Detido durante jogo entre Botafogo e Palmeiras, no Mané Garrincha, ele é suspeito de fraudar borderôs de jogos. Polícia investiga fraudes em cerca de 20 partidas.
Por Redação*
Após ser ouvido por investigadores da Polícia Civil, o ex-jogador Roniéliton Pereira Santos, 42 anos, conhecido como Roni, foi solto na noite deste domingo (26/05/2019). Ele estava detido na carceragem da corporação desde a tarde de sábado (25/05/2019). O empresário é suspeito de cometer fraudes nas bilheterias dos jogos organizados pela sua produtora, a Roni7, assim como outras seis pessoas.
O grupo cumpria prisão temporária e, portanto, o prazo para deixar a carceragem da polícia era até esta segunda-feira (27). A defesa dos suspeitos não quis se manifestar.
As prisões temporárias do ex-atacante e de mais seis investigados fazem parte da operação Episkiros deflagrada pela Coordenação Especial de Combate à Corrupção, ao Crime Organizado, aos Crimes Contra a Administração Pública e aos Crimes Contra a Ordem Tributária (Cecor).
O ex-jogador Roni é dono de empresas que negociam a realização de eventos esportivos e comercializam os ingressos. A investigação, que durou cerca de dois anos, aponta indícios dos crimes de associação criminosa, falsidade ideológica, estelionato e sonegação fiscal.
O diretor da Divisão de Repressão aos Crimes contra a Ordem Tributária, Ricardo Gurgel, explica que o grupo informava uma quantidade menor de ingressos vendidos ou uma quantidade maior de cortesias distribuídas. Tudo para pagar menos impostos.
Com a fraude, os suspeitos também pagavam um valor mais baixo pelo aluguel do estádio Nacional Mané Garrincha, afirma Gurgel.
“Vamos analisar todo esse material e constatar a real participação de cada investigado no esquema. Neste primeiro momento, acreditamos que, além da União e do Estado, federações regionais podem ter sido lesadas com a fraude. Uma vez que impostos como o INSS, Imposto de Renda, ISS, o aluguel do estádio e demais taxas são baseados no público e rendimento dos jogos. Números esses que podem ter sido fraudados”, explicou o delegado responsável pela investigação, Ricardo Gurgel.
A polícia diz que o presidente da Federação de Futebol do Distrito Federal, Daniel Vasconcelos, agia junto com o ex-jogador. Os dois foram presos em um camarote, enquanto assistiam ao jogo entre Botafogo e Palmeiras.
A 15ª Vara Federal Criminal de Brasília autorizou as sete prisões temporárias e 19 mandados de busca e apreensão em Brasília, Luziânia e Goiânia, em Goiás. Foram feitas buscas no estádio Mané Garrincha, nas casas dos investigados, em empresas e na Federação de Futebol.
Os policiais apreenderam computadores e os ingressos da partida do fim de semana. Em Goiânia (GO), foram apreendidos R$ 100 mil reais na empresa de Roni.
Além das prisões, foram expedidos 19 mandados de busca e apreensão. Seis foram cumpridos em endereços do DF, dois em Luziânia (GO) e 11 em Goiânia (GO), onde quatro dos investigados moram. No Mané Garrincha, os agentes apreenderam computadores, borderôs e os ingressos da partida. Durante as buscas feitas com auxílio da Polícia Civil de Goiás, os investigadores apreenderam R$ 100 mil em espécie na sede de uma das empresas instalada na capital goiana.
Associação criminosa
Os empresários investigados comandavam toda a cadeia de organização e execução dos jogos. Além da produtora que era responsável pela organização da partida, hospedagem e transporte, eles também contavam com a participação da empresa de venda de tickets on-line, a Meu Bilhete. A firma está em nome de Leandro Brito, sócio de Roni. “Nos jogos realizados em Brasília, eles levavam as próprias catracas. Tinham o controle de todos os números, o que facilita a fraude”, ressaltou Gurgel.
De acordo com o delegado Leonardo de Castro, durante a investigação, um narrador que acompanhava a partida entre Corinthians e Ferroviário, em Londrina (PR), chegou a comentar ao vivo que o número do público anunciado no telão era incoerente com a realidade. “O dado passado pelos organizadores correspondia a apenas um terço da lotação do estádio e o local estava lotado”, disse.
Outra forma de fraude adotada pelo grupo era a distribuição de cortesias para os eventos. Eles apontavam um alto número e subtraíam esse valor da renda bruta. Dessa forma, os suspeitos conseguiam pagar menos no aluguel dos estádios e reduzir os impostos. A PCDF também apura se os empresários lavaram o dinheiro adquirido com a fraude.
Episkiros
A investigação teve início em 2017, após uma denúncia recebida pelo Ministério Público. O inquérito foi prontamente instaurado pela Divisão de Repressão aos Crimes Contra a Ordem Tributária (Dicot), que pertence à Cecor. Segundo a PCDF, a investigação aponta indícios de ocorrência dos crimes de estelionato majorado, associação criminosa, falsidade ideológica e sonegação fiscal.
O nome da operação — Episkiros — é uma referência ao jogo com bola criado na Grécia antiga que pode ter sido a origem do futebol moderno, bem como pelo fato de a palavra episkiro poder significar jogo enganoso.
*Com informações do G1 e Metrópoles