Dr. Gutemberg Fialho,, presidente do SindMédico-DF e da Federação Nacional dos Médicos. Foto: Agenda Capital

Por Dr. Gutemberg Fialho*

O Brasil passa por uma série de mudanças que provocam a desorganização do estado de coisas, como resultado do processo político, com vistas a uma guinada em relação ao projeto que antecedeu o atual governo. A mudança reflete o desejo de uma visão de parcela da população que obteve hegemonia nas eleições. No entanto, as medidas adotadas e a forma como estão sendo levadas a termo estão longe de ser consenso.

Em suas declarações antiestatistas e antisserviço público, o ministro da Economia Paulo Guedes se atém à função do Estado de proteger e fortalecer a economia e os mercados contra crises internas e externas. Mas trata como caspa na lapela do terno as obrigações de Estado de provisão de bens e serviços sociais, seja por garantias sociais mínimas, seja por meritocracia.

Nessa toada, dispara contra servidores públicos adjetivações descabidas e mal-intencionadas pra amesquinhá-los e colocar contra eles a opinião pública. “Parasitas”, “preguiçosos” e “inimigos”, foram termos usados por Paulo Guedes contra os servidores ao atribuir a eles as mazelas do serviço público.

São falaciosas as argumentações de que o serviço público se presta à corrupção como regra e de que não tem qualidade. A corrupção e a incompetência que se atribui ao serviço público tem como responsáveis os afilhados políticos que ocupam cargos de gestão e chefia para atender aos interesses políticos, ideológicos, econômicos e outros de natureza não republicana dos partidos e mandatários que os colocam em suas funções.

Medidas implantadas no governo Temer, como retirada de direitos e benefícios e a desoneração da Folha de Pagamento, já demonstraram que não fazem aumentar a oferta de vagas de emprego, que seria a contrapartida das empresas privadas, nem promovem o crescimento da economia. Os ganhos que o empresariado obtém dessas medidas são revertidos a investimento em automação.

A automação de processos, tanto pela robótica quanto pela inteligência artificial, aponta para a redução da oferta de postos de trabalho e eliminação de atividades profissionais. É o fenômeno da obsolescência humana agravado pela ideia da redução da prestação de serviços pelo Estado e retirada de garantias sociais.

Apontar o empreendedorismo como único caminho para a solução é uma grande falácia. Se o trabalhador e sua família estão mais pobres, cai o consumo e a possiblidade de empreender. Mais de 90% das falências que ocorrem no país são de pequenas e microempresas. Essa, sim, é uma reforma que esperamos e queremos ver ser feita: a meritocracia aplicada à ocupação de cargos de confiança no serviço público, o fim do fisiologismo e do clientelismo nos órgãos públicos.

Mudanças são necessárias, mas as que as famílias brasileiras precisam passam pela valorização e qualificação do servidor público e blindagem contra a ingerência de interesses particulares ou de grupos para proveito próprio. O objetivo deve ser o aperfeiçoamento da máquina pública e melhor prestação de serviços à população e não a supressão da oferta desses serviços pelo Estado.

*Dr. Gutemberg Fialho – Médico ginecologista e obstetra, atua em perícias médicas e detém o registro da Ordem dos Advogados do Brasil, com especialização em direito médico. É membro titular da Academia de Medicina de Brasília, presidente do SindMédico-DF e presidente da Federação Nacional dos Médicos (Fenam). Colunista semanal do Agenda Capital.

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