Por Joseph Teperman*

No mundo organizacional eles são reconhecidos pela capacidade de agregar valor ao negócio, cuidar da gestão de processos e mobilizar pessoas para atingir objetivos. Acrescente- se uma boa dose de disponibilidade para aprender, legitimidade outorgada pelo grupo e convicção sobre sua coautoriana gestação do novo, além, é claro, de algumas pitadas de autoconfiança, temperadas com certa humildade e autoconhecimento e nos aproximaremos bastante de um personagem chamado líder, figura reconhecida pelo seuprotagonismo no cenário empresarial.

As organizações podem até lhe dar um cargo, mas não podem fazer de você um líder. Por outro lado, você pode ser um líder mesmo sem ter um cargo. Na última década, o que se vê nas organizações é uma estrutura que tende a ser menos hierarquizada e este é um cenário que possibilita emergir lideranças pelo exemplo, pela influência e pela capacidade de realizar. Mas, afinal, o que se espera de um líder hoje?

Primeiro vamos pensar em como a relação do indivíduo com o trabalho mudou. Até um tempo atrás, trabalho significava pesar, sacrifício, sofrimento. Acreditava-se que o trabalho deveria vir antes do prazer. A própria palavra trabalho vem do latim tripalium – designa um instrumento utilizado para imobilizar animais e também um instrumento de tortura. Na concepção bíblica, também, o trabalho foi um castigo dado a Adão quando expulso do Paraíso: “Com o suor do teu rosto comerás o teu pão”

Este pensamento esteve presente durante décadas, e era muito comum se ouvir uma conversa como esta numa manhã qualquer em uma empresa:

– Nossa, preciso de um café, estou muito cansado pois ontem eu trabalhei até às 22h…

– Só até às 22h? Pois eu fui embora já tinha passado de 1h.

Naquele contexto, dizer “estou feliz e tenho prazer no trabalho” seria praticamente motivo de demissão por justa causa.

Com tantas transformações pelas quais passamos, sejam tecnológicas, sociais e políticas, o significado e as relações do indivíduo com o trabalho também mudaram.

Para a geração que entrou no mercado nos anos 2000, prazer e trabalho passaram a andar lado a lado. O trabalho precisa ser, sim, fonte de prazer, de realização e de desfrute. O indivíduo precisa estar ali por escolha, e não por obrigação. Assim como o conceito de comércio como sendo baseado em trocas voluntárias, as relações de trabalho vêm caminhando, cada vez mais, para serem escolhas voluntárias. Neste sentido, gera-se valor por meio de alinhamento de propósitos.

Diante desta série de mudanças o que se espera de um Líder no século 21?

Num passado recente, diríamos que um bom líder seria um líder eficiente. Hoje em dia, isto não é mais uma verdade. A eficiência passou a ser uma característica básica, é o mínimo que se espera dele. O que diferenciará um líder será seu protagonismo e
sua capacidade de gerar valor.

Protagonistas sabem que são responsáveis pelas suas decisões e consequências inerentes. E são aqueles que assumem o controle de suas vidas, abrem mão do “conforto” de serem vítimas das situações.

Seu chefe não entende você? Não adiante entoar a frase: Oh vida, oh céus!…”, como o personagem Hardy do desenho animado!

Quem não se posiciona como protagonista, necessariamente, acaba ocupando o lugar de vítima.

Para as vítimas, a situação é imutável, a causa é perdida, e como disse o filósofo J. P. Sartre: “O inferno são os outros”. As vítimas se enchem de auto-piedade, e reclamam de como o mundo as tratou mal.

O protagonista, por outro lado, sabe que as coisas estão sob sua responsabilidade, toma as rédeas de sua vida, assume suas decisões e seus erros. Normalmente, ser protagonista é mais difícil, mas não há como conquistar nada sem se colocar como condutor da própria vida.

No passado, havia uma crença de que o Estado seria o responsável por prover saúde, educação e segurança da população. As revoluções e inovações promovidas por grandes lideranças e por indivíduos empreendedores têm nos mostrado exatamente o contrário. Indivíduos empreendedores têm capacidade e eficiência muito maior do que o Estado para solucionar os problemas, movidos tanto pelo espírito de cooperação como o de crescimento dos negócios.

Da mesma forma, podemos observar a relação do indivíduo com a empresa, pois até hoje muitos acreditam que a empresa é responsável pela carreira e pela felicidade dos empregados. A realidade é que os indivíduos são livres para tomarem suas decisões e, como governadores, diretores e protagonistas de suas vidas e carreiras, não devem delegar para a empresa (ou o chefe) a responsabilidade por sua carreira. Um bom líder saberá não tratar sua equipe com paternalismo, mas sim estimular o empoderamento e o protagonismo de sua equipe.

Não há sorte e nem coincidências: os protagonistas costumam ter alta performance em seu ambiente de trabalho. O PHD em Psicologia por Harvard Daniel Goleman desenvolveu estudo acerca do conceito e elementos da Inteligência Emocional, comprovando que times com um líder com alto grau de autoconhecimento, autocontrole, motivação, empatia e habilidade social têm desempenho em torno de 50% maior que os outros. Não é de se espantar que os cinco elementos da inteligência emocional levantados por Goleman sejam as características marcantes dos verdadeiros protagonistas.

Neste contexto de mais acesso à informação e diminuição de hierarquias, o líder tem que se comportar da forma mais autêntica possível. E não ser apenas um avatar que apenas reproduz um comportamento esperado. O avatar do funcionário, do líder, do subordinado, do empresário, do pai de família… Para cada papel parece existir uma espécie de “cartilha”. Quanto mais recorremos ao avatar, menos somos nós mesmos. E quando estamos representando, não estamos existindo.

Portanto, o líder protagonista vai além dessa cartilha. No século 21, os indivíduos que terão maior sucesso serão os autênticos, que entendem que sua liberdade traz consigo responsabilidade, com alto nível de inteligência emocional, e que entendam que devem gerar valor para seus liderados e para seus clientes.

Como diz Peter Drucker, um dos maiores gurus da Administração, líder é alguém capaz de fazer com que os outros o sigam, sendo principalmente essa habilidade que melhor o descreve. A qualidade da liderança não se mede pela popularidade de que goza, mas pelos resultados que consegue produzir.
O líder protagonista lidera pelo exemplo. A liderança não é uma questão de classificação, de privilégios, de títulos ou de dinheiro. É uma questão de responsabilidade.

*Joseph Teperman, administrador, headhunter e palestrante, e Clariana Marega, psicóloga.

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