Dr. Gutemberg Fialho, presidente do Sindicato dos Médicos do Distrito Federal - SindMédico-DF e da Federação Nacional dos Médicos.

Por Dr. Gutemberg

O sistema público de saúde do Distrito Federal emprega cerca de 30% dos médicos com registro ativo na cidade. Do outro lado está a demanda: 70% da população do DF não tem plano de saúde e depende exclusivamente do SUS. O desequilíbrio é evidente.

Os médicos e os demais profissionais que atuam no serviço público ainda têm que lidar com carência de leitos, de equipamentos, de medicamentos, materiais de trabalho e até de espaço físico para atender os pacientes. Além disso, as unidades de saúde não têm autonomia para contratar ou fazer compras.

São essas as condições dadas aos profissionais da saúde, aos diretores de hospitais e chefes de serviços para prestar assistência à população que, não raras vezes, demonstra de forma explosiva o justificado descontentamento com o retorno que o governo lhe dá pelos impostos pagos.

O desafio de qualquer um que assuma o governo do Distrito Federal é resolver essa equação, respeitando o que as leis estabelecem e se mantendo dentro dos limites orçamentários.

Sem mudar as condições de trabalho dadas pelo governo, não adianta cobrar do conjunto de servidores e administradores locais desempenho comparável ao da iniciativa privada, que concentra 70% dos profissionais para atender 30% da população, sem limite de meios para prestar assistência que não a capacidade de pagamento do usuário do serviço.

A melhora do desempenho da saúde pública depende de investimentos corretos em valor suficiente e de definições de políticas no nível da Secretaria de Estado de Saúde. Demissões em sequência de diretores de hospitais não fazem mais do que ampliar o caos nas unidades de saúde e dificultar ainda mais a organização dos serviços e a articulação do sistema de saúde como um todo.

Fatos como o ocorrido no Hospital Regional de Sobradinho no último sábado (11) devem ser investigados e não podem ser tratados como casualidade ou erro pontual, com resposta dada apenas para aplacar a opinião pública sem que seja adotada uma solução ao problema, que é estrutural. A única demissão cabível neste momento seria a do secretário de Saúde escolhido pelo próprio governador.

Comparando o que se fez nesses primeiros meses do atual governo com o que foi feito no governo passado, não vemos avanços e verificamos até alguns retrocessos. A única coisa verdadeiramente clara é a mudança no marketing de governo: passamos do estilo da vítima injustiçada para o do apresentador milionário de reality show de empreendedorismo. Do discurso da “herança maldita” (que de vez em quando ainda é tirado do armário), passamos para o “você está demitido!” – retórica que não muda a realidade de pacientes e servidores, os quais continuam vivendo no mundo real onde os problemas são negligenciados.

*Dr. Gutemberg – Médico ginecologista e obstetra, atua em perícias médicas e detém o registro da Ordem dos Advogados do Brasil, com especialização em direito médico. É membro titular da Academia de Medicina de Brasília, Presidente do SindMédico-DF. Suplente de deputado distrital e colunista semanal do Agenda Capital.

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