Chefe do Executivo pendura a gravata e investe em formato mais informal na esperança de reverter a rejeição perante o eleitorado

Por Ian Ferraz e Denise Costa

Pré-candidato à reeleição, Rodrigo Rollemberg (PSB) não tem medido esforços para manter-se mais quatro anos à frente do Palácio do Buriti. Nos três primeiros meses de 2018, o governador investiu em ações que, embora sutis, não passaram despercebidas por adversários e analistas. Uma delas foi adotar um tom mais informal, tanto no discurso quanto na vestimenta, ao praticamente aposentar a gravata em aparições públicas e em redes sociais. As ferramentas têm um só objetivo: reverter os altos índices de rejeição perante o eleitorado.

A reportagem pesquisou os 42 pronunciamentos públicos que constam na agenda do socialista feitos entre 11 de janeiro e 10 de março, e pediu que especialistas de diferentes áreas analisassem o material. Foram cerca de 26 mil palavras proferidas pelo político.

Na nuvem de palavras-chave, lideram termos como “nós”, “muito”, “estamos”, “mais”, “gente” e “cidade” – todos acima das 100 repetições. Por outro lado, “inaugurar” e “obras” ficam abaixo desse patamar. Do tripé básico presente na ponta da língua de qualquer gestor, Rollemberg falou mais de saúde (79 repetições) do que de segurança (43) e educação (18).

Em 32 dos 42 discursos, Rollemberg evocou a “população”, a qual ele deseja convencer que faz um bom mandato desde 2015. Foram 107 reiterações, sendo 85% delas para destacar benefícios destinados aos brasilienses, como programas sociais. Os outros 15% imputam ações – concretas ou abstratas – voltadas aos moradores do DF, a exemplo da inauguração da Ponte sobre o Córrego Monjolo, que liga o Recanto das Emas ao Gama, em 3 de março.

O socialista também faz uso recorrente da expressão “minha gente”, presente em 29 dos 42 pronunciamentos avaliados. Essa é, talvez, uma das principais características de aproximação com o público e um tiro certeiro de coloquialidade. Além de forte valor identitário, o vocábulo “gente” foi usado para referir-se ao povo do DF e até a críticos de sua gestão.

Outro substantivo feminino – cidade – também é usual. O termo aparece principalmente para destacar que Rollemberg acredita ter melhorado Brasília. Nesse caso, acompanha expressões como “colocar no rumo” e “desenvolver”, além de um tom geralmente carinhoso ao falar “nossa cidade”.

Unidade do CEU das Artes inaugurada em Ceilândia neste sábado (28) fica na QNM 28. Foto: Toninho Tavares/Agência Brasília

Empatia

A estratégia de adequar o discurso não é novidade na política. Por muito tempo, acreditava-se que o então governador Joaquim Roriz cometia erros de português durante os discursos apenas para se aproximar do eleitorado. No entanto, o gestor que governou o DF por quatro mandatos de fato tropeçava no português mesmo fora do palanque.

Já o ex-governador José Roberto Arruda (PR) mudava o jeito de falar de acordo com a plateia que o assistia. Engenheiro, ele apresentava uma oratória impecável em discursos no Congresso Nacional, no período em que foi deputado federal e senador, mas errava concordâncias e conjugações verbais propositadamente quando acreditava estar diante de um público mais humilde. Mudava, inclusive, o sotaque para despertar empatia em quem o assistia.

Análise dos especialistas

Da totalidade dos discursos proferidos nos três primeiros meses de 2018 e das expressões mais repetidas por Rollemberg, especialistas fizeram uma análise dos pronunciamentos.

O cientista político e professor da Universidade de Brasília (UnB) Everaldo Moraes acredita que a estratégia de Rollemberg dificilmente dará certo. Segundo ele, “o último ano serve para dar um brilho nas políticas governamentais e na atuação dos parlamentares”, “não para criar uma imagem ou reverter impressões que podem ter sido construídas no imaginário do eleitor com o passar do tempo”.

Moraes reforça a necessidade do casamento entre uma boa equipe de gestores e um plano de comunicação social eficiente durante todo o governo, não somente às vésperas da eleição.

“De nada adianta, do ponto de vista eleitoral, uma gestão eficiente, equilibrada e honesta que não consegue passar essas qualidades para a população. O marketing eleitoral, por melhor que seja, não reverte um fracasso na comunicação do governo sobre os projetos e os resultados obtidos ao longo dos últimos anos”, avalia Everaldo Moraes, professor e cientista político.

 A incerteza do futuro

Em outra linha, Alexandre Bandeira, mestre em administração pela UnB, especialista em política e diretor da Strattegia Consultoria avalia como arriscada a tática de Rollemberg. Ele cita como exemplo o uso do verbo “fazer”. Em 38 oportunidades – o equivalente a quase 50% do total –, o governador empregou a construção “estamos fazendo” quase o mesmo número de vezes que o termo “fizemos” e em escala superior a “vamos fazer”, locução formulada seis vezes.

“Fazer é futuro. Ao falar dessa forma, no terceiro ano do governo, Rollemberg demonstra que há mais promessas do que ações feitas de fato”, disse.

Já na visão do professor Everaldo Moraes, a postura é natural e “espera-se que os políticos deixem alguma ‘gordura orçamentária’ para apresentar e realizar projetos que possam ecoar durante o período eleitoral”.

