Dr. Gutemberg, presidente do Sindicato dos Médicos do DF e da Federação Nacional dos Médicos. Foto: Agenda Capital

Por Dr. Gutemberg*

Especialistas acreditam que uma possível terceira onda da covid-19 pode chegar ao Brasil em junho – antes do esperado, em julho. E, apesar de me considerar um “realista esperançoso”, temo que a previsão esteja correta, levando-se em conta o fato de que uma nova cepa, a indiana (mais transmissível), está, oficialmente, em terras brasileiras. O cenário é alarmante e, como alertei no passado, pode levar o nosso país a um looping infinito da pandemia: sem começo, meio e o tão esperado fim.

Nesse contexto, é preciso pontuar algumas questões sobre para as quais tenho alertado. O DF, por exemplo, falha, terrivelmente, em não  promover testagem de massa. Entre as nações mais afetadas pela pandemia, a nossa continua sendo uma das que menos testam sua população. Segundo a plataforma “Nosso Mundo em Dados”, ligada à Universidade de Oxford, 77 países do mundo testam mais do que nós.

Em 2020, no início da pandemia, eu falei da necessidade dos testes em massa para o controle da doença. Além disso, tenho advertido sobre a necessidade de corrermos contra o tempo para ampliar a vacinação, tanto no DF quanto no restante do país.  É absurdo (e indecente) que, com mais de 465 mil mortes pela doença, tenhamos apenas 21,38% da população brasileira imunizada. Quantas ondas ainda teremos?

Agora, outro ponto importante para ser observado, questionado e solucionado, são as fronteiras do Brasil abertas para todos. A cepa indiana supostamente chegou pelo Maranhão. Digo isso porque, se não temos controle de quem entra e quem sai, como culpar os tripulantes do cargueiro no Maranhão pela entrada da variante no país? Agora, até Copa América querem fazer por aqui. Inclusive, começando pelo DF, no estádio Mané Garrincha.

O mapeamento genético também deixa a desejar no país. Apesar de termos centros de pesquisa e material humano de excelência para isso, o sequenciamento do genoma não é prioridade das gestões. Outra falha. Porque, por meio dele, é possível traçar estratégias de combate à doença. Ele ajuda a entender o comportamento do vírus em determinados locais e, assim, é possível traçar metas de combate mais efetivas.

Ainda falando da anunciada terceira onda, digo a você, leitor, que, como tudo ainda é novidade, não temos ideia de quanto tempo dura a proteção das vacinas. Há alguns estudos que indicam seis meses. E aí, vamos à outra preocupação: quem foi vacinado em janeiro não estará mais imune ao vírus em julho, no provável pico da terceira onda. É um problema? Com certeza. Tem solução? Sim. Mais vacinas!

Enquanto patinarmos na aquisição de vacinas para a imunização de massa (75% da população), seremos o país cancelado por outras nações. Nos EUA, por exemplo, passageiros que estiveram no Brasil nos últimos 14 dias não estão autorizados a entrar em território norte-americano. Um brasileiro só pode, hoje, entrar nos Estados Unidos se não tiver passado pelo Brasil antes. Essa é a regra. E, digo a vocês: sabem qual é o nome disso? Prevenção. Políticas públicas de saúde.

Nas próximas eleições, pensem nisso. Sem políticas públicas de saúde, estamos à mercê da pandemia. Votem conscientes disso. Chegou a hora de dar à saúde o tratamento que ela merece: prioridade.

*Dr. Gutemberg Fialho – Médico ginecologista e obstetra, atua em perícias médicas e detém o registro da Ordem dos Advogados do Brasil, com especialização em direito médico. É membro titular da Academia de Medicina de Brasília, presidente do SindMédico-DF e presidente da Federação Nacional dos Médicos (Fenam). Colunista semanal do Agenda Capital.

(Há opinião de nossos colunistas não representam necessariamente a linha editorial do Agenda Capital)

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