Moro e Doria. Foto: Reprodução.

Além de Doria, o ex-juiz da Lava Jato se encontrou também com Felipe D’Ávilla, presidenciável pelo Novo.

Por Redação

O governador João Doria (PSDB-SP) e o ex-ministro Sergio Moro (Podemos) estão correndo atrás de alianças para se consolidarem como o nome principal da terceira via entre a centro-direita para as eleições de 2022. Neste primeiro momento, dois procuram partidos com perfis específicos: Doria busca siglas robustas, para fortalecer sua campanha; já Moro foca nos bolsonaristas arrependidos.

Embora considerem que ainda há muita água a rolar, tanto Doria quanto Moro têm encontrado outras lideranças de centro-direita para tentarem compor um grupo mais forte e viabilizar a candidatura. Os índices de rejeição de ambos, no entanto, preocupam os aliados.

Em reunião nesta semana, os dois pré-candidatos concordaram em estar do mesmo lado da disputa, ainda que não na mesma chapa, e firmaram um pacto de não-agressão. Uma possibilidade de união lá para frente —no primeiro semestre do ano que vem— não foi descartada, mas, por enquanto, cada um deverá defender o seu lado.

O encontro ocorreu na casa da deputada Renata Abreu (Podemos-SP), presidente do partido, na última quarta (10). Moro estava na capital paulista para lançar seu livro e a parlamentar intermediou a conversa. Além de Doria, o ex-juiz da Lava Jato se encontrou também com Felipe D’Ávilla, presidenciável pelo Novo.

A avaliação de ambos é que eles têm pautas em comum, como economia liberal e bandeira anticorrupção, mas podem se complementar em outros pontos. Moro traz simpatia de um público conservador que rompeu com o tucano, enquanto Doria traz a experiência de gestão do maior estado do país.

A possibilidade de uma candidatura única para enfrentar o ex-presidente Lula (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL) tem sido debatida na centro-direita nos últimos meses. Em plenas prévias partidárias, Doria não gostava de falar no assunto, por entender que o enfraqueceria, mas passou a considerar a possibilidade publicamente.

Mas nenhum dos dois se mostra disposto a desistir de encabeçar a chapa. Nas entrelinhas, lê-se que o pré-candidato com menos chances abriria mão.

Aliados de Doria, por sua vez, dizem considerar “muito improvável” que, depois de uma disputa interna acirrada, ele abandone a campanha. Por outro lado, também dizem que o paulista “tem pé no chão” e não entraria numa disputa perdida só por orgulho.

No fim, o que se ventila dos dois lados é que ainda há muita água para rolar —e as alianças ajudarão a definir o candidato viável.

No caminho dos bolsonaristas arrependidos

Unidos desde o meio de novembro, Moro e o Podemos têm se aproximado em especial dos chamados lavajatistas, grupo dissidente do bolsonarismo, como o próprio ex-ministro, que se decepcionou com a gestão atual.

Neste meio, ele se tornou o candidato declarado de grupos anticorrupção, como Vem Pra Rua, Brasil Mais e o MBL (Movimento Brasil Livre), que o alçou como representante da chamada terceira via no seu congresso anual, no fim de novembro. Isso o aproxima do Patriota, que deverá lançar o deputado estadual Arthur do Val (SP), o Mamãe Falei do MBL, ao governo de São Paulo.

Ele também está próximo da ala não-bolsonarista do PSL. A avaliação dentro do partido, como no Patriota, é que os bolsonaristas deverão migrar para o PL, nova sigla do presidente Jair Bolsonaro, PP ou partidos de perfis semelhantes no ano que vem.

Por outro lado, o PSL está em processo de fusão com o DEM, para formar o União Brasil, o que torna a articulação de uma aliança um pouco mais complicada.

O partido ainda tem um mapeamento de insatisfeitos e dissidentes de outras legendas, conforme apurou o Uol

Missão de paz no PSDB enquanto busca aliado grande

Já Doria tem assumido uma missão dupla. Pré-candidato laureado no início do mês, o governador paulista tem como tarefa ajudar a juntar os cacos do PSDB, esmiuçado durante as prévias, ao mesmo tempo em que busca parceiros nacionais robustos para sua chapa.