Prestação de contas

Doutora em comunicação e semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Paula Piotto aponta que o chefe do Executivo não está apenas em plena pré-campanha, como tem feito uma espécie de prestação de contas. “Rollemberg coloca em circulação alguns valores – saúde, educação, moradia e transporte – e, independentemente da ordem, constrói o discurso da promessa.”

No que concerne ao “nós”, repetido 316 vezes, não há nada de excepcional na visão da especialista, porque, na perspectiva da linguística não se trata da primeira pessoa do plural, e sim de um “eu ampliado”.

Racionamento

Paula Piotto observou também que Rollemberg soube fugir de polêmicas, como a do racionamento, ao tocar pouco no assunto, valorizando outros temas. “A palavra ‘água’ aparece apenas 16 vezes. Na perspectiva de uma análise semiótica, ela está presente nos discursos do governador pela escassez. A água falta duas vezes: nos pronunciamentos e nas torneiras de Brasília, que enfrenta uma crise hídrica importante”, destaca.

Em contrapartida, a palavra “lago” é mencionada 36 vezes. Para a especialista, “ainda que a figura do espelho d’água remeta à substância, não é precisamente a água que está em questão, e sim a Orla do Paranoá, o ‘equipamento público fundamental para a democratização da cidade’, como disse o governador”, acrescenta.

Já o substantivo “recursos” foi proferido 35 vezes. A baixa presença talvez tenha ocorrido pelo mantra de Rollemberg durante o mandato: faltou dinheiro para obras e nomeações devido ao rombo deixado pelo governo anterior, do petista Agnelo Queiroz. Recursos esses que apareceram em janeiro, após alterações no Instituto de Previdência dos Servidores do Distrito Federal (Iprev).

“Há um desajuste de timing. O governador ainda está na expectativa de fazer e realizar, o que deveria ter acontecido no segundo ano do mandato, para chegar no terceiro com a alegação: ‘Eu fiz’. O governador está desajustado com as necessidades de um candidato que quer ser reeleito. A agenda não é muito densa”, pondera Alexandre Bandeira.

A serviço de Rollemberg

A equipe que lida diretamente com os discursos, imagem e divulgação das ações do chefe do Executivo tem aproximadamente 80 pessoas. Ela é composta por profissionais das áreas jurídica, administrativa, financeira, da publicidade, Agência Brasília, de assessoria de imprensa, de redes sociais, entre outros setores.

O planejamento dos pronunciamentos é organizado de acordo com a agenda do governador. Ele costuma receber um briefing de até duas laudas um dia antes das agendas. O texto contém as informações básicas da pauta, reforçado por números de destaque. O político, no entanto, raramente lê ou faz uso dos papéis durante os eventos.

Isso [de não ler os pronunciamentos] é uma coisa dele, que tem uma memória muito boa. Advém da forma como ele administra… Costuma ouvir muito as pessoas e acompanhar de perto os acontecimentos. Se escutar 10 frases, ele pega”, declarou Paulo Fona, secretário de Comunicação do GDF.

 Paletó no cabide

Desde o ano passado, uma das orientações da equipe do socialista é a adoção de um estilo mais despojado. Em 2018, as preces parecem ter sido ouvidas por Rollemberg, que tem deixado o terno mais vezes no gabinete.

Ao menos nos vídeos divulgados em sua página no Facebook, o uso do paletó foi reduzido pela metade se comparados os três primeiros meses deste ano com o período que compreende setembro e dezembro de 2017.

A equipe de comunicação tem reforçado essa orientação e solicitado que o gestor se mostre alegre, direto e adote tom coloquial nos discursos.

O estafe sonha em ver Rollemberg tomando as ruas e menos enclausurado no Buriti. Integrantes do governo avaliam que ele exagera nas horas dentro do Palácio. Ou seja, a orientação é que o político percorra mais o Distrito Federal.

Essas e outras mudanças na Comunicação do GDF ocorreram em fevereiro do ano passado. A dupla Paulo Fona e Gabriel Garcia, atuais secretário e subsecretário da pasta, respectivamente, assumiu a secretaria com a missão de ampliar o diálogo do governo com a população e a imprensa, considerada tímida nos bastidores. Eles são, em boa parte dos casos, responsáveis pela mudança do governador nesse sentido.

Rejeição e adversários

O trabalho por trás do governador é para melhorar a sua imagem. Esforços que têm exigido muito da equipe. Em pesquisa encomendada pelo Metrópoles, o Instituto Dados mostrou que a reprovação ao chefe do Executivo atingiu 73,4% em dezembro de 2017.

Mesmo com esse cenário, o professor Everaldo Moraes acredita ser possível virar o jogo: “A rejeição ao atual governador pode não ser um obstáculo intransponível para a reeleição, mas deixa Rollemberg com pouca margem de erro e com muitos pontos expostos a ataque”.

Porque outros candidatos aparecem com viabilidade? Vemos na imagem do governador uma pessoa que passou três anos sem uma ação muito grandiosa. Se procurarmos uma marca tangível que o Rollemberg está deixando na cidade não conseguiremos indicar. Pode deixar a questão de ter sanado as contas públicas, mas não é uma bandeira forte”, disse Alexandre Bandeira, consultor e assessor em política.

Mesmo com tantos pré-candidatos, avalia o professor Everaldo Moraes, “os adversários dele (do governador) não podem dar como certo que a alta rejeição garantirá um novo nome no Buriti”.

De acordo com o especialista, Rodrigo Rollemberg e sua equipe precisam mostrar que as escolhas feitas durante a gestão socialista foram as melhores dentro do cenário dado. A sorte está lançada.

Da Redação com informações do Metrópoles

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