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Pesquisadores replicaram estudo internacional no DF e concluíram que, caso a população afrouxe ainda mais as medidas de distanciamento, a consequência será o óbito de 1,4 mil pessoas, que poderia ser evitado

Por Redação*

Manter os protocolos de isolamento social quando os números de casos diários de infecções pelo novo coronavírus no Distrito Federal começam a baixar ainda é necessário? A pergunta ronda a cabeça de quem quer viajar, frequentar ambientes públicos ou fazer outras atividades que eram rotina antes da chegada da pandemia. Mas, a resposta permanece a mesma: sim. Isso porque, estatisticamente falando, colaborar, agora, com as políticas de prevenção contribui para, no futuro, evitar um número ainda maior de mortes. Estimativa é de que mais de 1 milhão de pessoas no DF tiveram contato com o vírus. É o que explica o pesquisador do Centro Universitário Iesb, Breno Adaid.

Doutor em administração e pós-doutor pela Universidade de Brasília (UnB) em ciência do comportamento, ele aplicou, à realidade do Distrito Federal, um estudo feito por matemáticos da Universidade de Estocolmo (Suécia) e da Universidade de Nottingham (Reino Unido) e publicado na revista Science. A pesquisa, da qual também participou o professor Thiago Nascimento, do Departamento de Ciências Comportamentais da UnB, traz uma análise diferente sobre a imunidade de rebanho (veja Efeito rebanho), levando em consideração aspectos como a falta de vacina e a heterogeneidade da população.

Breno explica que o modelo clássico, aplicado, por exemplo, no caso do sarampo, considera que é necessário inocular uma determinada porcentagem da população para assegurar a imunidade de rebanho. O estudo publicado, no entanto, pondera que há uma parcela das pessoas que se isola, seja porque não quer cumprir os procedimentos, ou porque acredita que não vai desenvolver uma forma grave da doença. “(A pesquisa) leva em consideração que, a depender do comportamento de uma população, você precisa de menos gente contaminada para atingir à imunidade de rebanho. Logo, contaminar todo mundo não vale para essa lógica”, detalha Breno.

O estudo analisa quatro cenários em uma sociedade: locais onde foram aplicadas políticas de isolamento leves, moderadas, severas, ou nenhuma política de isolamento. Para cada um, o valor necessário de contaminação para a imunidade de rebanho é diferente. Sem nenhuma ação preventiva, essa taxa é de cerca de 70% da população infectada. No caso de políticas severas, o índice cai para 50%. “Pouca gente se contamina no começo, mas tem muita gente propensa a se contaminar à medida que as coisas abrem. Como consequência, vem a reaceleração. É o que tem sido visto na Espanha”, alerta Breno.

No recorte de áreas que implementaram políticas moderadas, os pesquisadores estimaram imunidade de rebanho em 43%, a melhor taxa. Ao passar para uma situação de políticas leves, esse número sobe para 60%. “No DF, houve uma tentativa de aplicar o modelo moderado, mas as pessoas não adotaram e não têm respeitado o distanciamento. Então estamos entre o modelo moderado e o leve”, avalia Breno. Nos cálculos dele, chegar ao modelo leve implicaria, no fim da pandemia, em cerca de 1,4 mil mortes a mais do que aconteceria caso fosse mantido o regime moderado.

Em outras palavras, ainda que se observe uma queda na curva de casos, não é hora de relaxar as medidas de prevenção. “O brilhantismo desse estudo é mostrar que faz diferença se distanciar. Não é aquela história de que vai todo mundo se contaminar e pronto. É evitar comportamentos de autorrisco”, alerta o pesquisador. “É inegável que a gente vai vencer (a pandemia). A questão é que o saldo final do estrago vai depender de como a gente se comporta.”

Seis vezes mais

A pesquisa também permite identificar o índice de subnotificação a partir do número de casos registrados. Breno explica que as ocorrências crescem rapidamente, mas, a partir de um determinado momento, elas começam a desacelerar. É quando ocorre o chamado “cotovelo da curva”. De acordo com o pesquisador, esse fenômeno acontece em duas situações: vacina ou imunidade. “Obviamente, estamos na segunda situação, isto é, começando a imunidade de rebanho. Mas, para ter esse estado, é preciso muito mais do que os atuais 180 mil infectados contabilizados.”

Segundo os cálculos do estudo, o valor real de infecções na capital corresponde a 6,25 vezes o que foi registrado pelos órgãos de saúde, o que seria 1,2 milhão de brasilienses que tiveram contato com o vírus, até o momento. “É a mesma estimativa encontrada por estudos em outros países, como nos Estados Unidos. Em Manhattan (Nova York), foi feita uma testagem em massa, e concluiu-se que a subnotificação era de seis vezes o número oficial.”

Breno descarta a possibilidade de acontecer a segunda onda da covid-19 no DF. “As chances são baixas porque, em teoria, já tem muita gente imune. O que é mais possível é uma extensão da onda atual. Ou seja, não seria uma reaceleração, mas permanecermos mais tempo da forma que estamos, retardando a queda. É mais provável que isso aconteça em função da não adoção de cuidados”, finaliza.

Efeito rebanho

Também chamado de imunidade de rebanho, o termo faz referência à proteção adquirida por uma população uma vez que um número suficiente de pessoas esteja imunizado contra um vírus, seja por vacina ou após infecção. Cada vírus tem uma porcentagem específica em que o efeito rebanho é atingido. No caso da covid-19, calculou-se, inicialmente, entre 70% e 80%.

Influência

O estudo publicado na revista Science considera diferentes taxas de imunidade de rebanho para cada caso de políticas de isolamento:

Sem políticas: 70%e
Severas: 50%
Moderadas: 43%
Leves: 60%

*Com informações do Correio

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