Os sonhos não morrem. Eles adormecem em nossa alma!
Chico Xavier

Era uma vez um país onde todos os seus habitantes, desde a mais tenra idade, sonhavam que um dia seriam tratados como se fossem do “primeiro mundo”.

Para isso, foram educados pelos pais, assim como seus pais foram educados pelos avós, e esses, pelos bisavós, e estes, pelos tataravós etc., com muito otimismo, com muita esperança e por que não dizer com muito entusiasmo. Acreditavam piamente que o seu destino era o de serem “grandes” o suficiente para engolir todas as desigualdades sociais, econômicas, de raça, de cor, de sexo, de religião etc. e mais etc.

Enquanto que o mundo, lá longe, atravessava a “primeira grande guerra”, nesse país, bem e exclusivamente ao seu modo, mal tinha notícias de quem morrera, porque morrera e qual o objetivo de tanta guerra e de tantas mortes.

Não muito tempo depois, atravessou a “segunda grande guerra” e, agora, com um contingente de pequenos bravos soldados, despreparados, sem armamento, sem treinamento, sem botas ou roupas para enfrentar um rigoroso inverno europeu, foram despachados para o “front”, para justificar perante não se sabe quem, que ele “não fugia à luta”.

Algumas décadas depois, vencidos alguns golpes militares, alguns lapsos de ditadura e de pseudodemocracia, eis que, gloriosamente, chega, quase que por encanto da natureza, não fosse algumas mortes, desaparecimentos misteriosos e perdão generalizado, a uma nova concepção de vida, agora chamada de “democracia plena”.

Todos foram às ruas e, como seus bons e pacatos antepassados, festejaram, dançaram, beberam e comemoraram os novos tempos, embora muitos deles não soubessem muito bem do que se tratava, mas, já que tudo parecia festa, vamos festar!

Duraram pouco, muito pouco, os poucos motivos para tanta festa e a realidade começou a chegar. Primeiras notícias esparsas em algumas revistas que teimavam em divulgar notícias ruins. Eram tão poucas as notícias ruins que a corte imperial nem se deu ao trabalho de desmentir. O seu “esquema” de divulgação de coisas boas era tão eficiente que todo mundo se sentiu aliviado, chegaram até a dizer que “era uma marolinha” e, mais uma vez, a alma bondosa de um povo retumbante fez de conta que sua corte imperial era mesmo a mais “bacana” do mundo.

Não tardou muito e “o castelo caiu”, literalmente. Eram tantas as mazelas que se desnudavam no horizonte, que esse “bravo povo” começou a se conscientizar que roubaram dele o mais valoroso de todos os seus bens: “o direito de continuar sonhando”. Aliás, já nos tempos das antigas senzalas ou dos guetos de Varsóvia o objetivo principal do algoz era esse mesmo: “matar o sonho de quem se atrevesse a tamanha aventura”.

E sonhar passou a ser um bem inalcançável, irrealizável, pois se ele, lá atrás venceu o medo, hoje engole a esperança e nos deixa mais pobres e desmoralizados, muito parecidos com as vítimas dos estelionatários.

Roubaram, sim, o maior patrimônio dos habitantes daquele país. Roubaram o direito de sonhar, de acreditar no ser humano e de ver que o futuro já não lhe pertence, nem a seus filhos, nem a seus netos, mas apenas à uma alcateia de lobos famintos. Para onde correr? Tomara que Chico Xavier tenha razão: “os sonhos não morrem, eles adormecem em nossa alma”.

Colaboração: Lourival Zagonel – Ex-Diretor Geral do Senado Federal e atual presidente da Associação dos Servidores Ativos e Pensionistas do Senado Federal

 

Delmo Menezes
Gestor público, jornalista, secretário executivo, teólogo e especialista em relações institucionais. Observador atento da política local e nacional, com experiência e participação política.

2 COMENTÁRIOS

  1. Eis ai um bom resumo das nossas histórias, cotidianas. O fato é que faz-se necessário que, não abramos mão dos nossos sonhos. Eu costumo dizer que, um sonho pra se tornar realidade é preciso ser sonhado antes. Contudo, não basta apenas sonhar, urge que todos e cada um de nós comecemos o mais rápido a trabalhar para que os sonhos, sonhados se concretizem.

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