Bolsonaro e Haddad. Foto: Reprodução

Por Bernardo Bittar e Gabriela Vinhal

Ao redor de Jair Bolsonaro (PSL) e de Fernando Haddad (PT), há pessoas que desde já são o apoio principal dos candidatos. E que seguirão à frente nas equipes depois do segundo turno. Conheça os principais homens e mulheres que fazem o trabalho

Os soldados do capitão

Ao ser reeleito pela sétima vez como deputado federal pelo Rio de Janeiro, Jair Bolsonaro (PSL) tomou a decisão de se tornar o “zero um” da política brasileira. Aproveitou o desgaste do PT, com mais de uma década de poder, e começou a se articular entre os militares para analisar sua força como eventual candidato à Presidência da República. Pegou na mão de poucos conselheiros e traçou uma estratégia inicial para se colocar no jogo. Precisava levantar dinheiro, formar alianças, ter mais liberdade dentro do partido e aprofundar seus conhecimentos em mais assuntos — como a economia —, antes de investir todo o capital político na tentativa de chegar ao Planalto. Ao longo da campanha, todos esses instrumentos acabaram escanteados. Sem dinheiro, sem apoio e em um novo partido, Bolsonaro, que ainda não entende de economia, larga na frente rumo ao segundo turno.

“A gente não acreditava que essas coisas fossem acontecer com tanta desenvoltura. Tivemos exemplos aí que não deram certo. O desgaste dos petistas fez com que a candidatura se viabilizasse sem a mínima estrutura. Outro cara com o mesmo perfil do Bolsonaro foi para a briga no Executivo e acabou sem nada. Inclusive sem mandato aqui na Câmara”. O comentário é de um dos aliados de Jair Bolsonaro no PSL, onde o capitão costuma ser comparado ao ex-adversário, Cabo Daciolo (Patriota-RJ). “O que a gente vê acontecendo aí com o Daciolo poderia muito bem ter acontecido dentro do partido. Bolsonaro não tinha toda essa força, mas a ideia de tudo o que ele representa é algo tão caro ao eleitor que não importa se tem dinheiro, nome, família… Bolsonaro representa uma promessa de mudança”, conta o conselheiro do capitão reformado.

Rigor

O rigoroso comportamento do militar fez com que difíceis decisões fossem tomadas na construção da candidatura. “Notamos que foi necessário soltar a mão de algumas pessoas, superar o trauma de um ataque… Longe dos holofotes, o candidato conseguiu se manter como promessa de mudança na cabeça dos brasileiros”, aponta o professor de ciência política da Universidade Estadual de Goiás (UEG) Guilherme Silva Prado. “Tudo isso é fruto de planejamento, de oportunidades bem aproveitadas. O candidato usou as redes sociais num momento em que elas se tornaram protagonistas. Aproveitou a onda antipetista para pregar exatamente o contrário do que o partido representa. Isso é usar os acontecimentos com sabedoria. Como disse, planejamento”, detalha o especialista.

Dois elos unem praticamente todos os que cercam o deputado federal. Um deles é o sentimento antipetista. O outro, o militarismo. Foi a irritação de Bolsonaro com o PT, em 2014, que fez com que o candidato se aproximasse de Gustavo Bebianno, presidente do PSL, e mudasse para o partido com a promessa de “mais liberdade”. O passado no Exército fez com que o candidato permanecesse ligado aos colegas de quartel e prometesse a alguns uma vaga na Esplanada. Na última semana antes do segundo turno, resultados mapeados pelas últimas pesquisas mostram que o capitão terá uma confortável vantagem nas urnas. Tudo indica que a missão será cumprida com êxito.

General Hamilton Mourão. (foto: Nelson Almeida/AFP)

General Hamilton Mourão

A verve atuante do candidato à vice-presidência pelo PTRB já causou desavenças com Jair Bolsonaro. Frases polêmicas, encontros não avisados e soluções improvisadas são alguns pontos que incomodam o presidenciável. Ainda assim, o general tem grande influência perante o capitão — mesmo que os discursos públicos de Bolsonaro pareçam desautorizar Mourão. O candidato a vice é visto como grande articulista e tenta trabalhar independentemente na solução de temas que julga importantes para a “ordem do país”. Defende o “despertar da luta patriótica”, uma exaltação aos militares que traz problemas de imagem à chapa. Mourão será uma espécie de “coordenador” dos ministros que vieram do serviço militar.

