Dr.Gutemberg Fialho, presidente do Sindicato dos Médicos do DF e da Federação Nacional dos Médicos. Foto: Agenda Capital

Por Dr. Gutemberg Fialho*

O desenvolvimento de um tratamento para uma doença depende de estudos conduzidos de forma controlada, com número de pacientes expressivos, dividido em grupos de controle, uns recebendo determinada medicação, outros não.

A cloroquina e a Hidroxicloroquina, apontadas para uso no tratamento da covid-19 estão em estágio de avaliação. Nada justifica o uso delas ter virado motivo de disputa política e de comoção pública.

Lutando contra o relógio, a Organização Mundial da Saúde – OMS está promovendo estudos clínicos a ser adotada, num esforço global coordenado. De início, quatro medicamentos estão sendo estudados: Além da Cloroquina e da Hidroxicloroquina, estão na lista o Remdesivir, a combinação Liponavir e Ritonavir e a Interferon Beta.

Pouco se fala dessas três últimas possíveis terapias ou de outras, como o uso do plasma sanguíneo de pacientes já recuperados (pesquisado na USP, aqui no Brasil), o antiviral Atazanavir (pesquisado pela Fiocruz) ou o Favipiravir (desenvolvido no Japão).

Não é de hoje que situações como a que estamos vivendo promovem discórdia e disputas, além do medo e dos problemas em saúde em si.

Na época da Gripe Espanhola, um século atrás, a medicina científica, que então ganhava força, defendia a aplicação do quinino, usado contra a malária. A medicina popular recomendava um preparado de limão macerado, mel, alho e um tanto de cachaça, que mais tarde ficou conhecida com a caipirinha. Nenhum dos dois foi a cura.

No futuro pode ser que venhamos a achar a defesa feita hoje de uma ou de outra terapia contra a Covid-19, algo tão esdrúxulo quanto soa termos lutado contra a Gripe Espanhola com caipirinha. Tenhamos em mente uma verdade científica: “Para todo problema complexo, existe sempre uma solução simples, elegante e completamente errada”.

O desenvolvimento da terapia é feito em fases, desde a escolha da droga a ser testada, definição de dosagem, a interação com outros medicamentos e a resposta de pessoas com diferentes perfis.

Não há garantias de que algum dos medicamentos estudados seja validado. A cura pode vir de uma pesquisa distante dos holofotes sem pressão dos interesses políticos-ideológicos, alheia às opiniões e crenças populares.

Não existe um elixir mágico que vá cair do céu para nos salvar. E se esse o pensamento nos conduz na busca da terapia, estamos lutando as pandemias fazendo caipirinha.

A paciência e o bom senso devem ser nossos escudos nesse momento.

*Dr. Gutemberg Fialho – Médico ginecologista e obstetra, atua em perícias médicas e detém o registro da Ordem dos Advogados do Brasil, com especialização em direito médico. É membro titular da Academia de Medicina de Brasília, presidente do SindMédico-DF e presidente da Federação Nacional dos Médicos (Fenam). Colunista semanal do Agenda Capital.

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