Por Miguel Lucena*

A intelligentsia brasileira, encastelada em pontos estratégicos das superestruturas da sociedade e do Estado, de há muito endeusa o bandido e demoniza o policial, o primeiro como oprimido e o segundo como opressor, braço armado da tirania estatal.

Enquanto três policiais – civis e militares – eram abatidos a tiros de fuzil e pistolas no Rio de Janeiro, orquestrava-se um movimento, supostamente em defesa da cidadania, para que moradores da Rocinha usassem um canal de Whatsapp e denunciassem prováveis arbitrariedades cometidas pela Polícia e pelo Exército nas ações de combate ao crime organizado.

Nas escolas, os trabalhos são direcionados no sentido de apresentar o policial como força opressora, inimiga da sociedade, que usa métodos violentos contra pessoas humildes e desprotegidas.

De Michel Foucault – Vigiar e Punir –  a Paulo Freire – Pedagogia do Oprimido -, consolidou-se a opinião de que “qualquer coisa pode ser deduzida do fenômeno geral da dominação da classe burguesa”.

Dessa forma, qualquer ação do Estado deve ser vista como algo que objetiva manter a dominação burguesa, até mesmo as escolas, que ensinam a ler, escrever e contar, e os diversos serviços postos à disposição da coletividade.

Braço armado do Estado, os policiais devem ser vistos como inimigos dos pobres. Nada mais ilusório. A opressão contra os pobres é exercida cotidianamente pelos chefes de organizações criminosas que tiram os filhos dos trabalhadores da escola e os alistam como soldados do crime, fazendo-os morrer antes de começar a entender a lógica das coisas.

Organizações diversas pululam em defesa dos criminosos. Há parlamentares que se dedicam exclusivamente à defesa dos bandidos. Quando alguém é executado na porta de casa, como ocorreu com a servidora do Ministério da Cultura, o silêncio dessas entidades é sepulcral. Se o morto for um policial, elas até comemoram.

A sociedade brasileira precisa decidir o que quer: uma sociedade sã, defendida por uma polícia valorizada, inclusive com força para excluir seus integrantes desonestos, ou uma polícia desmoralizada, caída, para que o Estado seja finalmente capturado pelo banditismo mais cruel.

Bandido bom não existe. Eles estupram crianças e mulheres, invadem as nossas casas, assaltam, atiram na vítima sem nem ouvir suas súplicas, não pensam no sofrimento e desamparo das famílias, suas ações são cruéis e infamantes. Eles precisam saber que, se cometerem um crime, vão pagar pelo ato antissocial e cumprir a pena integralmente, sem as regalias que foram criadas no Brasil a partir dessa visão de que a sociedade é responsável pela ação do delinquente.

Se os bandidos continuarem presos até que cumpram integralmente sua pena, sem saidinhas nem saidões, certamente o fenômeno da reincidência desaparecerá. Só reincide o bandido que está solto.

Pobreza não é sinônimo de crime. Se isso fosse verdade, eu não seria  delegado nem jornalista. Até meados dos anos 70, nossa casa não tinha nem piso e nós comíamos feijão com bredo. Entretanto, guiados por pais amorosos e tementes às justiças divina e terrena, vencemos na vida de cabeça erguida. Se tivéssemos largados nossos valores para trás, contaminados por inveja e ressentimento, estaríamos no mínimo torcendo pelo exército do mal, representado pelos tiranos que estupram, roubam e matam seus semelhantes.

*Miguel Lucena é Delegado de Polícia Civil do DF, Jornalista e colunista do Agenda Capital

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