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Episódio ganhou holofotes e precisamos discuti-lo. Barrar atitudes discriminatórias em seus processos é responsabilidade de toda e qualquer empresa

Por Redação

Ganhou o noticiário nesta quarta-feira (13) mais um caso de racismo no meio corporativo que ainda deve gerar muita discussão. Uma moradora da cidade de Ribeirão das Neves, na região metropolitana de Belo Horizonte/MG, registrou um boletim de ocorrência na polícia denunciando racismo em um anúncio de vaga para cuidadoras de idosos. A descrição da vaga: “Precisamos de 10 folguistas para trabalhar como plantonistas. Pagamos R$ 100 por plantão com VT incluso. Únicas exigências: não podem ser negras, gordas e precisam de pelo menos 3 meses de experiência”.

A mensagem foi enviada para uma lista de transmissão do Whatsapp, alimentada por uma empresa que presta serviços no recrutamento de trabalhadores terceirizados. A responsável por compartilhar a mensagem foi alertada por pessoas que receberam o anúncio, se desculpou e disse não ter prestado atenção no “detalhe”, e que apenas compartilhou a “oportunidade” aberta por outra empresa com o objetivo de ajudar quem estava em busca de emprego. Segundo a responsável, os detalhes da vaga são de responsabilidade do contratante.

O caso está sendo investigado e vai ser resolvido pela polícia. Aqui nesta matéria do G1 você pode ver todos os detalhes. Mas aqui o que nos interessa é outra coisa: olhando sob a perspectiva da Administração, o que podemos aprender com esse caso?

1 – Discriminação não se discute

Antes de entrarmos em qualquer outro aspecto, é fundamental que fique clara uma questão: estabelecer como critério de seleção a cor da pele ou qualquer outro atributo que não tenha qualquer impacto prático no trabalho a ser realizado é discriminatório e não pode ser tolerado. Ponto.

2 – Responsabilidade não se terceiriza

No caso relatado acima, vemos uma clara tentativa de transferência de responsabilidades depois que o erro já foi cometido. Por exemplo: a pessoa que compartilhou a “oportunidade” alegou não ter prestado atenção nos critérios e que esses haviam sido definidos pelo contratante. É provável que tenha sido mesmo assim. É possível que essa pessoa não seja mesmo racista e não concorde com esse tipo de discriminação. Ela pode, sim, ter agido de boa fé, querendo apenas compartilhar oportunidades de trabalho. Mas ali, naquela situação, ela representa uma marca, a empresa de recrutamento que seleciona os profissionais. Mesmo que a vaga não seja originalmente sua, é sua marca que está falando. E aí houve uma clara falha de processo na identificação e veto a algo desse tipo, que pode inclusive gerar consequências legais contra a empresa.

3 – Entre a cruz e a espada?

Ao ler a matéria do G1, você vai perceber que o fluxo da tal “oportunidade de emprego” é longo: uma empresa está divulgando uma vaga para outra empresa, que é contratada por alguém ou instituição para prestar o serviço de cuidadoras de idosos. A origem do racismo, certamente, está lá na ponta demandante. De lá até a usuária que se indignou e prestou queixa na polícia, ninguém barrou o ato. A conduta discriminatória seguiu normalmente o fluxo. Não é improvável que ao longo desse caminho uma ou mais pessoas tenham notado o racismo contido nos critérios de seleção. Mas e aí: ninguém fez nada, simplesmente porque a responsabilidade era de outro? Foi por medo de perder o cliente? Enquanto empresa, enquanto marca, é nosso dever cuidar de tudo que passa pelo nosso fluxo e, consequentemente, nos envolve. A partir do momento em que um ato discriminatório segue normalmente depois de passar por sua empresa, você também passa a ser responsável por ele. Não existe dilema nessa questão.

4 – Ah, mas foi uma atitude isolada de um funcionário

Sim, um funcionário pode cometer um erro. Nesse caso em específico, a responsável pode mesmo não ter prestado atenção. Pode também ter achado que não havia nada demais, talvez tenha notado o perigo mas se confiou na terceirização da responsabilidade. Enfim, são muitas as possibilidades. Mas todas convergem para um fato: houve uma falha de processo. E quando isso ocorre não é simplesmente “a atitude isolada de um funcionário”. Cabe à empresa desenvolver e implementar mecanismos capazes de evitar esse tipo de ocorrência. Pense bem: você tem uma empresa de recrutamento e nunca capacitou seus colaboradores para filtrarem critérios discriminatórios nas vagas demandadas?

Com informações do portal Administradores e G1

Delmo Menezes
Gestor público, jornalista, secretário executivo, teólogo e especialista em relações institucionais. Observador atento da política local e nacional, com experiência e participação política.

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