Durante a conversa, que durou quase uma hora, o jornalista abordou o auge e o declínio da carreira empresarial e política do ex-senador

Por Redação

Preso no Complexo Penitenciário da Papuda, o ex-senador Luiz Estevão falou pela primeira vez a um veículo de comunicação desde o dia 7 de março de 2015, quando passou a cumprir pena em regime fechado. Na noite deste domingo (28/5), o SBT exibiu entrevista exclusiva com o empresário no programa Conexão Repórter, apresentado pelo jornalista Roberto Cabrini.

Durante quase uma hora de conversa, o SBT Repórter recontou a história do ex-senador, exibindo momentos desde o seu auge na política até o calvário nos tribunais e a atual manutenção de um império empresarial e de um patrimônio bilionário mesmo atrás das grades.

Para ter acesso ao Centro de Detenção Provisória (CDP), onde o ex-senador está detido, Cabrini precisou de autorização da Vara de Execuções Penais (VEP), que, embora tenha permitido a abordagem a Luiz Estevão, não franqueou o acesso da equipe de reportagem às dependências internas das celas, onde ele está preso com outros 43 apenados.

Ao longo da entrevista, Cabrini questiona o ex-senador sobre os pontos mais nevrálgicos da acusação de desvio de recursos das obras do Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo (TRT-SP). A denúncia de 1998 resultou em condenação de 26 anos em regime fechado pelos crimes de peculato, formação de quadrilha e corrupção ativa.

“Você é corrupto?”, questiona o repórter em um dos momentos mais tensos da entrevista. E o ex-senador responde “não”. Cabrini insiste “mas é o que o Ministério Público e a Justiça dizem a seu respeito” e Luiz Estevão, então, afirma que nunca teve a chance de provar sua inocência, apesar do tempo transcorrido entre o início do processo e o trânsito em julgado.

Segundo Luiz Estevão — que foi absolvido na primeira instância, mas condenado na segunda –, ele recorreu ao Superior Tribunal da Justiça (STJ) na tentativa de que a Corte reconhecesse o contrato firmado entre sua empresa e a Incal, alvo das investigações. A ausência da papelada demonstrando a formalização do acordo entre as firmas foi o que lhe rendeu a condenação de oito anos e meio por peculato. “O STJ usou a Súmula 7 para alegar que reconhecer o contrato significaria o reexame de provas, o que a Súmula não admite”.

O ex-senador citou que recorreu ao Supremo, instância que também se recusou a reavaliar o caso, porque não se tratava de assunto constitucional. Nesse momento da entrevista, Luiz Estevão usou analogia para traçar um paralelo com sua situação. “É como se uma pessoa acusada de assassinato encontrasse a suposta vítima depois do ocorrido, viva, e a Justiça não aceitasse o fato como prova por uma questão de formalidades”, disse Luiz Estevão.

O jornalista perguntou sobre os planos do ex-senador para futuro. Luiz Estevão disse que espera retomar o convívio com a família enquanto busca uma revisão criminal de suas penas, que, segundo ele, são “maiores do que o limite máximo imposto pela lei.

Um dos argumentos que Luiz Estevão busca reacender na Justiça é que a imputação do crime de formação de quadrilha seria incoerente com a tese de corrupção ativa, motivo pelo qual foi condenado. Isso porque, de acordo com seu raciocínio, se todos foram condenados por fazer parte da mesma quadrilha, como poderia ele ter corrompido um membro desta mesma quadrilha?

Toda a entrevista ocorreu em uma pequena sala cedida pela direção da Papuda para a gravação do programa. Em determinado trecho da conversa, Cabrini pergunta sobre a rotina de Luiz Estevão na cadeia. O ex-senador responde que gasta 90% de seu dia lendo, que já consumiu mais de 100 títulos, mas que o tempo na prisão é diferente: “não passa”. “Nos cemitérios normais, os mortos dormem de dia e passeiam à noite. Aqui é o contrário, as almas penadas perambulam de dia, é o cemitério dos vivos”, disse.

Em um dos blocos da entrevista, Cabrini abordou a fortuna e os negócios que Luiz Estevão mantém mesmo depois de sua condenação e prisão. Mostrou as duas Ferraris e o jatinho que o empresário guarda no jardim de sua casa no Lago Sul.

Luiz Estevão afirmou que preserva seu patrimônio, estimado pelo jornalista em R$ 33 bilhões. E, questionado sobre “como Luiz Estevão vai passar para a história”, ele respondeu: “Se eu conseguir restabelecer a verdade, como um realizador”.

Confira a entrevista:

Da Redação com informações do Metrópoles

Delmo Menezes
Gestor público, jornalista, secretário executivo, teólogo e especialista em relações institucionais. Observador atento da política local e nacional, com experiência e participação política.

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