de uma fusão, acreditando que isso poderia trazer resultados de economia, o que não aconteceu. A verdade é que diminuiu a eficiência das secretarias. Temos o absurdo de haver cinco secretarias extraordinárias para controlar articulações políticas. Isso é errado. Secretaria é para ter metas, não para vincular problemas políticos.

Seus indicados terão perfis mais técnicos ou políticos?

Pretendo ter pessoas tecnicamente qualificadas para que elas possam discutir com um ministro da Economia, um secretário do Tesouro, com boa articulação. Toda ação de governo é política, mas as secretarias devem atuar para chegar em forma de ações para a população. Essas pessoas devem entender do tema que estão tratando.

Algum nome já escolhido?

Ainda não foi batido o martelo final.

Como sua experiência no Congresso vai pautar o governo de Goiás?

Ela me trouxe um conhecimento amplo dos poderes. É preciso ter diálogo para que se possa construir algo. Vou usar da credibilidade dos meus pares na Câmara e no Senado, nos partidos de oposição, utilizar o que eu construí para trazer benefícios ao povo de Goiás. Saberei manter o diálogo com a Assembleia Legislativa. Ninguém governa sozinho.

Goiás terá deficit orçamentário estimado em R$ 7,4 bilhões em 2019. Como equilibrar as contas públicas?

Eu defendo a diminuição percentual de incentivos fiscais para empresas. Faremos isso dentro de um estudo, avaliada cada cadeia produtiva, sem tirar a capacidade competitiva do estado, mas tentando trazer uma arrecadação a mais de ICMS.

Isso não espantaria o empresariado do estado?

Com o passar dos anos, o estado entrou em colapso por completo. Estou analisando cada cadeia produtiva para definir as novas alíquotas. Goiás continuará com as melhores condições de atração de empresas no país. Nada tira isso do estado. Estamos apenas calibrando.

O Entorno vive décadas de abandono por diversos governos. Como ficará a situação  da região no seu governo?

Vou assumir essa luta. Criarei uma secretaria do Entorno, com uma política direcionada para a região. Enfrentaremos a violência, o baixo índice de escolaridade e a falta de saúde. Vou buscar uma parceria com o governador eleito do DF, Ibaneis Rocha, como já temos conversado. Queremos atingir o maior número de resultados sem criar nenhuma queda de braço, mas sim  um movimento de fortalecimento das nossas ações para trazer resultados rápidos. Vou depender de Brasília. Ele já se comprometeu a atuar no Entorno.

Quais as atribuições da secretaria?

Todas as áreas mais sensíveis serão tratadas de maneira mais objetiva. A atuação será nas cidades com alto índice de violência, com consumo de drogas, com evasão escolar, falta de emprego. Também o transporte, que está em colapso, e as condições de saúde.

Essa parceria com o DF será também financeira?

Sim. Será uma luta conjunta minha com o Ibaneis. Com o nosso peso político e tendo sintonia nas ações, os resultados serão mais eficientes.

Está mantida a construção de três presídios de segurança máxima em Goiás?

É um compromisso meu. Já avancei muito nas conversas com a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, e com o presidente eleito, Jair Bolsonaro. Levei o assunto ao futuro ministro da Segurança, Sérgio Moro, e ao general Augusto Heleno (que assumirá o Gabinete de Segurança Institucional). A minha preocupação é não deixar que os nossos jovens, principalmente nas regiões mais carentes, sejam cooptados por facções criminosas. Temos que devolver à sociedade a liberdade. E, aos criminosos, a certeza de que eles terão a mão forte do governo e a presença do estado em cada região.

Essas obras custariam quanto?

No momento, não tenho como definir os custos, mas ações para a implantação já estão sendo tratadas. Estou trabalhando para que pelo menos uma seja construída rapidamente.

A saúde do estado está bastante comprometida. O que é possível fazer? 

A saúde do goiano está em colapso total, completo. A população está desassistida. Hoje, não se tem insumos básicos. É impressionante. Os governos não fizeram a regionalização da saúde e implantaram a “ambulância-terapia”, que é levar os pacientes pelo estado. As pessoas do norte do estado, no Oeste Goiano, no Vale do Araguaia, por exemplo, têm que se deslocar até Goiânia, Brasília, para conseguir atendimento. Sabemos que existem situações que não permitem isso. Minha ideia é instalar policlínicas, num primeiro momento, depois hospitais regionais.

Segundo o Tribunal de Contas do Estado, a previdência goiana tem rombo de mais de R$ 2 bilhões. Como resolver esse problema?

Temos que encontrar alternativas. Isso é uma retirada direta de recursos. Acredito que não há como, assim como na União, permanecer sustentável sem uma reforma. A previdência estadual está no limite de arrecadação, não tem como ficar como está. Precisamos alterar as regras para mudar a situação.

Em artigo publicado na Folha de S. Paulo em 2017, o senhor chamou de  “milícia” o MST. 

Como governador, qual será sua relação com o grupo?

Será dentro do que a legislação determina. As regras deverão ser cumpridas por todos os cidadãos, independentemente de suas ligações com movimentos políticos, partidos, sindicatos.

Da Redação com informações do Correio

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