Paulo Guedes. (foto: Daniel Ramalho/AFP)

Paulo Guedes

Apontado como “cérebro econômico” de Jair Bolsonaro, Paulo Guedes será o responsável pela viabilidade dos planos do PSL na área econômica de um eventual governo. É um dos conselheiros mais próximos do candidato, presente em quase todas as reuniões de campanha. Economista, defende a privatização sem restrições de empresas e agências governamentais e é apontado como o garoto-propaganda de Bolsonaro junto ao mercado financeiro. Guedes terá papel importante ao assumir o aglutinado Ministério da Economia durante a gestão de um presidente que é assumidamente fraco neste tema.

Onyx Lorenzoni

Um eventual governo Bolsonaro terá o deputado federal Onyx Lorenzoni (DEM-RS) como ministro da Casa Civil, pasta que responde pela articulação política do governo. Reeleito para um novo mandato na Câmara e membro da bancada ruralista, o democrata é o atual coordenador político da campanha do PSL. Foi um dos articuladores para conseguir o apoio oficial dado à chapa pela Frente Parlamentar Agropecuária (FPA), grupo que congrega deputados e senadores ligados ao agronegócio. Lorenzoni é um dos mais insistentes críticos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a quem frequentemente acusa de ser “chefe da quadrilha” responsável pela corrupção no Brasil.

Gustavo Bebianno

Cotado para ser ministro da Justiça na gestão de Bolsonaro, Bebianno é um admirador do capitão que se tornou seu braço direito. Presidente do PSL e advogado de carreira, ofereceu consultoria grátis ao deputado em 2014, quando Jair Bolsonaro enfrentava duras críticas do PT na Câmara. Foi o motivo da mudança de partido (antes, o capitão era do PSC) e estimulou a candidatura à Presidência da República, considerada pelos mais cautelosos como algo “fora de cogitação” no ano passado. Foi um dos poucos amigos que ficaram no hospital quando o candidato sofreu o atentado em Juiz de Fora (MG), durante comício.

General Augusto Heleno. Foto: Reprodução

General Augusto Heleno

Foi o primeiro nome colocado à mesa em se tratando da vice-presidência de Bolsonaro e um dos três generais que ajudaram a articular o plano de governo do partido. Defende políticas conservadoras e atua como uma espécie de conselheiro na área da segurança pública. Critica de maneira ferrenha a esquerda e tudo o que ele acredita que ela representa. É favorável ao uso da força em determinadas decisões e considerado um dos mais próximos conselheiros de Jair Bolsonaro. Costuma estar acompanhado de ao menos dois militares de alta patente durante suas reuniões, inclusive com o candidato à Presidência. É o provável ministro da Defesa.

O professor tem auxiliares

De vice do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva à cabeça de chapa, Fernando Haddad (PT) é candidato à Presidência desde 11 de setembro. Preso em Curitiba, Lula teve a candidatura barrada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por se enquadrar na Lei da Ficha Limpa. Em 2012, quando foi eleito prefeito de São Paulo, Haddad ficou conhecido por ser o “segundo poste do ex-presidente” — uma alusão ao papel que Dilma Rousseff protagonizou no pleito de 2010. Seis anos depois, a frase volta à tona, mas dessa vez com outro viés: “Volto ao cargo de poste”, disse Haddad, quando estava sendo cotado, em julho, para substituir o amigo na chapa O Brasil feliz de novo. Agora, o professor universitário, doutor em Filosofia e mestre em economia, disputa o segundo turno do pleito contra Jair Bolsonaro (PSL) com nomes importantes por trás da candidatura dele.

No dia seguinte ao resultado do primeiro turno, 8 de outubro, Haddad voltou a Curitiba para a carceragem da Polícia Federal, onde Lula cumpre pena de 12 anos desde o último 7 de abril. Ele queria agradecer o apoio do ex-presidente durante a corrida ao Planalto e recebeu uma espécie de última bênção, como um afago para continuar na briga. A viagem era comum e, rotineiramente, ele ia acompanhado da presidente petista, Gleisi Hoffmann. A aproximação com o ex-presidente deu a Haddad visibilidade, mas trouxe consigo a rejeição; o sentimento antipetista ganhou espaço entre o eleitorado, principalmente depois que Lula foi preso.

Para a segunda fase do pleito, tem o apoio apenas de Guilherme Boulos (PSol) e da vice Manuela D’Ávila (PCdoB), que o acompanha desde quando era apenas a vice do vice. Mas ainda parece não ser suficiente. Agora, o petista precisa se afastar de Lula, buscar o distanciamento do legado do governo Dilma — que sofreu um impeachment em 2016 —, se separar dos escândalos de corrupção envolvendo o partido e mostrar ser um gestor competente para reverter o cenário econômico do país. Esses são uns dos principais desafios de Haddad desde quando entrou na disputa eleitoral. “A bênção de Lula fidelizou o eleitorado, mas atingiu um teto. Agora, tem que apostar em outras coisas. O plano de governo é bom, mas sofreu mudanças para conquistar eleitores que não votaram no Bolsonaro no primeiro turno e ainda conversam com a esquerda. Mas Haddad é extremamente capacitado”, diz um integrante do partido.

