Congresso Nacional e Palácio do Itamaraty. Foto: Agenda Capital

Por Felipe Frazão

As cúpulas do Congresso e do Supremo Tribunal Federal (STF) procuram escapar de um embate institucional com o presidente Jair Bolsonaro, neste momento, para não atiçar as alas mais radicais do bolsonarismo. Embora Bolsonaro esteja sendo criticado pela atuação na crise da covid-19, ao compará-la a uma “gripezinha” e por pregar a volta ao trabalho em meio à necessidade de isolamento social, ministros do STF e parlamentares não querem alimentar um cabo de guerra.

A oposição tentou se unir pedindo a renúncia de Bolsonaro e o acusou de crime contra a saúde pública. Até agora, porém, não conseguiu protagonismo. Coube à Associação Brasileira de Juristas pela Democracia denunciar Bolsonaro ao Tribunal Penal Internacional, em Haia (Holanda). A alegação é a de que praticou crime contra a humanidade ao incentivar ações que aumentam o risco de proliferação da doença.

Nos bastidores, deputados e senadores de vários partidos avaliam que Bolsonaro vai se inviabilizar sozinho. Observam que o estado de calamidade pública vivido pelo País dificulta agora o impeachment. Por enquanto, líderes do Congresso decidiram segurar uma ofensiva mais forte na direção do Planalto, mesmo apontando graves erros na condução da crise. Além de defender o fim do isolamento, Bolsonaro não se cansa de desautorizar o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. Chegou a dizer que “falta humildade” a Mandetta, que o ministro “extrapolou” no enfrentamento da pandemia e que ninguém é indemissível. “Não pretendo demiti-lo no meio da guerra”, avisou Bolsonaro. “A mão que afaga é a mesma que apedreja”, disse, depois, Mandetta.

O presidente do STF, Dias Toffoli, condenou o “achismo” sobre medidas de combate ao coronavírus, mas não foi além. “O Parlamento e o Supremo têm dado decisões para facilitar o trabalho do Estado nessa realidade da pandemia”, afirmou. “E um dos piores momentos da história da humanidade.” Na avaliação do ex-presidente do STF Carlos Velloso, Bolsonaro parece estar “na contramão” de tudo. “Mas o Executivo tem um núcleo compreendendo bem a gravidade da pandemia e sua responsabilidade”, observou. Para ele, as manifestações de Toffoli estão adequadas. “Com o agir harmonioso ganha-se a sociedade”, comentou.

Mesmo com os conflitos, o Congresso aproveita a crise para tentar mudar sua imagem. Parlamentares falam em deixar de lado disputas políticas para enfrentar a doença. “Tudo que não precisamos no Brasil, hoje, é politizar a crise. Não tem esquerda contra direita, não tem centro. Tem que unir Legislativo, Executivo e Judiciário”, resumiu o deputado Baleia Rossi (SP), presidente do MDB. Para o cientista político Rafael Cortez, a opção por não confrontar diretamente Bolsonaro é uma estratégia. “O choque entre a nova e a velha política é o terreno que propicia agenda e discurso típicos da mobilização bolsonarista. Bolsonaro olha seu mandato como mais preservado, porque o custo de um impeachment é alto, num cenário de problemas urgentes.”

Com informações do Estadão

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