Francisco Araújo, presidente do Instituto de Gestão Estratégica do DF. Foto: Reprodução

À frente da entidade responsável por administrar hospitais e UPAs, Francisco Araújo garante que população notará mudanças em breve

Por Alexandre de Paula – CB

Criado em meio a questionamentos da população e de servidores, o Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do Distrito Federal (Iges-DF) é a grande aposta do governo Ibaneis para resolver os problemas enfrentados pelo brasiliense com a rede pública. A entidade, depois de aprovação da Câmara Legislativa, é responsável por gerenciar, além do Hospital de Base, o Hospital Regional de Santa Maria e seis unidades de pronto atendimento (UPAs). No comando do instituto está Francisco Araújo, que traz no currículo os cargos de secretário de Assistência Social, em Maceió, e de secretário de Saúde de Cajueiro, ambas cidades alagoenses.

Em entrevista ao Correio, o novo chefe da entidade adota postura otimista. Os problemas, admite, são vários e devem levar tempo considerável para solucioná-los, mas garante que é possível resolvê-los em pouco tempo. “Pegando um negócio que vem desgastado de anos e anos, sucateado, como está o sistema de saúde do DF, só se fôssemos mágicos para resolver imediatamente”, afirma.

Mesmo assim, ele acredita que, em breve, a população conseguirá notar claramente os benefícios desse tipo de gestão e que haverá pedidos para que o modelo seja ampliado para outras unidades de saúde. Araújo é enfático ao dizer que os problemas enfrentados na área no DF não são resultado de problemas financeiros. “É como se Brasília tivesse um avião nas mãos, mas não soubesse pilotar”, observa.

Ele afirma que a saúde da capital federal não se modernizou e que há deficiências sérias no modo como os dados da área são catalogados e apresentados. “Do ponto de vista da tecnologia e da informatização, a saúde no Distrito Federal está na Idade da Pedra”, argumenta. Questionado se é possível resolver a questão com a urgência necessária para a população, foi direto: “Vamos resolver”.

Com a natureza jurídica de serviço social autônomo, o Iges-DF tem orçamento e autonomia para gerenciar as compras e contratações de prestadores de serviço e de profissionais para os centros de saúde geridos por ele. O modelo permite aquisições sem licitação e admissões pelo regime celetista.

Na prática, o que as pessoas poderão perceber de mudanças com o Iges-DF? O que a população pode esperar?

Neste primeiro momento, a população já sente a mudança. Por exemplo, nós abastecemos o Hospital de Santa Maria com 350 itens e medicamentos. Era um hospital sem nada, isso já é uma resposta. Você faz um diálogo com os profissionais, é outra resposta. Se você vai à UPA de Ceilândia, que estava sem piso, sem luz, e vê que colocamos medicamentos, estrutura, começamos a reforma, é outro sinal, e a população nota isso. A resposta imediata já está sendo dada.

E a resposta completa vem quando? Dá para ter uma previsão?

Para um sistema que está todo deteriorado, a resposta 100% vem depois. Essa resposta integral vai levar um tempo porque estamos falando de vários níveis de saúde e estamos mexendo somente em um. Mas a gente sabe que saúde é prevenção. Então, quando estruturarmos a atenção básica e fizermos esse redesenho de tudo, vamos conseguir essa resposta.

Mas a estimativa mais otimista para essa mudança seria de quanto tempo?

Até junho nós estaremos com o horizonte apontado para várias respostas. Em dois meses na saúde, fizemos 10 mil cirurgias, aprovamos esse modelo do instituto. Estamos abastecendo as UPAs, abastecemos Santa Maria, capacitamos as pessoas, vamos levantar leitos em Santa Maria. Estamos com a meta de até março praticamente zerar a fila das cirurgias. Até junho estaremos com tudo estruturado. A resposta final vai levar mais tempo. Pegando um negócio que vem desgastado de anos e anos e sucateado, como está o sistema de saúde do DF, só se fôssemos mágicos para resolver imediatamente.

O problema da saúde de Brasília é financeiro?

Lugar nenhum no Brasil tem o que a gente tem. Temos muito dinheiro, muita estrutura, mas tudo foi feito e desenhado para dar errado. Por isso que não funciona. É como se Brasília tivesse um avião nas mãos, mas não soubesse pilotar. O problema da saúde de Brasília é arrumação, é comprometimento, é fazer um desenho real de quais são os problemas. Não tem como o dinheiro não ser suficiente.

