Miguel Lucena. Foto: reprodução

Por Miguel Lucena*

O italiano Antonio Gramsci chegou à União Soviética perto do fim do governo de Lênin e do início da era Stálin, no alvorecer da chamada ditadura do “proletariado”. Ele ficou abismado com o alheamento dos trabalhadores e camponeses, a quem o Partido Comunista dizia representar e de quem se achava a síntese.

A mão de ferro com que a maioria era obrigada a cumprir as determinações do Partido Bolchevique, as perseguições a quem minimamente discordava dos chefes, o fechamento das igrejas, a matança de clérigos e a imposição de uma nova religião, o marxismo, que prometia o Céu aqui na terra, deixaram o pensador italiano com a sensação de aquilo não terminaria bem.

Gramsci, que já fora camarada de Mussolini no Partido Socialista Italiano, a quem Lênin saudara com entusiasmo em 1912, quando o futuro líder fascista havia tomado as rédeas do partido, decidiu então retornar para a Itália. Acusado de ser agente soviético, acabou sendo preso e condenado.

Na prisão, Gramsci escreveu a obra Cadernos do Cárcere, em que desenvolve a tese da hegemonia cultural, sem imposição truculenta, como na Rússia, mas a conta-gotas, por meio da transformação das ideias marxistas em lugar comum.

A ideia básica de Gramsci é inverter aos poucos a lógica da ética judaico-cristã, da filosofia grega e do direito romano, pilares da civilização ocidental.

Veio a Escola de Frankfurt e adicionou temperos às teses gramscistas. Assim, desenvolveu-se a tese de que a família tradicional (“burguesa”, dizem eles) é um antro de reacionarismo e tem como função primordial preservar a propriedade privada, transferindo-a por meio de herança familiar. A monogamia é a razão da infelicidade humana. Os norteamericanos são puritanos e, por terem a sexualidade reprimida, adoram uma guerra. Para se alcançar a paz, era necessário liberar a sexualidade humana. Faça amor (sexo), não faça guerra!, era o lema executado em 1970, após Herbert Marcuse tê-lo apregoado 20 anos antes. Sexo, drogas e rock in roll. Movimento Hippie. Razões para se espalhar meninos sem pais pelo mundo.

O que era para ser uma válvula de escape virou o fim para muitos. As drogas consumiram uma parte, a Aids outra, e as guerras não terminaram, porque nada disso mudou a essência do ser humano.

As pessoas, na verdade, foram usadas como um meio para destruir os pilares que sustentam a civilização ocidental: o cristianismo, a filosofia grega (o que eles chamam de liberdade e democracia burguesas) e o direito romano, baseado na propriedade privada dos meios de produção.

Antes deles, Immanuel Kant relativizou a verdade. Mesmo se dizendo cristão, ele retirou a verdade universal de Deus para inseri-la na cabeça de cada pessoa, de maneira que o bem e o mal passaram a existir de acordo com o modo de pensar de cada ser humano.

O bem e o mal existem, e são valores absolutos. Não é possível relativizar o que machuca, fere e mata; o bem acolhe e conforta, ampara e ajuda.

O mal se infiltrou nas universidades, escolas, famílias e igrejas, de forma sorrateira, com a capa de democracia, liberdade, igualdade, fraternidade, tolerância e diversidade, e vem solapando as bases do que sustenta a sociedade, transformando o homem em demônio, marginalizando a figura do pai, desmerecendo o professor, escarnecendo dos padres que pregam a fé e a caridade, transformando homem em mulher e mulher em homem, enfim, invertendo a moralidade e acelerando a chegada do caos, do qual acreditam que surgirá um novo mundo, porque do mal surgirá o bem, da maldade a bondade, do desrespeito o respeito, da morte a vida. O Céu, porém, como sempre, será reservado para poucos.

*Miguel Lucena é Delegado de Polícia Civil do DF, jornalista, escritor e colunista do Agenda Capital

5 COMENTÁRIOS

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here