Na noite desta quarta-feira (01), na sede do Sindicato dos Médicos do DF, aconteceu um acalorado debate, cuja pauta principal foi a ortopedia dos hospitais do DF. Os ortopedistas da Secretaria de Saúde do DF, trouxeram à tona toda sua indignação em relação ao descaso com a especialidade na rede pública de Saúde do DF.

O debate contou com a presença do secretário de Saúde, Humberto Fonseca; a secretaria adjunta, Eliene Berg; o subsecretário de Atenção Integral à Saúde, Daniel Seabra; o coordenador da ortopedia, Fabiano Dutra; o assessor do deputado distrital Wellington Luiz (presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito da Câmara Legislativa do DF), Johnson Mesquita; o diretor do Hospital de Base do DF, Tadeu Palmieri; representantes do Conselho Regional de Medicina (CRM), chefes e membros das equipes médicas das Unidades de Traumatologia e Ortopedia (UTOs).

SindMédico e ortopedistas Secretaria de Saúde DF (10)Um dos assuntos que “esquentou” a reunião, foi a situação de 30 pacientes que se encontram internados nas oito Unidades de Traumatologia e Ortopedia (UTOs), da rede pública, e que necessitam, com urgência, de cirurgia do quadril. Porém, o que mais chamou atenção, foi que em relação a estes pacientes, o problema não é a falta de médicos ortopedistas e traumatologistas, e sim a falta de próteses de artroplastia, anestesistas, insumos básicos para qualquer cirurgia e leitos de UTI.

“Lamentavelmente os pacientes continuarão aguardando por tempo indefinido pelas providências da Secretaria de Estado de Saúde do DF (SES/DF), pelo remanejamento das poucas próteses existentes e aquisição emergencial das que faltam”, ressaltou um dos ortopedistas presentes na reunião.

Os problemas apontados (de forma dramática) pelos ortopedistas implicam riscos de morte para os pacientes, problemas judiciais para os médicos e aumento de custos para o serviço público. Segundo um dos médicos ouvidos pelo blog, “faltam vários itens na Órtese, Prótese e Materiais Especiais (OPME), que sem eles, é impossível realizar qualquer cirurgia ortopédica”, afirmou.

Alguns especialistas da área de ortopedia ouvidos pelo Agenda Capital, ressaltaram que a forma de aquisição desses insumos, faz com que “sobrem próteses e materiais menos usados e que faltem os mais necessários, desperdício que resulta em prejuízo aos pacientes”. O ideal segundo eles, seria a aquisição destes materiais através de consignação, modelo que é utilizado em todo o Brasil, por várias Secretarias de Saúde Estaduais e Municipais.

SindMédico e Secretaria de Saúde DF (1)Outro problema grave na opinião dos profissionais médicos, são os equipamentos quebrados e sem cobertura contratual, como por exemplo, no Hospital Regional do Paranoá, que impedem a realização de procedimentos. Cirurgias de colo de fêmur e fêmur, que deveriam ser realizadas em 48 horas e permitiriam alta médica em menos de uma semana, demoram mais de um mês para serem feitas, em decorrência disso.

Foi debatido a permanência prolongada em ambiente hospitalar, normalmente em leitos e macas nos corredores das emergências dos hospitais, o que expõe o paciente a infecções oportunistas, a escaras e sofrimento psicológico. A proporção dos que necessitam de internação em UTI após esse tipo de procedimento, feito nas primeiras 72 horas, é de um para dez. Essa proporção passa a sete para dez, se a cirurgia for realizada após esse prazo.

A demora nas cirurgias pode provocar sequelas e encurtamento da expectativa de vida, segundo especialistas. “Um idoso submetido a essas condições pode vir a óbito de um a três anos após a internação, devido o tempo prolongado de internação, pelo aumento no consumo de medicamentos e alimentação e pelo aumento da complexidade dos procedimentos necessários, fora os custos hospitalares que aumentam a ponto de ser mais vantajoso para o governo do DF, pagar pelo atendimento do paciente na rede privada”, concluiu.

Outro ponto discutido, foram as ações judiciais, movidas pelo Ministério Público, sujeitando a condenação criminal e pagamento de multas altíssimas (há casos que chegam a R$ 200 mil), declarou o presidente do Sindmédico, Gutemberg Fialho. Segundo Gutemberg, “os médicos são apontados como responsáveis por não prestarem a assistência, mas que é impossível pela falta de material, equipamentos e pessoal, fazê-lo. Isso pode induzir um êxodo desses profissionais do serviço público” finalizou.

O secretário Humberto Fonseca, afirmou ter conhecimento das dificuldades enfrentadas, e que a Secretaria busca soluções. Ressaltou, que a iniciativa de reunir as entidades, os profissionais gestores e outros atores é importante para superar a situação que se alonga há tempos. “Em relação à falta de material cirúrgico, sim, temos um problema, porque tentamos fazer essa aquisição há alguns meses com frustração, primeiro por questão de orçamento, depois porque as atas a que pretendíamos aderir venceram. Temos, hoje, um processo que estamos acelerando para fazer essa compra”, informou.

O coro dos especialistas presentes foi a urgência. “O tempo da burocracia não atende à urgência do paciente. O risco de morte aumenta com o passar de horas. Não estamos falando de algo que possa esperar semanas ou meses”, enfatizou o presidente do Sindmédico-DF, Gutemberg Fialho.

SindMédico e Secretaria de Saúde DF (36)A secretária-adjunta, Eliene Berg, informou que existem 20 próteses, do tipo que os 30 pacientes atuais necessitam, contudo, estão reservadas por ordem judicial. Disse ainda, que está sendo feito um esforço para a liberação no menor prazo possível, mas existem procedimentos legais a serem cumpridos.

Sugestões apresentadas pelos ortopedistas para equacionar o problema:

– Estabelecer entendimento com o Ministério Público e o Tribunal de Contas do DF, para a aquisição de OPMEs por meio de consignação, com fornecimento de material de modelo e tamanho nas quantidades necessárias, para resposta rápida à necessidade dos pacientes e eliminação de desperdício de recursos financeiros;

– Retomar o programa fila-zero, para eliminação das filas de espera dos pacientes ambulatoriais, turnos alternativos, nos quais os médicos realizem cirurgias de pequeno porte no período noturno, quando as salas de cirurgias estão disponíveis em maior quantidade;

– Realizar imediatamente concurso público para contratação de anestesistas.

Os médicos ortopedistas também se comprometeram a fazer levantamento das Secretarias de Saúde do País que utilizam o sistema de consignação, e dos modelos de contrato para essa modalidade de aquisição de material de órtese e prótese.

SindMédico e Secretaria de Saúde DF (2)Não foi apresentada nenhuma proposta concreta por parte da Secretaria de Saúde, para solução imediata das emergências. Os ortopedistas aguardarão reunião na próxima semana, com a presença do Ministério Público e da Defensoria Pública para posicionamento da Secretaria.

Da Redação do Agenda Capital

3 COMENTÁRIOS

  1. Falaram que tinha próteses para 50 anos! O que houve?
    Saiu até na globo! Quem fez essa declaração queria aparecer ou tinha conflito de interesses? O que houve por que está faltando tudo após 1 ano e 6 meses? Faltou coordenação ? Gestão ? Porque acabaram com o fila zero que eu criei? Aviseisei? Tentei ajudar fui perseguido e agora José? Gente aleijada! Gente morrendo ? E não sai nada?
    É triste para quem sofre! No silêncio dos inocentes…

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