Em delação, o ex-executivo da Andrade Gutierrez Carlos José relata a entrega da quantia em seis parcelas dentro do Estádio Mané Garrincha

Por Manoela Alcântara

As delações contidas no inquérito da Polícia Federal, ao qual o Metrópoles teve acesso, revelam que para acertar os pagamento de propina longe dos holofotes e lugares óbvios, os executivos da Andrade Gutierrez e os interlocutores de gestores do Governo do DF se encontravam em espaços públicos, abertos e até inusitados. No caso do ex-governador José Roberto Arruda (PR), a negociação de R$ 2 milhões pela obra do Estádio Mané Garrincha ocorreu em uma calçada, na 114 Sul, em frente à Panificadora Belini.

Os detalhes do acerto foram contados pelo ex-executivo da empreiteira, Carlos José de Souza. Ele afirmou que o encontro ocorreu em 2013 entre ele, Sérgio Lúcio Silva de Andrade, homem indicado por Arruda para receber o dinheiro, e outro funcionário da Andrade Gutierrez, Flávio Machado.

“Em breve conversa na calçada, Flávio informou que Lúcio seria o interlocutor de Arruda, responsável por receber os R$ 2 milhões em nome do governador”, disse Souza em colaboração premiada formalizada e homologada pelo Supremo Tribunal Federal (STF). E que os desembolsos seriam feitos à medida que a empresa conseguisse os recursos.

De acordo com o delator, a propina teria sido paga em seis vezes, dentro da arena brasiliense que abrigou os jogos da Copa de 2014, a Sérgio Lúcio da Silva de Andrade.

Carlos José ainda teria sido informado por Clóvis Primo e Rodrigo Lopes, também ex-executivos da construtora, que seria necessária uma previsão futura do pagamento de 5% sobre a obra do estádio, a título de propina, para Arruda.

Foto: reprodução

Prisões

Arruda foi preso na manhã desta terça-feira (23/5), pela Polícia Federal, devido à suspeita de fraudes e desvios nas obras da arena. Orçado em R$ 600 milhões, o estádio custou cerca de R$ 1,6 bilhão. Ele está preso na carceragem da PF, juntamente com o ex-governador Agnelo Queiroz (PT), o ex-vice-governador Tadeu Filippelli (PMDB) e mais sete pessoas, entre elas o ex-secretário da Copa, Cláudio Monteiro, e os ex-presidentes da Novacap, Nilson Martorelli, e da Terracap, Maruska Lima.

O advogado de defesa de José Roberto Arruda, Paulo Emílio Catta Preta, afirmou não reconhecer esses fatos. “Arruda não recebeu e nunca determinou o recebimento dessas quantias”, ressaltou. Catta Preta entrou na Justiça, nesta quarta (24), com o pedido de revogação da prisão do cliente. “Esperamos antecipar esse prazo de cinco dias”, disse.

As prisões foram pedidas pela delegada da Polícia Federal Fernanda Costa de Oliveira e autorizadas pelo juiz Vallisney de Souza Oliveira, da 10ª Vara da Justiça Federal, no âmbito da Operação Panatenaico.

Mentor
Para a Polícia Federal, o ex-governador José Roberto Arruda (PR) é o “mentor de toda a fraude licitatória” envolvendo o estádio Mané Garrincha. Segundo as investigações, Arruda, mesmo preso no âmbito da Caixa de Pandora, em 2010, pressionava pelo recebimento da propina, que foi paga em 2013, quando ele já estava solto.

Ao pedir a prisão dele, a delegada afirmou que Arruda “liderou no início a associação criminosa em conluio com as construtoras, havendo indícios de práticas suas de delitos de fraude à licitação e lavagem de dinheiro”.

De acordo com o pedido de prisão formulado pela PF e aceito pela 10ª Vara Federal, na qualidade de governador, em 2009 e 2010, Arruda tramou todo o esquema ao articular a saída de outras construtoras da licitação e apontar e determinar desde logo as vencedoras: construtoras Andrade Gutierrez e Via Engenharia, mediante recebimento de propina.

“Como em razão de sua prisão não pôde receber todo o dinheiro, segundo os relatos, pressionou para receber parte do dinheiro que as construtoras haviam lhe repassado depois de sua liberdade, em 2013, quando obteve êxito parcial em seu intento. Para tanto, foi auxiliado pelo investigado Sérgio Lúcio Silva de Andrade como seu representante e receptor do dinheiro”, destaca a Polícia Federal.

Da Redação com informações do Metrópoles

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