Dr. Gutemberg Fialho, presidente do Sindicato dos Médico do DF (SindMédico-DF) e da Federação Nacional dos Médicos (Fenam). Foto: Agenda Capital

Por Dr. Gutemberg Fialho*

Em uma vistoria feita no Hospital da Região Leste (HRL), no Paranoá, na quinta-feira (18), verificamos que o isolamento para pacientes de Covid-19 internados na emergência da unidade ainda tem falhas. Até aquele dia, as enfermarias de adultos e crianças internados por outras doenças era separada da internação por Covid-19. No Distrito Federal os casos de Covid-19 chegam a 33 mil casos.

Na China, de 23 de janeiro a 3 de fevereiro, foi erguido do nada e entrou em funcionamento o Hospital Huoshenshan, em Wuhan, com 400 leitos e todo o suporte. O nosso HRL em 13 leitos e não tem condições de dar assistência a pacientes mais graves. E não é o único. A condição desse hospital não é muito diferente das demais unidades de saúde do DF, nas quais os espaços de isolamento e o fluxo de pacientes entre Áreas contaminadas e livres do novo coronavírus continuam sendo inadequados. Algumas obras foram feitas para adaptar espaços, mas nem tudo foi concluído.

O próprio hospital de campanha do Estádio Nacional Mané Garrincha teve obras iniciadas em 11 de abril e começou a funcionar em 22 de maio com a metade da capacidade. Um projeto com apenas 24 dos 197 leitos com respiradores, apesar da necessidade de mais desses equipamentos ser patente. Nesse caso, o amadorismo se mostra na elaboração e aprovação do projeto.

Amadorismo, improvisação e demora têm sido as marcas na maioria das ações de enfrentamento à pandemia da Covid-19 no DF, a cargo da Secretaria de Saúde. Não fosse o isolamento social e o fechamento do comércio decretados precocemente, o esperado colapso do sistema já teria ocorrido.

Agora coma retomada da atividade econômica, não há mais tempo para isso. As adaptações têm de ser concluídas em todas as unidades de saúde, tanto as estruturais para áreas de isolamento e o mapeamento de fluxo de pacientes, quanto as ações para capacitar e garantir a segurança das equipes: treinamento, testagem e fornecimento de material de proteção individual (EPI’s), com quantidade e qualidade necessárias.

Em todas as unidades de saúde circulam portadores do novo coronavírus, sintomáticos ou não. E todos os hospitais e UPA terão leitos ocupados por pacientes infectados pelo novo coronavírus. Alguns fatos indicam, no entanto, que a máquina da saúde ainda emperra: os testes quinzenais dos profissionais de saúde não estão sendo feitos, apesar de serem previstos em lei. Os serviços de limpeza predial das unidades não foram reforçados e até pioraram depois da mudança da empresa que presta o serviço.

Os profissionais estão cada vez mais sob pressão, com o aumento dos casos de contaminação (tanto de pacientes, quanto entre trabalhadores de saúde) e remanejamento para atuação sem treinamento em atividades com que não estão habituados. Esse esforço tem de ter contrapartida à altura das autoridades.

Os passos primordiais a serem dados nesse sentido são a conclusão das adaptações pendentes, a regularização do fornecimento dos equipamentos de proteção individual, a cobrança por melhoria nos serviços terceirizados de limpeza, a regularidade na testagem dos profissionais de saúde, e o devido ajuste no percentual da gratificação de insalubridade.

*Dr. Gutemberg Fialho – Médico ginecologista e obstetra, atua em perícias médicas e detém o registro da Ordem dos Advogados do Brasil, com especialização em direito médico. É membro titular da Academia de Medicina de Brasília, presidente do SindMédico-DF e presidente da Federação Nacional dos Médicos (Fenam). Colunista semanal do Agenda Capital.

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