Palácio do Buriti, sede do governo do DF. Foto: Reprodução

Enquanto alguns fazem planos políticos, outros se dedicam a negócios ou pensam em aposentadoria. Nenhum ocupa cargo na administração pública

Por Alexandre de Paula / Ana  Viriato

De produtor rural a consultor em comércio exterior: os nove candidatos que enfrentaram Ibaneis Rocha (MDB) na corrida pelo Palácio do Buriti seguiram caminhos distintos após a derrota nas urnas. Cem dias depois do início da gestão do sétimo governador eleito desde a conquista da autonomia política pelo Distrito Federal, os donos de 1,3 milhão de votos —  somados primeiro e segundo turnos — têm apenas uma característica em comum: nenhum deles ocupa cargos na administração pública.

Sem mandato pela primeira vez em 14 anos, o ex-governador Rodrigo Rollemberg (PSB) voltou às raízes, no Senado, onde ocupa o cargo de analista legislativo. O socialista está lotado na liderança do PSB, em função comissionada, e recebe, por mês, cerca de R$ 26,2 mil, com os descontos obrigatórios incidentes sobre a remuneração. Na função, dedica-se ao estudo da Reforma da Previdência. “As análises embasam a posição de deputados e senadores. O PSB não fechou questão. Mas meu entendimento é de que a reforma, do jeito que está, será prejudicial aos trabalhadores mais pobres. Muita coisa precisa ser alterada para aprová-la”, pontuou Rollemberg.

O ex-chefe do Buriti não se livrou totalmente da antiga rotina. Dia desses, dirigiu até o Setor Habitacional Sol Nascente, em Ceilândia, para passar a tarde com lideranças locais. Durante o mandato, o socialista inaugurou diversas obras de infraestrutura na região. Na corrida pela reeleição, a cidade era carta marcada como um dos principais pontos de campanha. Filiado ao PSB desde 1985, Rollemberg ainda participa das reuniões da legenda, e pensa em voltar aos holofotes em 2022. “Neste momento, não estou preocupado com isso. Mas, muito provavelmente, haverá uma candidatura. Apenas não sei a quê”, comentou.

Terceiro colocado na corrida pelo Palácio do Buriti, o ex-deputado federal e ex-governador Rogério Rosso (PSD) retomou a carreira de advogado e atua nas áreas do direito comercial, internacional e econômico. Ele ainda presta consultoria em empresas ligadas ao comércio exterior. Na última semana, esteve em Nova York a negócios. “Era o caminho natural, uma vez que passei mais tempo da vida no ramo privado do que no público”, assinalou o pessedista, que entrou na política como pupilo de Joaquim Roriz.

Rosso disse acompanhar a movimentação política na capital, mas ressaltou não ter se sentado à mesa com o governador Ibaneis Rocha (MDB) após o triunfo do emedebista. “O PSD não é oposição, mas também não faz parte do governo”, afirmou o presidente da sigla no DF. Ao falar sobre a renovação do mandato à frente do partido, desconversou. “Tenho que ver o que o partido acha. Ainda mais porque estou em uma nova fase da vida”, se esquivou.

Fazenda
Longe da Câmara dos Deputados após quatro mandatos, Alberto Fraga (DEM) dedica-se, hoje, à sua fazenda, na região da Chapada dos Veadeiros (GO), onde passa cerca de três dias por semana. “Passei muito tempo na política, mas também sou produtor rural. Planto soja e milho, por exemplo”, ponderou. O demista adiantou, ainda, que pensa em advogar, dado o diploma em direito.

Por ora, Fraga não segue outros trilhos na área profissional. “Estou aguardando até que minha vida na Justiça seja resolvida. Tenho muitos contatos com o presidente Jair Bolsonaro (PSL). Mas, em virtude da situação, prefiro ficar mais distante. Preocupo-me muito com a relação entre governo federal e Congresso Nacional, que precisa ser reparada. Quando estiver livre de pendências, estarei a postos, caso ele precise”, afirmou o ex-deputado, condenado em dois processos por concussão — exigência de vantagem indevida em razão do cargo ocupado.

Apadrinhado de Bolsonaro na disputa pelo Executivo local, General Paulo Chagas deixou de vez a vida política. O partido pelo qual concorreu, o PRP não alcançou a cláusula de barreira e deixou de existir, e o militar da reserva não pretende se filiar a uma nova sigla. “Fiz uma incursão para ajudar no momento. Minha contribuição, eu dei: a tentativa de colocar meu conhecimento à disposição do DF. Cumpri a missão”, cravou.

Na reserva desde 2006, Chagas diz não ter mais contato com Bolsonaro e ressaltou que acompanhará o cenário político-econômico como o restante da população. “Estou sempre me atualizando e debatendo. Mas de longe. Essa participação é fundamental. Cada um de nós é um voto. Precisamos saber o que fazer com ele daqui a quatro anos”, pontuou.

Salas de aula
Estreante na corrida eleitoral em 2018, Fátima Sousa (PSol) voltou à Universidade de Brasília (UnB), onde ministra as disciplinas de Políticas Públicas de Saúde e Metodologias de Pesquisa. Apesar de dedicar-se à carreira educacional, entretanto, ela não pretende se afastar da política. “Partidos são construídos no dia a dia. Farei no PSol como fiz no PT: contribuindo sempre. Estamos com uma campanha forte de filiação e pretendemos fazer a sigla crescer”, frisou. A professora não descartou testar as urnas mais uma vez. “Cumpri minha tarefa com os limites relativos ao dinheiro e ao tempo de TV. Mas sempre me coloquei à disposição para as tarefas que quiserem me dar. Isso não vai mudar”, complementou.

Também novato nas urnas, Júlio Miragaya (PT) intensificou as ações na militância petista. Na última semana, participou de um movimento, em Brasília, que pediu a soltura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.  “Neste ano, temos o Congresso do partido, que está marcado para o segundo semestre. Nele, serão discutidas as diretrizes que a legenda deve adotar, políticas de aliança. Eu diria que a questão central é organizar a resistência à ofensiva da retirada de direitos,  proveniente da Reforma da Previdência”, contou. No lado profissional, realiza consultorias econômicas e preside entidades e associações ligadas ao setor. Ainda integra o Conselho Federal de Economia.

O empresário Alexandre Guerra, que concorreu pelo Novo, voltou aos negócios. Herdeiro da rede de restaurantes Giraffas, retornou ao conselho da empresa, além de participar de outros empreendimentos. “No Novo, acreditamos que é preciso ser independente da política. Então, nada mais natural do que voltar ao trabalho anterior.” Guerra também se engajou em um movimento chamado Nação Empreendedora, que promove capacitação e networking entre os que estão iniciando no mundo do empreendedorismo. “É um projeto que conseguiu chamar 350 pessoas em 2 meses e que está aberto para quem quer crescer e interagir”, explica.

Em relação à política, o empresário se mantém ativo na condução do Novo e não descarta voltar a se candidatar nas próximas eleições. “Eu saí da campanha supermotivado a continuar e feliz com o que conquistamos com o partido. Vejo a candidatura como uma consequência natural do que fazemos. Então, ainda é cedo, mas é, sim, uma possibilidade”, explica. O Correio não conseguiu contato com Eliana Pedrosa (Pros) e Guillen (PSTU).

Da Redação com informações do Correio

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