Polícia russa monta guarda durante protesto contrário à invasão russa na Ucrânia, ocorrido no dia 27 de fevereiro em Moscou. Opositores estão sendo ameaçados de prisão e chamados de escória na Rússia Foto: Evgenia Novozhenina / Reuters

Putin diz que Rússia vai ‘cuspir’ opositores e sociedade vai se tornar ‘lugar melhor’. Mensagens são enviadas em forma de pichação, ameaças de prisão e demissão

Por Redação

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, enviou um recado ameaçador para os russos opositores à guerra, que ele considera “traidores”, nesta quarta-feira, 17. As mensagens afirmam aos opositores que eles estão sendo usados pelo Ocidente como uma “quinta coluna” para destruir a Rússia, e que os russos seriam rapidamente capazes de distinguir “os patriotas da escória”.

Segundo os relatos de ativistas, as ameaças foram transmitidas através de pichações, ameaças de prisão e demissão de funcionários contra a guerra. Dmitri Ivanov, um ativista de Moscou, afirmou que a mãe encontrou um grafite na porta do seu apartamento que diz: “Não traia a pátria!”

O grafite trazia vários das marcas utilizadas por Moscou para ganhar apoio ao que chama de “operação militar especial” na Ucrânia, com o objetivo de desarmar e ‘desnazificar’ o país. As marcas pichadas são encontradas em veículos blindados e tanques russos que estão na Ucrânia.

Ivanov, que protestou contra a guerra, disse que não tem ideia de quem está por trás do grafite, mas que ele sabia de pelo menos outras três pessoas, incluindo um jornalista, que tiveram as residências alvo das mesmas marcações na noite desta quarta-feira, 17. “Eu não sei seus objetivos: assustar, não assustar ou somente estragar o humor. É difícil nos assustar com essas ações: estamos acostumados com esse tipo de recado”, disse o jovem de 22 anos à Reuters.

“É possível que esta ação tenha sido para complementar o discurso de Putin. Eu acho que isso é possível, especialmente considerando o quão de má qualidade e barata essas marcações foram feitas, e às pressas”, continuou.

Milhares de pessoas foram detidas em toda a Rússia desde que o Kremlin invadiu a Ucrânia, no dia 24 de fevereiro.

Presidente Vladimir Putin se reúne com ministros nesta quarta-feira, 16, e fala sobre guerra na Ucrânia. Saída de russos opositores do país é chamado de “autolimpeza” pelo presidente Foto: Mikhail Klimentyev/Sputnik via REUTERS

Autolimpeza

Durante uma reunião com os ministros nesta quarta-feira, 16, o presidente Vladimir Putin disse que os russos iriam cuspir os traidores “como mosquitos” – e que a sociedade iria se tornar melhor por isso. “Estou convencido de que esta autolimpeza natural e necessária da sociedade só fortalecerá nosso país, nossa solidariedade, coesão e prontidão para enfrentar qualquer desafio”, declarou.

Questionado sobre os comentários nesta quinta-feira, o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, disse que muitas pessoas da Rússia estavam se revelando traidoras. “Elas estão desaparecendo de nossas vidas. Algumas pessoas estão deixando seus cargos, alguns estão deixando sua vida ativa no trabalho, saem do país e se mudam para outros lugares. É assim que a limpeza acontece”, disse.

Após a declaração de Putin, na quarta-feira, o Comitê de Investigação, um órgão de execução russo, afirmou que um blogueiro está em investigação por espalhar “informação falsa” sobre o exército russo em seu blog. Essa prática é crime na Rússia desde o dia 4 de março, quando uma onda de protestos contra a invasão foi registrada, e é punível com até 15 anos de prisão.

Também depois da fala de Putin, um membro sênior do partido governista pediu a demissão do ex-vice-primeiro-ministro Arkadi Dvorkovich da posição de chefe de uma fundação que promove a inovação econômica. Dvorkovich condenou a guerra em uma entrevista para a mídia do Ocidente.

“Ele fez sua escolha”, disse o parlamentar russo Andrei Turchak. “Isso nada mais é do que a própria traição nacional, o comportamento da quinta coluna, sobre a qual o presidente falou hoje.”/REUTERS

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