Participaram das propostas de Haddad pessoas escolhidas a priori por Lula, seis meses antes da homologação da candidatura. Entre elas, estão o economista Márcio Pochmann e o ex-deputado petista Renato Simões. As consultorias do experiente Jaques Wagner, articulador político, com a postura mais radical de Gleisi Hoffmann, e o ex-presidente da Petrobras José Sérgio Gabrielli apresentaram medidas efetivas para o país que, no segundo turno, foram adaptadas. Para o deputado federal Carlos Zaratini (PT), Haddad fez um plano baseado na experiência dos projetos que o partido construiu por 13 anos. “São propostas que deram certo, mas agora estão focadas, sobretudo, em reverter a crise financeira e recuperar empregos”, acrescenta. “Márcio e Renato se destacam na área econômica, enquanto Jaques Wagner e Gleisi Hoffmann ganham enfoque no setor estratégico”.

Luiz Inácio Lula da Silva

Escolheu Haddad para ser o substituto dele nestas eleições. Manteve, desde antes de ser preso, em 7 de abril, o controle da campanha petista e o avanço do partido durante a disputa.  Do Paraná, arquitetou as alianças políticas, sobretudo do primeiro turno, quando conseguiu que a sigla de Carlos Siqueira, o PSB, firmasse apoios pontuais ao PT, e deixasse Ciro Gomes (PDT), principal concorrente na ala da esquerda, isolado; fechou com Manuela D’Avila (PCdoB) para ser a “vice do vice” e, se precisasse, se tornaria vice oficial — como foi feito. Também aconselhou caciques petistas e mobilizou a militância de todo o país por meio de vídeos gravados anteriormente e cartas públicas.

Gleisi Hoffmann. (foto: Nelson Almeida/AFP)

Gleisi Hoffmann

Presidente do PT, Gleisi Hoffmann é peça importante no setor estratégico da campanha de Haddad. A relação entre os dois chegou a ficar estremecida durante o imbróglio em torno da candidatura de Lula — ela demorou a assumir que Haddad seria o sucessor do ex-presidente e, até o momento final, negou que houvesse um plano B. A deputada federal recém-eleita é responsável por fazer o meio de campo entre a população e Lula. Com a experiência na vida política e ligação com o ex-presidente, Gleisi foi peça-chave nesta trajetória — sobretudo com a militância.

Manuela D’Avila. (foto: Nelson Almeida/AFP)

Manuela D’Avila

Antes mesmo de firmar acordo com o PT, a deputada estadual do Rio Grande do Sul já defendia a união do campo da esquerda — entre PT, PCdoB, PDT e PSol — durante a pré-campanha presidencial. A parlamentar afirmava que só desistiria da própria candidatura se as siglas se apoiassem. Desde então, atua nas ruas com a militância, participa de atos onde ressalta as escolhas em prol de um futuro governo de esquerda e democrático e participou da elaboração de parte das propostas do plano de governo petista.

Jaques Wagner. (foto: Evaristo Sá/AFP)

Jaques Wagner

Articulador político da campanha de Haddad, o senador eleito pela Bahia Jaques Wagner é quem mantém conversas com viés de apoio político e visão estratégica da trajetória do candidato até aqui. Uma das figuras mais respeitadas dentro do partido, Wagner saiu dos bastidores e defende a necessidade de outros políticos, mesmo de ideologias distintas, firmarem aliança com o correligionário. “Não precisa ser apaixonado pelo PT, pode até ter raiva do PT”, disse recentemente. O senador está firme na busca por aliados: conversa com interlocutores do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, com a candidata da Rede, Marina Silva, e Ciro Gomes (PDT).

José Sérgio Gabrielli (foto) e Márcio Pochmann

Ambos participaram da elaboração do plano de governo de Haddad. O ex-presidente da Petrobras José Sérgio Gabrielli desempenha a função de coordenador-geral da campanha de Haddad, enquanto o economista Márcio Pochmann é assessor econômico do candidato. Atualmente, Pochmann se divide entre a sala de aula da Universidade Federal de Campinas (Unicamp) e o escritório da Fundação Perseu Abramo, instituto de estudos políticos e econômicos fundado pelo PT em 1996. Pochmann foi secretário do Desenvolvimento da Prefeitura de São Paulo de 2001 a 2004; presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) de 2007 a 2012, e, em 2014, candidato pelo PT à Prefeitura de Campinas, mas não venceu o pleito.

Da Redação com informações do Correio

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