Dr. Gutemberg Fialho, presidente da Federação Nacional dos Médicos e Presidente do Sindicato dos Médicos do DF. Foto: Agenda Capital

Por Dr. Gutemberg 

Além da pandemia causada pelo novo coronavírus, médicos da rede pública têm enfrentado outra realidade, não menos preocupante, em seus consultórios: a epidemia da fome, outro impacto da covid-19 na vida dos brasileiros. Nesta semana, o jornal El País denunciou este cenário em plena capital do País. De acordo com a reportagem, “unidades de saúde de Brasília [públicas] identificam aumento de pessoas com sintomas que acreditam ser de doença, mas que, na verdade, estão famintas”. 

Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apontam que a taxa de desocupação no Brasil ficou em 14,7% no trimestre encerrado em março. Isso representa recorde de 14,805 milhões de pessoas desempregadas. No mesmo período do ano passado, a taxa de desemprego medida pelo levantamento estava em 12,2%.

Segundo a analista da pesquisa, Adriana Beringuy, “essa redução na maioria dos grupamentos de atividades reflete o cenário da pandemia. De modo geral, a maior parte das atividades econômicas tem menos ocupados do que há um ano”. Neste contexto, vale lembrar que o Distrito Federal tem o terceiro maior Produto Interno Bruto (PIB) entre os municípios brasileiros (R$ 254,8 bilhões). O que torna a doença da fome na capital ainda mais alarmante. 

É importante salientar aqui que a fome resulta em muitas outras doenças: desnutrição, raquitismo, anemia e distúrbios psicológicos. Como ficar bem, dormir bem ou acordar bem sem ter nada na geladeira para os filhos? A fome adoece de muitas maneiras. E nós, pessoas públicas, precisamos falar disso. A fome não pode, em detrimento de um calendário de vacinação que anda a passos lentos, voltar a estampar os jornais brasileiros. 

Nesta semana, o Distrito Federal, cenário principal da matéria do El País, recebeu um novo lote de 78 mil vacinas contra a covid-19, da AstraZeneca/Oxford. São doses, sem dúvida, de esperança. E, apesar da comprovação científica da eficácia desses imunizantes, ainda há uma parcela da população que está abdicando do direito de ser vacinada. Um erro grave: faz parte da consciência cidadã entender que a vacinação contra o novo coronavírus é a única saída para a maior crise sanitária, humanitária e econômica do mundo nos últimos tempos. 

Vamos, juntos, trilhar um novo caminho rumo à retomada econômica do País. Os impactos da pandemia têm que ser uma página virada (e superada) na nossa história. Como médico, e médico que atuou no sistema público durante muitos anos, sei das adversidades da vida das pessoas mais vulneráveis. É preciso superar esse obstáculo chamado covid-19 e voltar a empregar, a inovar, a investir no futuro do Brasil. A pandemia tem afetado o sonho de muitos. E, para muitos, mais precisamente 14,805 milhões de pessoas, o sonho é apenas uma mesa farta. 

Que venham mais vacinas e que sejamos, todos, vacinados! Que a nossa única terceira onda seja a onda da retomada. A onda da esperança. A onda de pessoas saudáveis!

*Dr. Gutemberg Fialho – Médico ginecologista e obstetra, atua em perícias médicas e detém o registro da Ordem dos Advogados do Brasil, com especialização em direito médico. É membro titular da Academia de Medicina de Brasília, presidente do SindMédico-DF e presidente da Federação Nacional dos Médicos (Fenam). Colunista semanal do Agenda Capital.

(Há opinião de nossos colunistas não representam necessariamente a linha editorial do Agenda Capital)

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