O senhor disse, em alguns momentos, que a informatização do setor é muito importante. Ele não existe hoje na saúde do DF?

Nosso maior desafio é informatizar a secretaria. Muitos dados, a gente não tem. Se nós que trabalhamos aqui não temos os dados, imagina a população… Do ponto de vista da tecnologia e da informatização, a saúde no Distrito Federal está na Idade da Pedra. Você tem 35 mil servidores e um orçamento de bilhões que hoje é gerido por meio de planilhas do Excel…

O governador bateu muito na tecla da transparência durante a campanha quando ainda criticava o instituto e depois quando mudou de ideia. Como isso será aplicado?

Se você olhar hoje no site, tem os contratos, o meu salário, o salário de todo mundo que trabalha aqui. Tudo, tudo o que o instituto gasta está lá. A transparência que o governador falava era essa, mostrar tudo. Antes não era assim. Nunca se deu essa transparência de hoje.

Há críticas de que esse modelo de gestão seria uma espécie de privatização da saúde pública. O senhor concorda?

Não, não tem privatização. Esse modelo de instituto não é Oscip (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público), não é OS (Organização Social), não é fundação, é um modelo híbrido. Só no Hospital de Base nós temos 1,9 mil servidores concursados e 1,3 mil celetistas. Isso caracteriza que esse hospital pertence ao Estado. Se hoje nós dissolvermos o instituto, o prédio, a estrutura, tudo é do Estado. Que privatização é essa?

O que muda, por exemplo, em relação às compras com esse modelo?

Na secretaria, por exemplo, se vai haver uma compra, você abre e lança um edital para fazer a licitação, tem embargos… Você leva aí um ano e não consegue resolver. Quando licita, já está tudo defasado. Aqui nessa modelagem tem um pouco mais de celeridade. Você publica o edital do mesmo jeito, as empresas aparecem, elas participam da seleção do mesmo jeito, mas a maneira de fazer essa contratação é mais célere. O que permite resolver as coisas de uma forma mais rápida.

Essa celeridade é a principal vantagem desse modelo de gestão?

Olha, a grande vantagem é que com ele a gente pode mudar a cultura das pessoas. Um exemplo: na UPA de Ceilândia, o trabalhador estava lá há anos esperando reformas básicas. Quando se chega com um modelo que rapidamente resolve isso, você, como trabalhador, passa a acreditar mais. Quando a população chega e não tem luz, não tem tomada, não tem luva, o trabalhador não acredita naquilo. Então, a mudança é, respeitando todos os princípios legais, no conceito, na cabeça das pessoas.

O que já foi feito nesses primeiros dias?

Fizemos capacitação com pessoas envolvidas nas UPAs e em Santa Maria. Fizemos cronograma de reformas. A primeira já está em andamento em Ceilândia. Estamos fazendo também a reordenação do pessoal. Todas essas UPAs, por exemplo, estão desabilitadas pelo governo federal. Poderiam estar recebendo recursos, mas não recebem nada. Então, estamos cuidando de reorganizar tudo isso para colocar condições mínimas para a população e para pedir novamente a habilitação com o Ministério.

Qual o orçamento do instituto hoje?

É importante esclarecer que não houve nenhum gasto a mais com a criação do Iges-DF. Estamos utilizando os recursos que já seriam destinados para cada unidade. No Hospital de Base, são cerca de R$ 53 milhões. Nas outras unidades, os valores são estimativas. Em torno de R$ 26 milhões para Santa Maria e R$ 1 milhão para cada UPA. No Hospital de Base, vamos trabalhar para aumentar esses valores, porque isso não é compatível com a dimensão dele.

E qual é essa dimensão?

Aqui, nós temos 70 leitos de UTI e apenas 30 estão habilitados. Há uma precariedade geral de todos os serviços. Nós esperamos que, com essa modalidade de gestão, que capacita as pessoas e ordena os investimentos, possamos dar a resposta de que a população precisa. O Hospital de Base deveria atender só traumas e câncer, mas aqui tem de tudo. Quem faz tudo não faz nada. A gente está analisando esse desenho real para mudar isso.

Da Redação com informações do Correio

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