As crianças estão no centro de um dos maiores dilemas da saúde pública da capital federal. A assistência infantil pode entrar em colapso caso a rede particular de hospitais encerre as atividades. O sinal de alerta parte da Secretaria de Saúde, que garante não ter como absorver toda a demanda da cidade.

A crise instalada na especialidade obrigou o Executivo a extinguir a oferta do serviço em todas as unidades de pronto atendimento (UPAs) e nos hospitais regionais de Santa Maria e Samambaia. Em Planaltina, Gama e Guará, a escala conta apenas com um profissional na maioria dos dias. Ao todo, 18 leitos de internação infantil estão fechados. Atualmente, há 600 pediatras no sistema, entre os que atendem nas unidades médicas, cargos administrativos e de gestão.

O maior entrave, segundo o governo local, está ligado à falta de interesse dos profissionais em assumir os cargos. Entre fevereiro e março, a pasta convocou 27 pediatras. Contudo, apenas nove tomaram posse. Isso significa que 66% dos chamados não manifestaram vontade de trabalhar nos hospitais públicos. Nem as remunerações iniciais de R$ 6,3 mil, para jornada 20 horas semanais, e R$ 12,6 mil, para 40 horas, atraem. Os salários podem subir para valores entre R$ 9,5 mil e R$ 19 mil, a depender das gratificações por titulação e insalubridade.

Uma das metas do governador Rodrigo Rollemberg (PSB), no início do mandato, era atenuar os problemas na pediatria e na atenção básica. Entretanto, após 15 meses, as dificuldades continuam. Segundo Henrique Flávio Gonçalves Gomes, coordenador da pediatria da Secretaria de Saúde, a pasta elabora estudos para avaliar quais as condutas devem ser tomadas. “Trabalhamos com os mesmos hospitais. Nada foi criado. A derrocada foi o corte de horas extras e de profissionais temporários”, explicou.

Colapso

Os hospitais particulares da capital federal estão desativando as UTIs e emergências pediátricas por serem pouco rentáveis. Isso ocorre porque a maioria dos pacientes não demanda procedimentos, como ocorre em internações de adultos. Assim, torna-se caro manter as instalações. Os prontos-socorros não dão prejuízo, mas também não garantem lucro, como o Correio mostrou na edição de ontem.

Florentino Araújo Cardoso Filho, presidente da Associação Médica do Brasil (AMB), afirma que existem médicos, mas as condições de trabalho na rede pública não são atraentes. “É a lei de mercado. As capitais todas estão adquirindo esse perfil. O problema é que, quando se diminui o número de leitos, se dificulta o acesso. É difícil mudar o cenário. É o dono do hospital visando lucro para a empresa”, argumentou.

Henrique Flávio Gonçalves Gomes, coordenador da pediatria da secretaria, diz que é preciso um debate amplo sobre a situação. Para ele, os serviços devem funcionar de forma integrada. “Falta um acordo para se compartilhar o trabalho. Se todo mundo tiver o pensamento de visar o lucro, a especialidade entra em colapso. Hoje, o que vivemos é uma crise. Se isso realmente se concretizar, o Sistema único de Saúde começa a ruir. Vai ser muito difícil a rede pública absorver a demanda.”

Fonte: Correio

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