Nesta semana, Doria recebeu o governador Eduardo Leite (PSDB-RS), seu principal adversário no pleito interno, no Palácio dos Bandeirantes e o convidou para participar tanto da campanha quanto da construção do projeto de governo.

Em um movimento mais discreto, mas não menos relevante, o coordenador da campanha de Doria, Wilson Pedroso, foi ao Rio Grande do Sul conversar com o PSDB gaúcho. Braço-direito do governador paulista, ele protagonizou algumas brigas sérias durante a disputa interna. No sul, a viagem foi interpretada como sinal de paz —embora isso não signifique que os gaúchos deverão embarcar no navio dorista.

Fora do ninho tucano, Doria já começou a buscar também por parceiros de peso. Próximo do MDB em São Paulo, ele tem olhado com atenção a pré-candidatura da senadora Simone Tebet (MDB-MS), que muitos aliados gostariam de ver como vice em sua chapa, em especial após a popularidade adquirida durante a CPI da Covid.

Doria, que já prometeu ter uma vice mulher, é próximo do presidente nacional do partido, deputado Baleia Rossi (MDB-SP), para quem fez campanha aberta pela presidência da Câmara no início do ano. Além disso, também tem boas relações com o ex-presidente Michel Temer (MDB) e está vendo um de seus aliados, o prefeito paulistano Ricardo Nunes (MDB), ganhar força.

Oficialmente, no entanto, os emedebistas falam que estão com Tebet e sua candidatura não está na mesa.

Em São Paulo, Doria tem ainda o apoio do DEM, antiga casa de seu vice, Rodrigo Garcia (PSDB), e tem como aliado o vereador Milton Leite (DEM), presidente da Câmara Municipal de São Paulo e principal figura do partido no estado.

Com a formação do União Brasil, ele também vê com atenção a saída dos bolsonaristas e busca entender como funcionará a sigla. Doria não tem a simpatia do ex-prefeito soteropolitano ACM Neto (DEM), mas, com a vitória nas prévias, viu a possibilidade de apoio aumentar.

Além disso, busca, também em São Paulo, os apoios dos conservadores que já estiveram ao lado de Geraldo Alckmin (de saída do PSDB), seu desafeto, que não estão satisfeitos com seus flertes com Lula. A campanha tem conversado com representantes do PSC, que também deverá sofrer debandada de bolsonaristas, para ganhar apoio religioso, um dos pontos fracos do governador.

Rejeição preocupa ambos

Em comum, Doria e Moro têm, ainda, a mesma pedra em seus mocassins. Na última pesquisa da Genial Investimentos e Quaest Consultoria, divulgada quarta (8), ambos apresentaram índices de rejeição muito superiores aos de intenção de votos.

Segundo a pesquisa, 61% dos entrevistados disseram que conhecem e não votariam em Moro, enquanto 59% rejeitaram o voto em Doria. Na pesquisa de voto estimulada, eles tiveram, respectivamente, 10% e 2% no cenário em que ambos competem.

Cada um faz sua aposta para reverter o quadro. Os aliados de Moro entendem que a pauta anticorrupção invariavelmente crescerá à medida que as eleições ganhem o debate público e seu nome, ligado à Lava Jato, passará a sofrer menos resistência.

Já Doria quer aumentar o conhecimento do seu nome (na mesma pesquisa, 24% disseram não conhecê-lo) por meio dos bons resultados econômicos de São Paulo. Como o discurso de ter trazido a vacina para o Brasil está cada vez mais distante, o paulista aposta que o crescimento da economia estadual poderá ser seu carro chefe à frente de um país em recessão.

Tudo é construção de narrativas, dizem aliados, que não escondem preocupação. Uma das máximas da política é que rejeição é teto. Caso a união dos dois aconteça, no ano que vem, a luta é para que somem as intenções de voto, mas não os descontentes.

Com UOL

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