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Há outros fatores envolvidos quando a gente deseja crescer

Por Marcelo Miranda*

Poder é uma palavra que passou a ser mal interpretada nos últimos tempos. Com o Brasil – e vários outros países – vivendo experiências de pessoas que usam o poder para enganar e fazer o mal, ficou natural termos desconforto só de pensar em sermos poderosos.

Mas não podemos nos enganar e achar que não precisamos dele. Vejo muita gente competente, que sabe muito bem fazer seu trabalho, sem alcançar resultados na carreira. São pessoas que não conseguem lidar bem com esse conceito.

O poder é uma necessidade inevitável para quem tem ambição.

Não basta fazer um bom trabalho. Há outros fatores envolvidos quando a gente deseja crescer.

Como já venho indicando várias leituras que considero importantes para o desenvolvimento profissional e, claro, de liderança, aproveito hoje para falar sobre o livro “Poder: Por que alguns têm”, de Jeffrey Pfeffer.

Conheci o professor Pfeffer em meu MBA em Stanford. Ele lecionava uma disciplina nada comum chamada “Caminhos para o poder”, e eu resolvi fazer a matrícula. Depois do curso, ficamos próximos e ainda mantemos contato, conversamos de tempos em tempos.

Ele sempre tem o papel de lembrar que, se alguém deseja fazer algo grande para o bem, primeiro é preciso construir seu espaço na organização, depois “proteger sua cadeira” para que, então, possa realizar. Isso é usar o poder para o bem. Pfeffer diz:

“Você precisa de duas coisas para obter sucesso: saber o que fazer e cultivar a capacidade política de como mandar fazer.”

Poder tem mais a ver com a capacidade de influência do que com hierarquia, porque vemos pessoas com potencial de influenciar em múltiplos níveis. Essa é a essência do poder que quero descrever neste artigo. Como prestar atenção e ampliar a nossa capacidade de influenciar as pessoas no que fazemos.

É por isso que poder demanda networking. Você precisa das pessoas certas para crescer e alcançar seus objetivos. Como se conectar com quem vai ser relevante para a sua trajetória? No vídeo abaixo, o professor menciona a importância de usarmos melhor o nosso tempo para estabelecer os vínculos necessários.

O que aprendemos sobre poder

Para tentar deixar mais claro e prático – na medida do possível –, vou falar um pouco melhor do que aprendi sobre poder com Jeffrey Pfeffer e com a minha experiência de liderança desde muito jovem.

Networking

O primeiro aprendizado para o poder é mapear a estrutura de poder em sua organização.

Quem são as pessoas que podem influenciar naquilo que faz diferença pra você?

Como são essas pessoas, do que elas gostam, do que não gostam?

A aproximação de quem tem poder faz parte do processo para o seu poder.

Cada organização tem suas peculiaridades e, por isso, o poder pode ser formal e informal, vindo do alto escalão ou não. E que fique claro que não tem nada a ver com “puxar o saco”, não tem nada a ver com o perfil de alguns babacas corporativos que tentam somente usar as relações para crescer. O que estamos falando aqui é como fazer um bom trabalho aparecer, e não como se destacar, mas sem um bom trabalho.

Então, entendendo melhor as pessoas, fica mais fácil compreender as mensagens, mesmo as implícitas, os valores, as expectativas. A sua reação irá depender da sua habilidade de observação. Lembre-se: não leve tudo para o lado pessoal ao tentar se conectar e não receber abertura em todo momento. Um dia ruim não significa uma pessoa ruim. Às vezes, é preciso ter paciência e persistência.

Interesse

Ressignifique a palavra “interesse”, da mesma maneira que agora você já consegue compreender que poder não é algo ruim e você pode desejá-lo. Para quem busca crescer, a relação com as pessoas certas exige também interesse. Interesse genuíno nas pessoas, de como compreendê-las bem para poder obter o melhor de sua relação e conseguir alinhar objetivos para o bem – nada de usar as pessoas, por isso, não confunda.

Em muitas das vezes, nossa forma de tratar pessoas precisa ser diferente. Há situações que pedem habilidade de comunicação diferenciada, assim como a postura de líder.

Para ser respeitado, quem tem poder precisa agir com confiança, pois cabe a ele transmitir isso aos demais. Não é soberba, é segurança de posicionamento.

Como se apresentar às pessoas, como se apresentar em reuniões, como expor as ideias. As pessoas tendem a julgar rápido, então, as primeiras impressões fazem diferença. Comunicação de poder não são apenas palavras, mas também postura, linguagem corporal e outras formas de expressão.

Pessoas diferentes podem demandar tratamentos diferentes, e seu nível de confiança e influência faz toda a diferença na abordagem que você fará a cada uma delas. Compreender gerações, culturas e saber como agir e se adaptar. Tudo isso tem a ver com poder.

Escolhas

Todo começo em uma empresa é sinônimo de pilhas de atividades, projetos e um mar de novas relações. Poder exige inteligência para escolher tudo que realmente fará a diferença para uma primeira impressão, ou seja, que terá impacto rápido e irá te projetar à frente mais rápido.

