Uma das primeiras quedas de braço, capaz de impactar a corrida presidencial, é pelo comando da Câmara e do Senado. De olho na recondução, Bolsonaro definirá, até março, um partido para se filiar. Enquanto isso, PT e PSol buscarão demarcar território

Por Wesley Oliveira

Distantes no horizonte para a maioria dos brasileiros, as eleições presidenciais de 2022 já estão no radar do jogo político e tendem a turbinar, ainda mais, as negociações do Executivo e do Legislativo neste ano. O primeiro embate para medir as forças começa em 1º de fevereiro, com o pleito para as presidências da Câmara e do Senado.

De um lado, Rodrigo Maia (DEM-RJ) busca fazer de Baleia Rossi (MDB-SP) seu sucessor no comando da Câmara, ancorado num bloco de partidos reforçado pelas legendas de oposição. Do outro, Arthur Lira (PP-AL) ambiciona o cargo, com o apoio do Palácio do Planalto.

Após presidir a Casa por quase cinco anos, Maia acredita que elegendo Baleia Rossi manterá o controle da pauta legislativa, podendo fazer frente ao Executivo. Nos bastidores, o parlamentar vem articulando uma candidatura de centro para fazer oposição ao presidente Jair Bolsonaro em 2022. Para isso, já se aproximou do governador de São Paulo, João Doria (PSDB); do ex-governador do Ceará Ciro Gomes (PDT); do governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB); e até do apresentador de tevê Luciano Huck. Recentemente, o democrata afirmou que seu principal foco será a construção dessa frente, voltada a 2022, quando deixar o comando da Câmara.

Na visão do professor Arnaldo Mauerberg Junior, do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília (UnB), as eleições das Mesas Diretoras do Congresso serão determinantes para influenciar as alianças futuras. “Se o Lira ganhar, Bolsonaro pode avançar com suas pautas conservadoras e ter um capital para apresentar ao seu eleitor. No caso do candidato do Maia, a pauta da Câmara vai fluir conforme a vontade da Casa, e isso pode não ajudar o governo”, explica.

Na esteira das movimentações de Maia, Bolsonaro marcou, para o primeiro trimestre deste ano, a definição de um partido para se abrigar e começar a desenhar a candidatura à reeleição. Depois de deixar o PSL, o chefe do Executivo tentou criar o Aliança pelo Brasil, mas a legenda ainda não saiu do papel. Por isso, ele deve se filiar a uma sigla já existente.

Conforme avaliação de pessoas próximas ao presidente, a falta de um partido acabou prejudicando os candidatos bolsonaristas nas eleições municipais do ano passado. Sem o Aliança, esses postulantes acabaram pulverizados em outras siglas, e por isso, não tiveram o desempenho esperado.

No radar de Bolsonaro está o PTB, comandado por Roberto Jeffersson; o Republicanos, que já conta com a filiação de dois filhos do presidente — o senador Flávio Bolsonaro (RJ) e o vereador Carlos Bolsonaro (RJ) —; e o PP, responsável por liderar o Centrão no Congresso. Caso Arthur Lira vença a disputa pelo comando da Câmara, o PP ganha mais peso na decisão de filiação do chefe do Executivo. O partido foi um dos que mais cresceram nas eleições municipais, tornando-se a segunda sigla em número de prefeitos (685) e vereadores (6.346) — só inferior ao MDB, com 784 e 7.335, respectivamente —, o que garantiria palanque para Bolsonaro em diversas regiões do país.

Presidente nacional do PP, o senador Ciro Nogueira (PI) afirma que a sigla seria unificada no projeto de reeleição do comandante do Planalto. “Eu já manifestei o convite e seria uma honra ter Bolsonaro no nosso partido. Praticamente 99% do PP têm identificação com o presidente, então, se isso ocorrer, unificaria a legenda no projeto de reeleição em 2022”, admite.

Como parte da esquerda está flertando com as alianças de Maia, siglas como PT e PSol vão buscar, neste ano, uma demarcação de território maior na oposição. Enquanto o partido do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva vê o seu capital político ruir pela falta de novas lideranças, o PSol tenta dar musculatura para Guilherme Boulos (SP) ampliar o capital político obtido com a expressiva votação que teve nas eleições para a Prefeitura de São Paulo — no primeiro turno, recebeu quase 1,1 milhão de votos; no segundo, 2,1 milhões.

Para Marcelo Senise, especialista em marketing político e digital, a estratégia de antecipação do cenário político está se dando, justamente, pela falta de novos líderes e pelo amadurecimento do eleitor. “A eleição municipal foi um espelho do que poderá ocorrer em 2022. Nas próximas eleições, o candidato não poderá ser apenas antiPT ou antiBolsonaro, pois o eleitor não vai aceitar isso. Então, é preciso construir o ambiente eleitoral desde já”, destaca.

Moro peca na articulação

Enquanto nomes tradicionais vão ganhando espaço com os acordos, o ex-ministro da Justiça Sergio Moro perde capital. O ex-juiz ganhou projeção nacional após julgar os processos da Lava-Jato, mas deixou o governo acusando Bolsonaro de tentar interferir na Polícia Federal e vem perdendo fôlego nos últimos meses.

Atualmente, Moro é descartado tanto pela esquerda, liderada pelo PT, quanto por parte da direita, de Bolsonaro. O ex-ministro também não tem penetração no grupo liderado por Rodrigo Maia.

Para Arnaldo Mauerberg, apesar de ter ganhado popularidade, Moro sempre foi um candidato inviável pela falta de articulação política. “Ele surfou numa popularidade que já passou. Eu o vejo como um candidato inviável para o Executivo; talvez, tenha chances para uma vaga no Senado. Ele não tem as habilidades políticas necessárias para construir uma candidatura à Presidência”, avalia.

No fim do ano passado, veio à tona articulações para uma eventual chapa formada pelo ex-ministro da Justiça Sergio Moro e pelo apresentador Luciano Huck. Num encontro em Curitiba, os dois teriam dado largada para a corrida ao Planalto. O comunicador aparece como principal opção para vice em uma chapa, em razão do poder de influência e do nível de engajamento político que vem ganhando desde 2018, quando pensou em se lançar à Presidência.

A intenção de Moro é criar uma alternativa de centro ao presidente Jair Bolsonaro, representante da direita, e à esquerda, conduzida pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seus apoiadores. Com as negociações, Huck chegou a almoçar com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). O deputado seria uma peça-chave para ampliar a articulação e conseguir apoio no Congresso e nos estados. Antes do encontro, porém, Maia declarou que a chance “é zero” de dar respaldo a uma eventual chapa que tenha Moro.

“Não posso apoiar uma chapa integrada por alguém de extrema direita”, justificou, em entrevista à Folha de S. Paulo. As informações davam conta, ainda, de que o ex-juiz da Lava-Jato também se articula com outros possíveis apoiadores, como Luiz Henrique Mandetta (DEM), ex-ministro da Saúde, e com o governador de São Paulo, João Doria (PSDB).

Com informações do Correio

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here