Foto: Reprodução

O coração é o órgão mais nobre do corpo humano. Se ele falha, todo o resto imediatamente sentirá as consequências. Ele manda sangue para os tecidos do organismo, nutrindo, oxigenando e permitindo o bom funcionamento de todos eles.

Este é o caso da senhora  Maria Joaquina Furtado Pinto, que foi levada a emergência após suspeita de infarto, mas segue na fila, para ser atendida.

Com fortes dores no peito e sintomas de entupimento de veias, Maria Joaquina, uma mulher de 55 anos aguarda há oito anos para conseguir a primeira consulta com cardiologista na rede pública do Distrito Federal. O encaminhamento foi dado em 14 de agosto de 2008 por um médico do posto de saúde 9 de Ceilândia. O mesmo profissional reforçou o pedido em duas ocasiões – 28 de julho de 2015 e 9 de junho de 2016.

Segundo nota da Secretaria de Saúde, existem casos mais graves aguardando na fila, que é organizada de acordo com a gravidade dos casos.

O quadro preocupa a família. No dia 12 de maio, Maria Joaquina desmaiou após sentir as dores no peito e precisou ser transportada para a emergência do Hospital Regional de Taguatinga. O médico que a examinou afirmou haver suspeita de princípio de infarto, passou remédios e a liberou. Filho caçula e bacharel em direito, Adriano Gomes voltou a cobrar a marcação de consulta com especialista. A atendente da unidade de saúde teria dito que ela precisava aguardar, porque havia muitas pessoas também esperando.

Gomes se juntou então à namorada, um irmão, o sogro de outro irmão e à própria mãe – que recebe auxílio-doença por sofrer de artrose no joelho – em uma vaquinha. Os R$ 5 mil arrecadados custearam consultas com médico da rede particular e cerca de dez exames, incluindo hemograma, ecografias, ecodoppler e monitorização ambulatorial de pressão arterial (mapa).

Os resultados apontaram que a mulher sofre de isquemia cardíaca. Considerada uma doença silenciosa, o problema se caracteriza pela diminuição da passagem de sangue pelas artérias coronárias e pode matar. Para o médico, há necessidade de que Maria Joaquina seja submetida a cateterismo. O custo do procedimento varia entre R$ 3 mil e R$ 4 mil.

“O dia em que ela passou mal foi desesperador. Eu comecei a fazer a massagem cardíaca, soprei na boca dela. Ela estava paralisada”, lembra o filho. “A gente já anda esperando o pior. Minha mãe ajudava meu pai no bar da nossa família, fazendo pastel, mas agora ela anda ficando muito de cama por conta do coração. Ela está tendo crise quase que diariamente. Ela está tomando remédio sublingual, que é o que dá uma aliviada. Eu não estou saindo de casa, porque a qualquer momento ela pode ter infarto e aí teremos de dar um socorro imediato.”

Encaminhamentos para consulta com cardiologistas dados desde 2008 para Maria Joaquina Furtado Pinto, que espera vaga na rede pública de saúde do Distrito Federal (Foto: Adriano Gomes/Arquivo Pessoal)Encaminhamentos para consulta com cardiologistas dados desde 2008 para Maria Joaquina Furtado Pinto, que espera vaga na rede pública de saúde do Distrito Federal (Foto: Adriano Gomes/Arquivo Pessoal)

Sem conseguir marcar nem a primeira consulta da mãe na rede, o bacharel em direito procurou a Defensoria Pública. O órgão deu até o dia 7 de julho para que a secretaria resolva a situação sem que haja uma ação judicial. “Ante o exposto, solicitamos a avaliação da demanda por prestação de serviço de saúde […] que necessita a assistida em qualquer unidade da rede pública de saúde ou, em caso de impossibilidade, na rede particular contratada ou conveniada com a SES/DF, com a maior brevidade possível, visto que a assistida aguarda pelo exame há mais de cinco anos.”

Por e-mail, a Secretaria de Saúde disse que as consultas de cardiologia são reguladas e marcadas de acordo com a classificação de risco, “priorizando os casos mais graves”. “A paciente está nesta regulação para a consulta. Em caso de emergência, enquanto aguarda pela avaliação do cardiologista no ambulatório, a paciente deve procurar a unidade de saúde mais próxima de sua residência.”

Trecho de documento da Defensoria Pública do Distrito Federal sobre a situação de Maria Joaquina Furtado Pinto; mulher espera há oito anos pela primeira consulta em cardiologia na rede pública do DF (Foto: Reprodução)Trecho de documento da Defensoria Pública do Distrito Federal sobre a situação de Maria Joaquina Furtado Pinto; mulher espera há oito anos pela primeira consulta em cardiologia na rede pública do DF (Foto: Reprodução).

Gomes se disse frustrado com a situação. O bacharel em direito conta que a mãe tem tido os mesmos problemas para conseguir consulta com ortopedista e enfrentado falta de medicamentos para artrose na rede. Ele se mudou há dois meses de João Pessoa (PB) para Brasília para poder acompanhar melhor a situação de Maria Joaquina.

“O sentimento é de abandono. A gente busca, a gente paga imposto, a gente tenta fazer de tudo. Meu pai é super-honesto com os impostos, batalha, paga tudo em dia, mas a gente não tem retorno, é um descaso. A gente é um cidadão e fica assim. A qualquer hora minha mãe pode morrer. Vê-la esperando que direitos fundamentais básicos sejam assegurados é vergonhoso”, declarou.

Maria Joaquina Furtado Pinto, moradora de Brasília que aguarda desde 2008 por vaga para a primeira consulta com cardiologista na rede pública do DF (Foto: Adriano Gomes/Arquivo Pessoal)Maria Joaquina Furtado Pinto, moradora de Brasília que aguarda desde 2008 por vaga para a primeira consulta com cardiologista na rede pública do DF (Foto: Adriano Gomes/Arquivo Pessoal)
Da Redação com Informações do G1

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