O blog Agenda Capital recebeu neste domingo (20), relato dramático de uma servidora médica lotada no Hospital Regional do Gama que por motivos óbvios preferiu não se identificar, sobre a mudança da UTI neonatal, do hospital do Gama para o de Santa Maria, bem como do desvio de função de enfermeiras desempenhando atribuições inerentes a médicos.

Segundo a denunciante, a Secretaria de Saúde do DF de forma truculenta e sem nenhum preparo, começou a mudança na quarta-feira (16) da UTI neonatal, do hospital do Gama para o de Santa Maria. Na ocasião levaram 07 incubadoras, ficando os bebês em bercinhos de plástico frio na pediatria do Gama.  A servidora relata, que na quinta-feira (17) colocaram os bebês dentro de uma ambulância junto com as mães, amontoados num “completo horror”. “Chegaram abriram a porta e saíram carregando tudo. Parece que a gente foi despejada da nossa própria casa”.

pediatria do HRGA profissional de saúde, relata ainda que um berçário de 35 anos e uma UCIN (Unidade de Cuidados Intermediários), com 16 leitos, e outros 16 na outra ala do hospital, foi tudo “jogado no lixo”.

Na sua indignação, a servidora ressalta que, devido a transferência de profissionais para o hospital de Santa Maria, a escala não fecha, ficando o atendimento das crianças, ainda mais prejudicado no hospital do Gama, que já foi referência no atendimento.

A pediatra, relata que durante os seus 20 anos de medicina, nunca teve dias tão ruins como os atuais na rede pública de saúde do DF. “Acordo com dor no corpo, dor de cabeça, mal estar, é uma angústia, nossa não tem nem o que dizer, estou mal, estou mal”, descreve a médica.

A Secretaria de Saúde, segundo a denunciante, fez uma reunião do projeto Rede Cegonha, sem o devido preparo aos profissionais de enfermagem, e de acordo com a servidora, “falaram na nossa cara, que o enfermeiro é mão de obra barata”, em comparação com o médico.

Finalizando a denúncia, a profissional de saúde, fez uma declaração ainda mais grave. Falou que a partir de agora, “a enfermeira é que vai examinar as crianças e vai dar alta”, sem ter que passar pelo pediatra, ou seja, desempenhando uma função que seria do médico, e com isso “crianças poderão vir a morrer”, devido diagnóstico errado, finaliza a servidora.

O blog Agenda Capital entrou em contato com a Secretaria de Saúde do DF, que enviou a seguinte nota técnica:

Prezado,

A Secretaria de Saúde informa que a reabertura do Centro Obstétrico do Hospital e da Unidade de Cuidados Intermediários (UCIN) de Santa Maria foi realizada a partir de um planejamento prévio, com adoção de todas as medidas indispensáveis para assegurar  atendimento de qualidade, especialmente aos bebês de alto risco. Toda a Região Sul de Saúde, que engloba Gama e Santa Maria,  foi informada com antecedência   sobre este procedimento, que foi acordado entre as direções das unidades,  equipes médicas e sindicatos das categorias

A pasta destaca que a ala de obstetrícia do Hospital Regional de Santa Maria estava fechada desde julho de 2015, por falta de profissionais. A reabertura da Unidade é parte de um remanejamento logístico, que implicou também remanejamento de equipamentos e de profissionais da equipe de enfermagem entre os hospitais da Região Sul de Saúde. A Secretaria de Saúde reitera que a reabertura só foi possível devido à contratação de cinco pediatras e à ampliação da carga horária de outros quatro, além do remanejamento  de um pediatra e   cinco neonatologistas do Gama

Com a abertura do Centro Obstétrico e dos leitos de UCIN, o Hospital de Santa Maria volta a ser referência no atendimento de maior complexidade para a Região Sul, e o Hospital Regional do Gama fica com os demais atendimentos.

