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Como aumentou a importância do futebol na renda da Globo

Por Rodrigo Mattos*

As mudanças no cenário de consumo de conteúdo em televisão e internet aumentaram a importância financeira dos campeonatos do futebol para a renda da Globo. Esse processo ocorreu nos últimos quatro anos por conta de quedas de verbas publicitárias pela crise econômica, concorrência de outras plataformas e aumentos de custos da empresa. Em compensação, o futebol na emissora teve crescimento no patamar de receitas, embora também com aumento de gasto.

Para entender o cenário, é primeiro preciso mostrar os números financeiros gerais do grupo Globo. Em 2014, a empresa tinha receita total de R$ 16 bilhões. Esse número vem caindo e ficou em R$ 14,7 bilhões no balanço no ano passado. Um relatório do grupo para credores prevê que, em 2019, a renda deve ser ainda menor de R$ 13 bilhões.

Essa redução ocorreu junto com o aumento dos custos para produção de conteúdo exclusivo e próprio e para adaptação às novas tecnologias. Como consequência, o lucro caiu. Era de R$ 1,8 bilhão em 2017 e caiu para R$ 1,2 bilhão no ano passado. E, segundo o relatório a credores sobre 2019, há previsão de queda do Ebitida do grupo (índice que avalia a saúde financeira da empresa ao medir o lucro antes de juros, impostos e depreciação).

Mas o futebol não teve queda de receita, e sim aumento. Houve crescimento do valor do pacote publicitário de TV Aberta, da arrecadação com pay-per-view em comparação há quatro anos e surgiu a renda de novos produtos como o Cartola. Só com TV Aberta e ppv a renda é próxima de R$ 3 bilhões. E ainda há o Sportv, uma das maiores fontes de renda do futebol do grupo Globo, que tem pacotes publicitários de seis cotas como a Aberta e taxa paga por operadoras de TV Fechada.

Em contrapartida, houve um crescimento dos valores pagos por direitos de transmissão. Em 2016, a Globo gastava em torno de R$ 1,3 bilhão pelos direitos de todas as competições e, agora, o valor levantado pelo blog é de R$ 2,1 bilhão. Aliado a isso, internamente, a emissora alega que houve considerável aumento dos custos de operação para transmissão. Vamos aos números para entender como o futebol cresceu financeiramente dentro das contas da emissora.

O blog fez perguntas à Globo sobre a participação do futebol em suas finanças e publicará as respostas assim que recebe-las.

Receita do Futebol

TV Aberta – O pacote publicitário do futebol tem seis cotas e foi vendido para a temporada 2019 por R$ 310 milhões cada. Ou seja, no total, a emissora ganha com propaganda em TV Aberta R$ 1,860 bilhão por ano. Em relação a quatro anos atrás, houve um acréscimo de R$ 400 milhões na arrecadação total. Ainda há um percentual de publicidade para afiliadas e novo campo de publicidade inserida durante o jogo como ocorreu recententemente com o IFood.

Pay-per-view – Um relatório mensal de pay-per-view do Brasileiro indicou uma arrecadação mensal média de R$ 157 milhões durante a competição em 2019. No total, isso daria R$ 1,9 bilhão por ano. Mas, nos meses de dezembro a março, costuma haver uma debandada de assinantes durante Estaduais e período de férias. Ou seja, o total estimado para o ano é de R$ 1,7 bilhão segundo quem participa do mercado de ppv. Desse total, R$ 1,050 bilhão fica para a Globo, enquanto o restante de R$ 650 milhões é distribuído para os clubes. Há três anos, a emissora ficava com R$ 700 milhões por ano, isto é, o valor subiu.

Sportv – O canal de TV é carro-chefe do pacote oferecido pela Globosat para as operadoras de TV a cabo. Em processo no Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), em 2015, SBT, RedeTV e Record informavam que 32% da audiência do mercado de TV Paga era da Globosat. E alegavam que a Globosat recebia R$ 20,00 por assinante.  Considerando apenas a inflação, esse valor já subiu R$ 23,00.

Houve, no entanto, uma queda no número de assinantes pagos de 20 milhões para 17 milhões. Mesmo que 2 milhões não tenham os canais Globosat, isso daria R$ 4 bilhões de renda pelos canais Globosat. Com sete das 10 maiores audiências na TV Paga, o Sportv é responsável por boa parte dessa renda. Além disso, o canal de esportes tem também pacote publicitário vinculado ao futebol com seis empresas atualmente.

Custos de de direitos de transmissão

A Globo passou por pesadas disputas de direitos de transmissão no futebol. Por isso, houve aumento dos seus gastos com direitos em um total de R$ 700 milhões nos últimos quatro anos. Vamos aos valores pagos pela emissora por campeonato:

Brasileiro – R$ 925 milhões – TV Aberta e Fechada – A proposta da emissora era de R$ 1,1 bilhão por todos os direitos, mas a Turner ficou com sete clubes na Fechada, por isso, o custo menor do que o previsto.

Copa do Brasil – R$ 340 milhões – contrato com a CBF para todas as mídias.

Brasileiro Série B – R$ 180 milhões

Libertadores (Sportv e Globo) – R$ 270 milhões (US$ 65 milhões)

Estaduais Paulista/Carioca/Mineiro e Gaúcho – R$ 350 milhões somados todos

Custos de produção

Há a informação interna na Globo de que houve considerável aumento de gastos com produção de eventos nos últimos. Isso faz sentido se lembramos que houve investimento em alta definição nos últimos anos, o que envolve a compra de equipamentos de alto padrão. Mas os custos de operação ainda assim são menores do que os de aquisição de direitos.

A emissora transmitia, em 2016, 1700 jogos por ano, número que não mudou tanto agora. Em 2018, o blog apurou que a tabela para produtores independentes da Globo mostrava um custo de produção por jogo entre R$ 22 mil e R$ 42,3 mil por partida.  Considerando o valor cheio, e se a emissora tivesse que produzir todos os jogos, seriam R$ 72 milhões por ano.

A Conmebol, por exemplo, já faz toda a produção dos jogos da Libertadores neste ano. Há outros gastos envolvidos com as equipes e deslocamentos de jornalistas para cobertura das partidas que são difíceis de calcular, mas são significativos.

Receita e lucro do futebol

Analisados todos os valores envolvidos, a receita da Globo com o futebol é certamente superior a R$ 4 bilhões. Pode atingir R$ 5 bilhões dependendo do total obtido com o Sportv cujos valores não são precisos por estarem incluídos na Globosat. Isso representa entre 30% e 40% da receita total da emissora.

Em relação à margem de lucro, o futebol tem custos altos pela compras de direitos de transmissão e por manter equipes e produção caras para as transmissões. Mas, pelos números levantados pelo blog, são bem inferiores ao total obtido de receita do futebol. Ou seja, a margem de lucro segue boa enquanto a do restante da emissora caiu.

Puxador de audiência

Além do dinheiro, o futebol ganhou um valor estratégico dentro da Globo. Representa boa parte das maiores audiências da emissora e, portanto, puxa para o alto o restante da programação. Assim como acontece no restante do mundo, os eventos esportivos aumentaram sua relevância porque não são afetados por produtos “on demand” de entretenimento por serem ao vivo. O Campeonato Brasileiro, por exemplo, não concorre com a Netflix, nem com outros serviços por streaming.

*Com informações Blog do Rodrigo Mattos (UOL)

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