Por Ari Cunha /CB
Das muitas consequências nefastas, provocadas pela açodada emancipação política da capital, o inchaço populacional do Entorno feito, inclusive, sobre extensas áreas de proteção ambiental, foi o mais importante. Mesmo alertados sobre os perigos de se assentar populações inteiras de forma improvisada e sem planejamento, os diversos governos que se sucederam naquela ocasião não demonstraram sensibilidade alguma para deter esse tipo de prática.
Pelo contrário, incentivavam e financiavam as invasões como forma de obter apoios políticos momentâneos, dentro da fórmula um voto, um lote. O resultado visível desse modelo irresponsável. Hoje, é patente, sendo agravado ainda pela falta de aptidão administrativa dos atuais gestores. Brasília, não é segredo para ninguém, tornou-se, a exemplo de muitas cidades brasileiras, praticamente ingovernável. Os problemas e o caos urbano se sucedem num ritmo mais veloz do que as medidas adotadas para corrigi-los.
Em situações como essa, faltam gestores e sobram políticos. São Paulo, a maior cidade da América Latina, com toda a complexidade de uma megalópole, viu que não podia mais perder tempo com experimentações e tratou logo de defenestrar prefeitos fisiológicos, substituindo-os por gestores eficazes e com prática comprovada. A grande Brasília necessita desesperadamente de gestores, sob pena de vir a se tornar inviável como capital.
A desordem urbana torna qualquer orçamento, mesmo os mais vultosos, insuficientes para atender às múltiplas e urgentes demandas. Para ficar apenas no Plano Piloto, que ainda é o cartão-postal da capital, a degradação geral é visível em toda a parte. As avenidas W3 Norte e Sul, principais eixos comerciais da cidade, continuam abandonadas, sem iluminação, sujas e perigosas à noite, calçadas irregulares, poluição visual.
Nos Setores Hoteleiros Norte e Sul, porta de entrada dos turistas, a situação de caos se repete, com assaltos à luz do dia, furtos de veículos, consumo de drogas, prostituição, moradores de rua e viciados perambulando livremente e ameaçando os transeuntes. Os hóspedes de muitos hotéis da região são simplesmente aconselhados a não saírem à noite, criando uma situação surreal de turista retido por falta de segurança. Na maioria das cidades do mundo, as áreas ao redor dos hotéis são as mais vigiadas e iluminadas e onde se concentram as grandes atrações turísticas e de entretenimento.
Por aqui, a situação é diferente. Considerada Patrimônio cultural da humanidade pela Unesco, Brasília não tem feito jus ao título. O Teatro Nacional, um dos mais importantes da capital, permanece, há anos, fechado para manutenção e vai se transformando, aos poucos, em abrigo para viciados. O mesmo ocorre com o Museu de Arte de Brasília (MAB), com o Espaço Cultural Renato Russo e com o Centro de Dança do Distrito Federal. A Concha Acústica está abandonada. Isso sem tratar das bibliotecas e espaços culturais de escolas públicas. A situação de abandono dos pontos turísticos vai crescendo de tal forma, que pode chegar a um ponto de não retorno, com prejuízos para todo mundo. Brasília merecia melhor sorte.
Da Redação com informações do Correio