Tal mudança aconteceu sem interrupção e prejuízo dos atendimentos nas duas unidades. Os leitos abertos na última quarta-feira estão em pleno funcionamento no hospital de Santa Maria. As salas da UCIN estão prontas e equipadas e recebendo os recém-nascidos.

O Centro Obstétrico do Hospital Regional de Santa Maria conta com três centros cirúrgicos, 12 leitos pré-parto, quatro de observação, cinco de recuperação, 35 de alojamento conjunto, 10 de alto risco e cinco para pacientes da ginecologia.

Com a reabertura do Centro Obstétrico, Santa Maria passa a prestar atendimento em UTI Neonatal (alta complexidade) e o HRG passa a atuar como referência para gestantes de risco habitual e na assistência aos cuidados intermediários. Com as novas medidas, bebês com diagnóstico clínico de alta e baixa complexidade, nascidos na Região Sul do DF, que engloba Gama e Santa Maria,  passam a contar com melhor qualidade na assistência médica prestada.

Por fim, a Saúde de Brasília frisa que o atendimento em ambas unidades permanecerá sendo realizado por equipes multidisciplinares cujos profissionais atuarão somente dentro de suas competências, sem desvio de função e sem oferecer risco aos pacientes.

Veja a denúncia da servidora na íntegra:

Acabei de chegar do plantão no Gama onde passei a noite sozinha. Não tinha mais ninguém comigo. Subi e desci escada, sei lá, mais de 10 vezes. Estou com dor no corpo parece que passei a noite apanhando. Lembra que falei que eles queriam fechar o berçário e mandar todo mundo para Santa Maria, pois é eles fizeram isso realmente. Avisaram a gente de forma truculenta, sem nenhum preparo, e na quinta-feira, começaram na quarta, levaram 07 incubadoras, deixaram tudo lá, os meninos em bercinho de plástico frio, as mães denunciaram, saiu no DFTV. Depois ontem foram dar algumas voltas levando as incubadoras e os meninos e as mães amontoados de 2 a 3 em cada ambulância, um horror. Eles abrem a porta e saem carregando tudo parece que a gente foi despejada da nossa própria casa. Um berçário de 35 anos, uma UCIN com 16 leitos, mais 16 leitos lá fora dos meninos que estão acabando os antibióticos, assim, jogado no lixo. Foi levada para Santa Maria, aberta acho que ontem, esses 15 leitos, agora são de lá. Nós não temos mais berçário no Gama. Dos 800 partos que tínhamos, vão voltar a ter 500, porque com o CO de Santa Maria aberto, vai voltar a ter parto lá, e nós vamos ficar com 500 partos por mês, com pouquíssimos pediatras, sem lugar para colocar os bebês, com 05 bercinhos de plásticos, pra ficar esperando vaga em UTI ou UCIN (Unidade de Cuidados Intermediários). Eles dizendo que vão ter ambulâncias à disposição, que os bebês não ficarão mais de 12hs esperando por 01 vaga. Como é que a gente pode ficar acreditando nisso. Vão ter tantas crianças e nós somente 11 da equipe, porque 01 já acertou ir pra lá. Começa amanhã lá, e os outros 10 estamos sem conseguir fechar a escala, sem saber o dia de amanhã. A escala de abril já tinha de ter sido entregue. Tiraram o cara que ia fazer o domingo da Páscoa, e olha, sinceramente, nunca vivi isso na minha vida em 22 anos, nunca tive dias tão ruins na medicina. É assim, agente acorda com dor no corpo, dor de cabeça, mal estar, é uma angústia. Nossa, não tem nem o que dizer, estou mal, estou mal. Realmente assim, queria compartilhar com vocês essa hora, a coisa tá feia, então é assim, a gente tem vontade de chamar a polícia, de chamar o Juiz, de chamar o Ministério Público, pra fazerem alguma coisa, e a gente se sente muito, sei lá, incapaz. Não somos ouvidos, porque tudo tem que fazer, já foi decidido, e não mandaram nada por escrito da nossa remoção, enquanto isso, a gente não está obrigada, mas vamos ficar lá no Gama. Não sei quantos dias, estamos iguais os alcoólicos anônimos, mais um dia, mais um dia, não sabemos o dia de amanhã, então tá assim complicado. Eu realmente estou com medo de adoecer, porque me sinto muito mal há vários dias, desde que voltei de férias dia 22 de fevereiro, todo dia é um aborrecimento, uma reunião, esse projeto do grupo da Rede Cegonha, assim, muito mal feito, sem treinar as enfermeiras, disseram que iam deixar as enfermeiras fazerem tudo, falaram na nossa cara, que a enfermeira é mão de obra barata, que dá pra pagar 2 ou 3 com salário de medico, e que elas são capacitadas e vão fazer tudo agora, que não precisam mais da gente. Elas vão fazer parto, elas vão pegar os meninos, elas vão examinar as crianças e vão dar alta. Então vai ter criança no Gama que vai nascer na mão de enfermeira e ser liberado de alta sem ter passado na mão de pediatra. Então realmente é uma estratégia pt desde 2007 e cada vez mais as enfermeiras assumindo consultas. Não estou querendo desmerecer ninguém, se forem capacitadas, podem fazer, agora achar que só elas vão dar conta de tudo. Eu estudei para cuidar desses bebês. Foram 06 anos na faculdade e mais 03 estudando bebês. Elas fizeram uma faculdade curta, que estudam de tudo e agora elas vão examinar e dar alta. No primeiro exame de 01 recém-nascido, quantas más formações, quantas coisas vão ser passadas, quantas crianças vão morrer. Olha gente, que tristeza viu, estou triste demais.

