Por Miguel Lucena

O fanático não tem parentes ou amigos. Suas relações se forjam em torno da causa que abraça. Ele não enxerga virtudes individuais em ninguém. Mudou de posição, os laços imediatamente se rompem. E não titubeia em largar para trás a família.

É uma pessoa que odeia o mundo em que vive, onde não encontra sentido para a vida. Apega-se à causa de um grupo, cria uma realidade paralela e ignora tudo o que não estiver de acordo com a verdade em que acredita.

Por isso, o fanático é inconfiável. É uma pessoa que pode, de uma hora para outra, deixar o suposto amigo morrer à míngua ou criar situações para que terceiros massacrem aquela pessoa porque deixou de comungar de seus pensamentos delirantes.

O fanatismo separa as pessoas entre as boas – as que defendem a mesma causa – e as más – as que se posicionam contra ou de forma independente. As demais pessoas são vistas como massa manipulável pelo discurso.

Mesmo que o sujeito seja assaltante, estuprador, estelionatário e psicopata, é considerado do bem se estiver com a causa do fanático. “Mexeu com ele, mexeu comigo!”, adverte.

Quando alguém pondera sobre a conduta de algum grupo ligado à causa, o fanático já aponta para outro lado e desfia as misérias do mundo, dizendo que tudo são detalhes e o mais importante é a construção de um outro mundo.

Não importa os meios – assassinatos em massa, corrupção, destruição das famílias, o fim da liberdades, a mentira e a força bruta -, os fins justificam tudo.

O fanático não tem amigos, apenas interesses.

Miguel Lucena é Delegado de Polícia Civil do DF, Jornalista e Colunista do Agenda Capital

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