O mesmo vale para as relações, como disse acima, sobre mapear a estrutura de poder e cuidar dos relacionamentos que vão te ajudar a caminhar com mais velocidade.

Emoções

Você não vai gostar de todo mundo e com certeza alguns não vão gostar de você. E tudo bem. Pfeffer já lembrou em várias ocasiões que empresas gostam de quem gosta de trabalhar, de quem entrega resultados. É simples.

Se podemos fazer isso em um ambiente agradável, muito melhor, é o que devemos buscar, mas não devemos nos bloquear quando encontramos pessoas difíceis no caminho. Se temos certeza de nosso propósito, de nosso objetivo, temos que saber conviver e vencer as relações com pessoas de todo tipo.

Não podemos deixar que emoções nos abalem. Mesmo quando fazemos nosso melhor e somos positivos com as pessoas, pode acontecer de não recebermos isso em troca. Não deixe que suas impressões sentimentais atrapalhem você.

Seja inteligente, suprima seus sabotadores internos para conseguir executar seus objetivos. Além disso, não bloqueie alguém só porque você não gosta dessa pessoa. Faça o que tem de ser feito, como adulto, faça dar certo apesar dessa pessoa, pois é assim que você caminha para frente.

O líder deve ser fiel às situações, a ponto de transmitir confiança a quem depende dele, ainda que ele mesmo não esteja confiante. Interpretando os estudo de Pfeffer, precisamos de domínio de nossas emoções, de forma a usar aquelas que fazem sentido para o jogo.

Foco

Você não precisa ter amigos no trabalho, mas certamente precisa de objetivos. Então, fale o que tem de ser dito, não o que as pessoas querem ouvir. Todos estão ali para alcançar o objetivo da empresa – e cada um tem as próprias metas pessoais.

Educação é premissa. Se puder ser amável e agradável, ótimo, mas lembre-se de que não é por isso que você está na empresa. Falar o que tem de ser dito, de forma respeitosa mas clara e objetiva, também é sinal de respeito com os objetivos do grupo e com os indivíduos, principalmente em momentos complicados de mudanças, de feedback ou demissões, por exemplo. A simplicidade no trato, mas de forma objetiva, é uma forma muito clara de transmitir respeito sem passar a mão na cabeça das pessoas, sem fingir. Fazer o certo, dizer nas horas certas o que tem de ser dito, sem procrastinar.

Especial

Pessoas de poder – ou que assim desejam – querem sentir-se especiais. E você deseja se conectar com quem importa para você. Por isso, quando for conversar com alguém no trabalho, dar atenção genuína, sem distrações, telefonemas etc., é uma orientação de ouro para estabelecer a conexão. Demonstre importância e que, de fato, está ali e disponível.

Conectar de fato faz as pessoas se sentirem importantes, e facilita que, inconscientemente, depois estejam abertas à exposição de suas ideias.

Se você tem uma posição importante na organização, todos que chegarem até você vão esperar receber o melhor de você, com energia. Não importa se for por 40 segundos ou 30 minutos. Cada segundo é muito importante na maneira como você transmite sua mensagem para a cultura da empresa.

As pessoas querem se sentir importantes e especiais, querem que você tenha energia para elas. Ou seja, se você estiver se sentido mal no dia, as pessoas vão interpretar sua energia como se fosse o interesse nelas. Tenha cuidado com isso.

Reconhecimento

Tão importante quanto fazer bem é ser notado pelas pessoas certas. Reconhecimento significa que pessoas importantes para a sua trajetória estão enxergando você e seus resultados.

Suas alianças e parcerias nem sempre serão óbvias, então, aprenda a construir pontes. Networking não é a quantidade de gente nas suas redes sociais, mas a sua capacidade de dedicar atenção a pessoas estratégicas que, pouco a pouco, irão formar um grupo que pode te ajudar adiante.

Num mundo em que tudo é muito parecido, às vezes fazer o que ninguém quer fazer, estar onde ninguém quer estar, pode ser justamente o seu caminho para construir um diferencial. Fuja do trivial.

Agora, fundamental: o bom trabalho é a base de tudo. A ideia aqui é como poder multiplica o resultado de um bom trabalho, cuidando melhor das relações, da influência positiva, da imagem. Conheço gente muito competente que não avança, não consegue realizar seus projetos. Um bom trabalho às vezes somente não é suficiente. Mas sem ele, nada disso funciona. A base é um bom trabalho, não se confunda.

Se você for capaz de combinar networking com trabalho autêntico e bom de verdade, terá a base para a realização do seu próprio poder. A gente só precisa tirar bunda da cadeira (TBC) e fazer!

*Marcelo Miranda é o CEO da Consolis Tecnyconta na Espanha, filial espanhola do grupo multinacional francês Consolis, É um executivo reconhecido na criação de inovações que levam ao desenvolvimento sustentável. Foi recentemente por 8 anos o CEO da Precon Engenharia. É Engenheiro Civil pela UFMG, com MBA em Stanford e especializações em Harvard, Columbia e Singularity University. Faz parte da lista dos 10 CEOs de destaque do Brasil (Portal Administradores)

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