Dr. Gutemberg Fialho,, presidente do SindMédico-DF e da Federação Nacional dos Médicos. Foto: Agenda Capital

Por Dr. Gutemberg Fialho*

O DF está preparado para combater o coronavírus”. A frase é do governador Ibaneis Rocha e foi dita após a Secretaria de Saúde ser notificada de pelo menos dois casos suspeitos do vírus, no fim de fevereiro. É curioso, no entanto, observar que, enquanto o combate ao coronavírus parece ser uma prioridade da pasta de Saúde, o número de infectados por dengue aumenta dia após dia no Distrito Federal.

Segundo a Secretaria de Saúde, o DF registrou 7.010 casos prováveis de dengue até o fim de fevereiro. Em janeiro, foram registrados 1.419 casos prováveis da doença. O que aponta que a capital teve, apenas em fevereiro, 5.591 registros a mais.

Chama a atenção ainda o fato de o governador, em apenas dois meses, ter declarado “situação de emergência” por conta das duas doenças: A dengue e o coronavírus. O primeiro decreto foi assinado por Ibaneis no dia 24 de janeiro, por conta do potencial de epidemia de dengue, um risco que bate à porta da gestão pública. Já o segundo decreto, rubricado em 28 de fevereiro, considerou “risco de pandemia” do novo coronavírus (Covid -19).

Ambas as declarações, vale ressaltar, autorizam compras emergenciais sem licitação. Além disso, em uma avaliação mais profunda, parece que a “situação de emergência” devido ao coronavírus tirou o foco da dengue e de outro problema, não menos complicado para o SUS-DF: A sazonalidade da Pediatria, com doenças respiratórias, que resulta em prontos-socorros superlotados e insuficiência de leitos nos principais hospitais públicos do Distrito Federal.

Até a última sexta-feira (6), o DF contabilizava 20 suspeitos de coronavírus e um caso positivo que aguarda a contraprova, segundo a própria SES-DF, que atualiza o número diariamente. Sobre dengue, contudo, além do elevado número de casos prováveis, a capital já registra duas mortes devido à doença e, segundo a Pasta de Saúde, houve um aumento de 160% no número de casos prováveis de 2020, quando comparado ao mesmo período de 2019.

Ainda no que diz respeito ao coronavírus e à dengue no DF, é curioso como determinadas ações parecem ter cunho midiático: Para a dengue, tendas de acolhimento aos pacientes. Para o temido coronavírus, um Comitê de Combate e um Centro de Operações de Emergência, além de afirmações que destoam por completo da realidade do SUS-DF, onde o “preparo” para conter o vírus esbarra na escassez de insumos para realização de exames, materiais básicos, como luvas, e até profissionais, desde médicos até técnicos de enfermagem.

Recentemente, na mesma toada utópica do governador, o secretário de Saúde, Osnei Okumoto, disse que “o Distrito Federal está totalmente organizado na questão dos atendimentos aos pacientes com suspeita de Coronavírus”. Com tanto preparo para o vírus, ficam as dúvidas (e lamento): Por que, até hoje, ainda temos óbitos por dengue? Foram 64 mortes de 2019 para cá, com 53,9 mil casos suspeitos da doença no ano passado. Falta vontade ou capacidade de gestão?

*Dr. Gutemberg Fialho – Médico ginecologista e obstetra, atua em perícias médicas e detém o registro da Ordem dos Advogados do Brasil, com especialização em direito médico. É membro titular da Academia de Medicina de Brasília, presidente do SindMédico-DF e presidente da Federação Nacional dos Médicos (Fenam). Colunista semanal do Agenda Capital.

(As opiniões dos nossos colunistas não refletem necessariamente a linha editorial do Agenda Capital)

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