O presidente Jair Bolsonaro conversa com o vice, Hamilton Mourão. André Coelho/Folhapress

Por Folha de São Paulo

O governo Jair Bolsonaro adotou cautela em relação ao vazamento de conversas entre o ex-juiz Sergio Moro e o procurador Deltan Dallagnol. A equipe do presidente quer evitar movimentos prematuros, antes que fique clara a dimensão completa do caso.

Embora aliados do presidente tenham defendido o ministro da Justiça e afirmado que Bolsonaro confia em Moro, seus auxiliares recomendaram que o presidente aguarde a revelação de outros trechos dos diálogos entre o ex-juiz da Lava Jato e integrantes da força-tarefa da operação.

Em evento durante a tarde desta segunda (10), Bolsonaro ignorou o caso e não deu entrevistas. Mais cedo, filhos do presidente defenderam o ministro da Justiça. Eduardo e Carlos publicaram mensagens nas redes sociais para enaltecer seu trabalho na Lava Jato.

No fim da tarde, o Palácio do Planalto informou que Bolsonaro não se pronunciaria sobre o assunto. O porta-voz do governo, general Otávio Rêgo Barros, disse que o presidente conversaria com Moro nesta terça-feira (11) antes de se manifestar. Ele acrescentou que “jamais” se discutiu uma possível demissão do ministro.

Horas depois, segundo a TV Globo, o secretário de Comunicação do governo, Fábio Wajngarten, afirmou que o presidente dera uma declaração sobre o caso: “Nós confiamos irrestritamente no ministro Moro”. Assessores políticos de Bolsonaro afirmam que Moro continua sendo uma das figuras mais populares do país. Eles temem, porém, que uma defesa precipitada seja atropelada por informações ainda desconhecidas. A estratégia seria, então, blindar o presidente de desgastes.

A ordem, além disso, é afastar o presidente de qualquer ato pregresso de Moro. A avaliação é que o conteúdo das conversas, até agora, não tem relação com o governo e com a atuação do ex-juiz como ministro. Segundo um aliado, um passo apressado levaria a crise para dentro do Planalto.

Mensagens divulgadas no domingo (9) pelo site The Intercept Brasil mostram que Moro e Deltan trocavam colaborações quando integravam a força-tarefa da Lava Jato. Os dois discutiam processos em andamento e comentavam pedidos feitos à Justiça pelo Ministério Público Federal.

Após a publicação das reportagens, a equipe de procuradores da operação divulgou nota chamando a revelação de mensagens de “ataque criminoso à Lava Jato”. O pacote de diálogos inclui mensagens privadas e de grupos da força-tarefa no aplicativo Telegram de 2015 a 2018. Parte deles se refere ao processo do tríplex em Guarujá (SP) em que o ex-presidente Lula foi condenado.

Assessores políticos de Bolsonaro temem que uma reação precipitada possa ser atropelada pelos desdobramentos do caso e por informações ainda desconhecidas. A estratégia é, então, blindar o presidente de desgastes.

A ordem, além disso, é afastar Bolsonaro de qualquer ato pregresso de Moro. A avaliação é que o conteúdo das conversas, até agora, não tem relação com o governo e com a atuação do ex-juiz como ministro. Segundo um aliado, um passo apressado levaria a crise para dentro do Planalto.

O pacote de diálogos publicados inclui mensagens privadas e de grupos da força-tarefa no aplicativo Telegram de 2015 a 2018. Parte deles se refere ao processo do tríplex em Guarujá (SP) em que o ex-presidente Lula foi condenado.

A equipe do governo, no entanto, prevê agitação no Congresso com a divulgação das conversas entre o ex-juiz e Deltan. Um assessor diz que os parlamentares certamente farão “um carnaval”.

  1. Troca de colaborações entre o então juiz Sergio Moro e o procurador Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa da Lava Jato
  2. Dúvidas de Deltan a respeito da solidez das provas que sustentaram a primeira denúncia apresentada contra o ex-presidente Lula
  3. Conversas em um grupo em que procuradores comentam a solicitação feita pela Folha para entrevistar Lula na cadeia

A cúpula do Congresso considera muito provável a abertura de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para investigar o conteúdo das conversas. Já na noite de domingo, líderes partidários relataram essa possibilidade ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).

O cenário foi discutido numa reunião na manhã desta segunda entre Maia, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e o presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Dias Toffoli.

Aliados dos chefes da Câmara e do Senado dizem acreditar que há chance de criação de uma comissão que investigue uma suposta aliança ilegal entre Moro e o Ministério Público Federal nos processos da Lava Jato. Eles evocam um clássico clichê das CPIs: todos sabem como começam, mas ninguém sabe como acabam.

O governo estima, por ora, que pautas como a reforma da Previdência não sofrerão abalo significativo. O Planalto deve concentrar sua atenção e sua força política nessas discussões, o que significa que deve poupar energia na defesa de Moro no Congresso.

Nesse cenário, a ala política do governo preferiu por enquanto a prudência, enquanto ministros militares defenderam Moro. O general Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional) acusou adversários de tentar “macular a imagem” do ex-juiz. O vice-presidente Hamilton Mourão afirmou que Moro tem a confiança de Bolsonaro e é respeitado pela população.

Apesar da cautela, os principais integrantes do Planalto buscam defender a operação e o ex-juiz, até porque as investigações da Lava Jato e o desgaste da classe política fizeram parte do discurso que elegeu Bolsonaro.

Os auxiliares do presidente, no entanto, querem reduzir os potenciais danos políticos causados pelo episódio.

A ala mais pragmática do Planalto defende que Moro não seja indicado para a primeira vaga aberta no STF (Supremo Tribunal Federal), no ano que vem, mas espere até 2021, quando o ministro Marco Aurélio deve se aposentar.

Na opinião de um auxiliar de Bolsonaro, essa estratégia daria tempo a Moro para criar uma marca no Ministério da Justiça e mitigar a imagem de que atuou politicamente para ganhar uma cadeira na corte.

Os cuidados adotados por Bolsonaro até agora podem se refletir na proteção política dada a Moro, segundo os congressistas. Em episódios recentes, o governo não gastou seu capital político em favor dos interesses do ministro.

O ex-juiz enfrentou um território hostil no Congresso ao brigar pela manutenção do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) no Ministério da Justiça, sem a ajuda do Planalto. Também houve pouco empenho do presidente na articulação do pacote anticrime, que endurece leis contra o crime organizado e a corrupção.

Líderes parlamentares avaliam que a crise desencadeada pela divulgação das mensagens deve atrasar ainda mais a tramitação dos projetos. Em comentários reservados, eles dizem que parte das propostas representa uma tentativa de dar amparo legal às medidas tomadas pela Lava Jato.

O relator do pacote na Câmara, deputado Capitão Augusto (PL-SP), apresentará seu parecer ao grupo de trabalho criado para discutir o assunto na quinta (13). Caberá ao presidente da Câmara definir se criará uma comissão especial para discutir o texto ou se ele será levado logo ao plenário.

“Esperávamos votar neste semestre, e o que pode acontecer é postergar para o semestre seguinte”, disse à Folha o relator do pacote na Câmara.

No Senado, Eliziane Gama (Cidadania-MA) também afirma que a nova crise deve atrasar os trabalhos no Senado.

“O Congresso é muito sensível a qualquer fato político novo. O pacote anticrime, que sofria resistências localizadas e partidárias, vai exigir agora mais debates e negociações para ser aprovado”, disse a senadora, que apresentou as medidas de Moro na Casa.

Da Redação com informações da Folha

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