Por Ségismar de Andrade Pereira 

É interessante observar no cotidiano da vida como as pessoas pensam que têm o direito de fazer críticas a outras pessoas e ao modo delas ser e se comportar.

Como assim? Por que uma pessoa acredita que sabe definir uma forma adequada de a outra pessoa se portar em um ou noutro espaço?

Não seria de certo modo arrogante pensar que tem em si a autoridade de sair determinando o que é adequado, elegante ou deselegante para o outro?

Recentemente li uma frase de Confúcio (551 a 479 a. C), que dizia: “Quando vires um homem bom, tenta imitá-lo; quando vires um homem mau, examina-te a ti mesmo”.

Nesse sentido há que se pensar, por que é tão fácil ver e apontar as falhas e deselegâncias de outras pessoas?

Antes de criticar o outro talvez eu devesse perguntar-me em primeira mão: por que o comportamento do outro me incomoda tanto? Será que outras pessoas se incomodam da mesma forma que eu? E se se incomodam, será que estão contaminados pelo mesmo vírus que estou (foco na vontade de ser como o outro e/ou de ter o que o outro tem)? Pois se eu encontro facilmente um grupo de pessoas que fazem coro com o meu desejo de criticar insistentemente tudo e todos, talvez eu deva avaliar se não estou dentro de uma epidemia que atingiu, da mesma forma, e pela mesma razão (foco no outro), esse determinado grupo em que estou inserido.

Indagando mais: Não seria arrogante sair distribuindo informações sobre o que se pensa sobre o outro, em nome do bom senso e da elegância, mesmo quando ele não está perguntando?

Mas o que nos leva a agir assim? O que nos impede de aceitar o outro da forma como ele é? Ou pelo menos deixá-lo na indiferença quando ele age de um modo que não concordamos? Temos mesmo que ser a “palmatória do mundo”? Temos mesmo que sair por ai dando aula de como o outro deve se portar para não ser deselegante?

Li ontem, a seguinte frase: “O que você pensa sobre mim não vai mudar quem eu sou, mas pode mudar o meu conceito sobre você”. Antes de qualquer comentário sobre essa frase, quero destacar que quem apresentou esse pensamento é uma pessoa de bem com a vida e que não tem constância no hábito de ser arrogante. Ela tirou essa citação do seriado Dr. House.

Embora a origem dessa ideia seja de um personagem notadamente prepotente, talvez devêssemos nos resignar diante da necessidade de refletir um pouco antes de se entregar ao desejo de começar a tecer críticas à essa ideia. Pois ela nos convida a analisar se de fato devemos sair por ai dizendo as outras pessoas tudo o que pensamos sobre elas. Pois podemos estar falando muito mais de nós mesmos, e de nossos sentimentos invejosos (tão difíceis de serem acessados e aceitos), do que da outra pessoa.

Freud sabiamente disse que: “O homem é dono do que cala e escravo do que fala. Quando Pedro me fala sobre Paulo, sei mais de Pedro que de Paulo”.

E ainda sobre inveja…, às vezes, não conseguimos sublimar nossa angústia e dizer apenas obrigado, quando outra pessoa faz, com competência, algo que gostaríamos de ter feito; quando ela pensa ou diz aquilo que gostaríamos de ter pensado e dito. Assim, por vezes, passamos a criticar, não necessariamente o belo ato da pessoa (pois, às vezes, esse não deixa brechas para críticas), mas sim outros “atos inadequados” que essa pessoa apresenta por não ser perfeita também, assim como nós.

E então, por falar em elegância…, acredito que:

É elegância deixar a outra pessoa ser, e ser como ela é. É saber apenas desconsiderar os atos dela que não precisamos desconsiderar, pois essencialmente não deveria nos atingir.

É elegância ser despretensioso, não achar que sabe quais são todas as intenções da outra pessoa baseando-se em um único gesto dela.

É elegância aproximar-se das pessoas e se permitir conviver com elas, para depois tirar alguma conclusão, ou nunca tirar conclusão nenhuma, apenas conviver.

É elegância não falar demais… fim…

Da Redação

Delmo Menezes
Gestor público, jornalista, secretário executivo, teólogo e especialista em relações institucionais. Observador atento da política local e nacional, com experiência e participação política.

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