Por Eduardo Milito / CB

O presidente Michel Temer convocou reunião de emergência para discutir o impacto da Operação Carne Fraca da Polícia Federal nas exportações do produto brasileiro com o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, hoje, às 15h, no Palácio do Planalto. É grande a repercussão internacional do escândalo envolvendo a JBS e a BRF, que estão entre as maiores empresas de processamento de proteína animal do mundo.

O governo tenta minimizar o impacto do escândalo na economia. O encontro promovido por Temer terá a participação de representantes do setor do agronegócio, especialmente, da produção de proteína animal, como os presidentes da ABIEC (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne), Antônio Camardelli; da ABPA (Associação Brasileira da Proteína Animal), Francisco Turra; além do presidente da CNA (Confederação Nacional da Agricultura), João Martins. Um dos objetivos é discutir também a extensão dos problemas denunciados pela Polícia Federal, na última sexta-feira.

Pressionado por Temer para tentar tranquilizar o mercado doméstico e os mercados internacionais, o Ministério da Agricultura divulgou, ontem, nota assegurando que o sistema brasileiro de fiscalização está em “alerta”. O informe garante, também, a “qualidade dos produtos de origem agropecuária de nosso país”.

A nota foi divulgada após demorada avaliação do Planalto com o Mapa e com o Ministério de Relações Exteriores. Diante da cobrança que já surgiu por parte das autoridades estrangeiras, particularmente das europeias, Temer convocou para amanhã reunião com embaixadores dos países para os quais o Brasil exporta os produtos.

Segundo o Ministério da Agricultura, a reunião servirá para “adotar novas medidas que tragam maior segurança à população e também ao consumidor do mercado externo”. A União Europeia pediu informações ao governo brasileiro sobre a extensão do problema e deve participar da reunião com técnicos do ministério. O serviço de segurança e inspeção de alimentos do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos também entrou em contato com o governo brasileiro, monitorando a situação. Toda carne que entra nos Estados Unidos passa por uma reinspeção.

Na nota, o Mapa informa que “o serviço de inspeção federal é considerado um dos mais eficientes e rigorosos do mundo” e que “a investigação da Polícia Federal e a pronta reação das nossas autoridades do Ministério da Agricultura é a maior prova de que nosso sistema de proteção e fiscalização está alerta e funcionando plenamente e servem como garantia ao consumidor da qualidade dos produtos de origem agropecuária de nosso país”. A pasta reforça que “alguns fatos pontuais começaram a ser investigados após denúncia de um servidor da área de fiscalização do Ministério” e ressalta que, “ao todo, 33 fiscais federais estão sob investigação e três plantas foram interditadas, enquanto outras 21 estão sob fiscalização especial”.

O informe faz questão de explicitar que a preocupação do governo não é só com a exportação, embora este seja o principal temor do governo, por conta do impacto que terá nas exportações, em um momento em que o Planalto faz um esforço para reverter o quadro recessivo da economia. Diante de um mercado doméstico em crise, em que o consumo das famílias está em colapso, o governo luta para não perder espaço no mercado exterior, uma vez que as comercializações externas serão fundamentais para ajudar na retomada do crescimento econômico.

Fiscalização

A nota faz comparação ainda entre o número de funcionários que o serviço de inspeção federal possui — 2,3 mil servidores, que inspecionam 4.837 unidades produtoras habilitadas a exportar para 160 países. Quadro muito superior aos 33 fiscais federais sob investigação. “Foi com este serviço que construímos uma reputação de excelência na agropecuária e conseguimos atender às exigências rigorosas de diferentes nações”, justificou.

Ainda ontem, o presidente Michel Temer falou por telefone com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. A conversa já estava marcada, mas a polêmica das carnes adulteradas foi o tema mais discutido. E não é à toa. O chefe do Executivo brasileiro quer tranquilizar a nação norte-americana sobre a qualidade do produto nacional.

O ministro Blairo Maggi determinou que três funcionários da Consultoria Jurídica do ministério viajassem para Curitiba, onde estavam centralizadas as investigações da PF, a fim de obter laudos periciais dos produtos relacionados na operação. Técnicos da área de Inspeção Sanitária trabalharam ontem para obter detalhes do processo que tem 350 páginas.

