Em entrevista, o presidente do processo do impeachment na Câmara dos Deputados, deputado Rogério Rosso (PSD-DF), perguntado sobre o placar da votação para domingo (17), prefere deixar para os céus: “Só Deus sabe”

No olho do furacão, o deputado federal Rogério Rosso (PSD-DF) diz que a comissão especial que analisou a admissibilidade do impeachment da presidente Dilma Rousseff na Câmara dos Deputados trabalhou à luz da Constituição. Observa que é preciso separar o processo de impedimento da crise econômica e que votou com o relator da comissão que presidiu para que o Senado julgue a presidente. Sobre um palpite para o  placar no plenário da Câmara, ele prefere deixar para os céus: “Só Deus sabe”.

O senhor assumiu, nos últimos dias, um papel de protagonismo em todo o processo de impeachment.  Como foi presidir uma comissão tão decisiva e em um momento tão importante?

Jamais imaginei que, neste nosso primeiro mandato, eu assumiria tamanha responsabilidade em presidir a comissão do impeachment, em um momento muito delicado da política nacional. Porém, procurei cumprir minha responsabilidade com muita serenidade, humildade e, principalmente, respeito à Constituição e ao ordenamento jurídico do País. Na comissão, respeitamos o mandamento constitucional na plenitude, bem como o devido processo legal e, em especial, a ampla defesa. Se comparada com o impeachment de 1992, naquela época, nem sequer a defesa foi ouvida durante os trabalhos da comissão que fez apenas três reuniões. Desconsiderei a delação do senador Delcídio do Amaral como parte da denúncia e me ative plenamente à  Constituição, à decisão do STF quanto ao rito do impeachment, à Lei 1079/50 e ao regimento da Câmara. Fizemos 11 reuniões com mais de 40 horas de debates, discussões e deliberações. Tudo acompanhado com transparência pela opinião pública e em tempo real.

Havia muita expectativa com relação ao seu voto. O senhor não antecipou e acabou votando pela admissibilidade do impedimento.  Por que tomou essa decisão?

Estudei as mais de seis mil páginas da denúncia, li com atenção a defesa da presidente e também o parecer do relator, deputado Jovair Arantes. Tivemos, na comissão, audiências públicas para esclarecimento da denúncia e consultei especialistas e juristas. Formei minha convicção de que devemos deliberar pela admissibilidade da denúncia na Câmara, para que o Senado  processe e julgue a presidente dentro dos critérios constitucionais. Na comissão, exerci meu voto conforme minha prerrogativa, atribuição e   dever constitucional.

O senhor não acredita, então, que o impedimento pode ser tratado como golpe, como tem insistido os aliados da presidente Dilma?

O impeachment está previsto na Constituição. O STF dedicou  grande tempo para deliberar sobre o rito do impeachment no Congresso. Todas as etapas estão sendo cumpridas à luz da Constituição. Portanto, não há que se falar em golpe. Golpe é não respeitar a Constituição.

Há especulações de que, em um possível governo de Michel Temer, o senhor assuma o Ministério das Cidades. Há negociação neste sentido?

Em momento de instabilidade política, o imaginário  humano e as especulações são naturais e amplificam-se.  Não tem o menor fundamento isso. Fui eleito pela população do DF para cumprir minhas atribuições na Câmara  e essa é minha absoluta prioridade. O resto é ficção.

Outro cargo que especulam que o senhor assuma é a Presidência da Câmara dos Deputados.

Não está nos meus planos disputar a presidência da Casa. Minha fase é de aprendizado e muita dedicação à população do DF e nas soluções dos graves problemas econômicos e sociais do País. Existem parlamentares mais experientes e mais talhados para essa função.

E para a política do DF, o senhor tem planos?   

Meus planos consistem em honrar com  trabalho e dedicação  os quase cem mil votos que tive a honra de receber da população do DF.

O que o senhor achou da decisão do GDF de dividir a Esplanada com um paredão, como forma de garantir segurança?

Do ponto de vista simbólico, acho negativo, pois aponta para uma divisão do povo brasileiro. Brasília foi planejada pensando na liberdade e nos espaços livres e não segregados. Porém, se foi essa a decisão do ponto de vista da segurança do evento, temos que respeitar, pois nossas forças policiais estão entre  as melhores do País e certamente sabem o que estão fazendo.

O senhor acha que o impeachment é o caminho para se resolver a crise econômica? 

O impeachment está na Constituição e temos que separá-lo da crise econômica severa que  passa o Brasil. A deterioração dos indicadores econômicos acentuam-se bem antes de qualquer pedido de impeachment ter sido protocolado na Câmara dos Deputados. Entretanto, a crise política, de fato, retroalimenta a crise econômica. Não existe receita para resolvermos essas questões, mas sabemos que o País precisa de uma agenda suprapartidária e urgente e que avance em temas estruturantes, como as reformas tributária, fiscal e previdenciária, um novo pacto federativo, estímulo às pequenas empresas, desburocratização, estímulos ao setor produtivo (indústria, comércio , serviços , agronegócio), redução dos custos de produção e comercialização, investimentos em infraestrutura, incremento e agenda exportadora, educação , conhecimento, ciência e tecnologia etc.

O senhor arrisca um palpite do placar da votação no plenário da Câmara?

Só Deus sabe.

Fonte: JBr

Delmo Menezes
Gestor público, jornalista, secretário executivo, teólogo e especialista em relações institucionais. Observador atento da política local e nacional, com experiência e participação política.

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