Da Redação do Blog Agenda Capital

5 COMENTÁRIOS

  1. Absurdo!! Isso é o sus do PT!!!!com a demanda de nascimentos aumentando a cada dia eles se contentam em abrir uma unidade e fechar outra , para mascarar a necessidade de montar ambos serviços de qualidade e com pessoal capacitado .

  2. Absurdo! Duvido que o secretario de saude como medico, aceitaria que suas filhas nascessem em um hospital sem pediatria e sem uti neonatal. E qualquer pessoa com bom sensosabe que segundos podem fazer a diferenca entre uma crianca saudavel e uma crianca sequelada para o resto de sua vida. O que esta gestao esta fazendo e um desmonte do sus. Nao temos nada, nao tem remedio, nao tem material, nao tem exames, nao tem leitos de internacao, nao temos manutencao de nada, nao temos gratificacoes. So temos a populacao colocando a culpa nos profissionais d saude, nos chamando de preguicosos, folgados, por nao “querermos” atende-los.

  3. Gostaria de dizer a esta senhora Médica e a outros tantos outros que, o Enfermeiro como parte integrante da equipe tem capacidade técnica e científica, assim como, senso crítico e autonomia para avaliar, solicitar exames laboratoriais e perceber também se o paciente tem ou não a necessidade de permanecer internado, afinal de contas, e ele quem permanesse com o paciente durante 24 hs por dia. afinal estudou durante 5 anos, tendo Bagagem suficiente para tal propósito.

    • Gostaria de dizer a esta senhora Médica e a outros tantos outros que, o Enfermeiro como parte integrante da equipe tem capacidade técnica e científica, assim como, senso crítico e autonomia para avaliar, solicitar exames laboratoriais e perceber também se o paciente tem ou não a necessidade de permanecer internado, afinal de contas, e ele quem permanece com o paciente durante 24 hs por dia. afinal estudou durante 5 anos, tendo bagagem suficiente para tal propósito. Giancarlo.

  4. A SES acha normal então recém -nascido no Gama que necessita de UTI viajar de ambulância para Santa Maria . Dizer que não está colocando em risco a vida delas é uma grande mentira

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here