Por Miguel Lucena

Miguezim de Princesa

I

Como Cid e Ciro Gomes,

É difícil de encontrar:

Os dois são descachimbados,

Qualquer coisa pegam ar,

Quebram a louça, apagam a luz,

Nem pedindo por Jesus,

Quem quiser vá se lascar!

II

Ciro já enfrentou claque

Na saída de um bar,

Chamou os bêbados pra briga

Com uma pedra de amolar,

Depois pegou um porrete:

Quem vier leva cacete,

Morre doido de apanhar!

III

Cid esteve no Congresso,

Quando era governador:

Desafiou deputado,

Deu esbregue em senador,

Chamou de interesseiro,

Olho gordo por dinheiro,

Corrupto e atravessador.

IV

Esta semana em Sobral,

Cidade do Ceará,

Reduto dos irmãos Gomes,

Cid deu pra endoidar,

Disse: – Hoje acabo a feira!

E, com um trator de esteira,

Quis uma greve acabar.

V

É uma greve muito tensa

Da Polícia Militar,

Os quartéis foram fechados

Pro “povo” se amotinar,

Aí Cid disse: – Eu resolvo!

Comeu dez cascas de ovo

E uma bicada pra animar.

VI

Segurou um megafone

E deu a ordem final:

Ou vocês acabam a greve,

Completamente ilegal,

Ou eu viro uma caipora,

Se brincar me vou embora,

Nunca mais ando em Sobral!

VII

Eu só dou cinco minutos

Pra essa greve acabar!

Vou pegar esse trator,

O portão vou derrubar

E quem ficar pela frente,

De soldado até tenente,

Comigo vai se lascar!

VIII

Cid subiu no trator

E avançou no portão,

Derrubou portão e gente,

Foi a maior confusão,

E, nesse frenesi louco,

Se ouviu mais de um pipoco

No meio da multidão.

IX

Dois tiros acertaram Cid,

Bem perto do coração,

Ele desceu do trator,

Com uma coragem de leão,

E disse: – Podem atirar!

Quanto mais bala pegar,

Mais eu ganho a eleição!

X

Cid foi logo internado,

Sem perigo de morrer.

No hospital, inda bravo,

Com a bala ainda a ferver,

“Sei que vou morrer uma dia”,

Não quis nem anestesia,

Que só presta se doer.

*Miguel Lucena – Delegado de Polícia Civil do DF, jornalista e escritor.

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