Craques da França e Croácia. Foto: Reprodução

Por Redação

Difícil achar alguém que tenha apostado, um mês atrás, que França e Croácia decidiriam a Copa do Mundo. Ao mesmo tempo, poucas decisões poderiam ser mais simbólicas para o torneio que se encerra neste domingo, às 12h, no estádio Luzhniki, em Moscou.

A surpresa que a final proporciona, aliás, foi uma constante em todo o Mundial da Rússia, palco de favoritos que ficaram pelo caminho. Grandes favoritas, Brasil, Espanha e Alemanha caíram nas quartas, oitavas e primeira fase, respectivamente. Seleções de um craque só, Argentina e Portugal igualmente não tiveram chance. Até sensações como Inglaterra e Bélgica tiveram vida dura e ficaram pelo caminho. É a Croácia, menor país a chegar à final desde o Uruguai, em 1950, quem vai medir forças contra a poderosa França, única que sobreviveu à loucura desta Copa.

O estilo dos dois times também ajuda a explicar o que foi a Copa em campo, traumática para as seleções adeptas da posse de bola e passes curtos, como Espanha e Alemanha, eliminadas precocemente. A finalíssima contrapõe duas seleções com qualidade no meio de campo, mas que optam por um jogo direto e agressivo. Giroud, sem gols, e Mandzukic, com dois, também são representantes de um outro debate que a Copa do Mundo suscita, o do “novo camisa 9”, que precisa trabalhar sem a bola e abrir espaços além de mostrar faro de matador.

Mbappé é a grande esperança da França para a final da Copa do Mundo (Foto: Michael Regan – FIFA/FIFA via Getty Images)

É como se a Copa fosse um rito de passagem na qual França e Croácia cumprem bem seus papeis. Para os arautos da modernidade, o planejamento de um seleção que faz brotar talentos de forma sistemática, mantém o mesmo técnico desde 2012 e tem chance de seguir o caminho de Espanha e Alemanha, campeãs com seus “projetos”. Quem defende a tradição, por sua vez, há de defender uma geração croata que se aproxima dos 30 anos, trocou de comandante duas vezes antes da competição e avança contra qualquer expectativa, apostando no coração e na técnica de suas poucas estrelas.

Copa do Mundo diminuiu abismo e misturou zebras e favoritos

Antes de a bola rolar, o futebol de clubes marcado pela ofensividade e a quantidade de bons jogadores envolvidos com as principais seleções prometiam uma Copa do Mundo de primeiro nível. O torneio não decepcionou em emoção, mas deixou como marca seleções teoricamente mais modestas dando muito trabalho às maiores potências. Defesas sólidas, muita agressividade nos contra-ataques e jogadores capazes de cumprir muitas funções tiraram seleções como Espanha e Alemanha, dominantes na década, de sua zona de conforto.

Dois destes poderosos passaram diretamente pelos pés da Croácia. Na primeira fase, uma atuação de gala de Modric e um sonoro 3 a 0 encaminharam a Argentina para a segunda colocação do grupo e a chave mais difícil do mata-mata, onde ela seria derrotada pela França, que também tirou o bicampeão Uruguai do caminho. Na semifinal, após suar contra Dinamarca e Rússia, a equipe dos Bálcãs ainda eliminou a sensação do torneio, Inglaterra, em uma partida marcada pela superação física do primeiro time a superar três prorrogações consecutivas na história das Copas.

Modric pode se credenciar ao título de melhor do mundo com a conquista da Copa do Mundo (Foto: REUTERS/Ivan Alvarado)

A final é o retrato de um Mundial que quebrou paradigmas e deu pouca importância à tradição. O roteiro, assim, serve de alerta. Dois anos depois de perder a Euro em casa para Portugal, a França é, de novo, a favorita na mira do azarão. Se a história dessa Copa do Mundo serve de lição, é bom que Mbappé, Pogba, Griezmann e companhia tenham cuidado.

Copa troca posse de bola pelo jogo de transição rápida

Espanha e Alemanha dominaram a última década com um futebol de posse de bola, muitas trocas de passes curtos e busca paciente pelo ataque. A tão falada inspiração no jogo pensado por Guardiola, que elevou o controle das ações a uma espécie de fetiche estatístico não foi recompensado na Rússia. Nenhuma das duas seleções da final é adepta do “tiki-taka”, o que dá à final, mais uma vez, ares de “resumo” do que se viu na Copa do Mundo.

Croácia e França têm meios de campo invejáveis, com Kanté e Pogba de um lado e Modric e Rakitic do outro, mas praticam um futebol de transições rápidas para o ataque. Mesmo tendo ido mais longe e, no caso dos croatas, jogado três prorrogações, as duas finalistas ainda estão, pelos números da Fifa, atrás de Espanha e Brasil em passes curtos trocados no Mundial.

De acordo com o Instat, a França tem, em média, apenas 4,3 passes nas jogadas ofensivas que terminam em gol. A Croácia trabalha mais a bola, tocando nove vezes em média quando balança as redes. As duas equipes estão fora do top 5, que inclui Espanha, Inglaterra e Bélgica, todos com média superior a dez passes antes dos gols.

Final engloba o debate do futebol tradicional x futebol moderno

A Copa de 2018 é marcada por um debate peculiar nas redes, essencialmente brasileiro. É o moderno contra o clássico ou, na linguagem da internet, o futebol “raiz” contra sua versão “Nutella”.

França e Croácia não chegam a ser uma expressão literal do debate, mas vários temas dessa conversa permeiam a final do Mundial. A França tem o mesmo treinador desde 2012, uma “ótima geração” formada a partir de um trabalho de base e um planejamento que a permite sonhar com mais anos na elite. A Croácia, ao contrário, viveu duas trocas de treinador durante a reta final das eliminatórias, com o atual assumindo na última partida. É uma equipe cujos craques giram em torno dos 30 anos e, a despeito de um bom trabalho de base local, não chega a ser exemplo de um projeto de futebol.

Por outro lado, invertem os papéis na discussão sobre o “peso da camisa”. Quem vê o futebol cada vez mais equilibrado não acredita que tradição tenha tanto peso em jogo. Foi esse discurso que sustentou, por exemplo, a vitória da Bélgica sobre o Brasil nas quartas. Diante da zebra Croácia, a força da França, campeã mundial em 1998 que vai à sua terceira decisão em 20 anos, deveria pesar, em mais um embate virtual deste tipo.

Até dentro de campo as seleções fazem lembrar as discussões deste tipo. Giroud é o exemplo de centroavante que é útil ao abrir espaços para os companheiros. O camisa 9 francês não balançou as redes nenhuma vez na competição, mas tem tido seu papel de criar buracos para Mbappé e Griezmann a partir da movimentação ofensiva. O croata Mandzukic marcou duas vezes, mas também é conhecido por sua aplicação sem a bola e papel tático durante toda sua carreira com clubes. Na internet, a discussão sobre o papel que se espera de um centroavante provoca polêmicas, e há quem defenda que qualquer um deles só terá “jogado bem” se for às redes.

Da Redação com informações do UOL

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