O Brasil é o segundo maior produtor de carne bovina do mundo e o maior exportador. O setor vendeu para mais de 150 países no ano passado e agora se preocupa com os impactos negativos do esquema de venda de carne adulterada, revelado pela Polícia Federal. Representantes de outros países também entraram em contato, querendo saber a dimensão do problema e o que as autoridades brasileiras estão fazendo.

A JBS foi uma das grandes financiadoras de campanha nas eleições de 2014 e é investigada na Operação Lava Jato. A empresa é uma das chamadas “campeãs nacionais”, aquelas companhias favorecidas com isenções fiscais e empréstimos milionários do BNDES durante os governos Lula e Dilma. O Banco Central bloqueou ontem R$ 2 milhões nas contas dos investigados na operação Carne Fraca. Ao todo a Justiça pede o bloqueio de R$ 1 bilhão na conta de 46 suspeitos.

Segurança  

Blairo Maggi disse ontem em Cuiabá que os problemas foram pontuais e que a carne produzida no Brasil pode ser consumida sem riscos. “Nosso sistema de fiscalização é forte, robusto e sério. O que aconteceu foi o desvio de alguns servidores, de algumas empresas. Nós temos que discutir como é que isso aconteceu, mas eu posso garantir, com toda tranquilidade, que eu não deixarei de consumir, recomendo que você não deixe porque não há risco nenhum”, afirmou.

Ao todo, 33 fiscais federais estão sob investigação e três plantas foram interditadas, enquanto outras 21 estão sob fiscalização especial. Ontem, a vigilância sanitária inspecionou mercados no Rio de Janeiro.

JBS “emplacou” 12 deputados

Um dos principais alvos da Operação Carne Fraca, da Polícia Federal, o grupo JBS, que fabrica a marca Friboi, doou para 23 candidatos a deputado em 2014 e conseguiu que 12 fossem eleitos. Para isso, injetou R$ 5,61 milhões nesses políticos no último ano em que o financiamento de campanha empresarial foi permitido. Porém, a parte do grupo que ficou com a maior fatia desse bolo foi justamente a que conseguiu chegar à Câmara. Oitenta por cento das doações, ou R$ 4,5 milhões, caíram nas campanhas de 12 políticos. Estes são exatamente os que foram eleitos, quase todos da bancada ruralista.

O grupo de 23 beneficiados por doações da JBS contém ainda 10 candidatos que ficaram na suplência. Ou seja, em tese, podem assumir a Câmara assim que os titulares ocuparem secretarias e cargos em Brasília ou nos estados. Só um candidato não conseguiu se eleger. Entre os 12 eleitos, nove pertencem formalmente à Frente Parlamentar Agropecuária (FPA), ligada a fornecedores de matéria-prima para a indústria de alimentos e à agroindústria. Quem mais recebeu recursos das empresas do grupo JBS foi o ruralista Antônio Balhmann (PROS-CE). Ele obteve R$ 1,6 milhão. Hoje, está fora da Câmara pois atua como assessor especial de Assuntos Internacionais do Governo do Ceará, administrado por Camilo Santana (PT).

Em segundo lugar, ficaram empatados o ex-governador do Mato Grosso, um dos pivôs do agronegócio brasileiro, e mais dois parlamentares. O deputado Carlos Bezerra (PMDB-MT) recebeu R$ 500 mil da JBS. O mesmo valor foi destinado a Ronaldo Manchado Martins (PRB-CE), um dos poucos que não integram a Frente Parlamentar Agropecuária, e a Fernando Jordão (PMDB-RJ). Em 2016, quando doações empresariais foram proibidas por uma decisão do Supremo Tribunal Federal, Jordão elegeu-se prefeito de Angra dos Reis (RJ).

Ainda receberam doações: Moroni Torgan (DEM-CE); Daniel Vilela e Pedro Chaves, ambos do PMDB de Goiás; Geraldo Resende Pereira (PMDB-MS); Heitor Schuch (PSB-RS); Stefano Aguiar dos Santos (PSB-MG); Ronaldo Benedet (PMDB-SC); Renato Molling (PP-RS).
Da Redação com informações do Correio 

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