Presidente licenciado do PDT tem sido pressionado pelo escândalo dos descontos indevidos de aposentados e pensionistas do INSS

Por Redação

BRASÍLIA – Auxiliares do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) consideram insustentável a permanência do ministro da Previdência Social, Carlos Lupi (PDT), no cargo. Desde a semana passada, o presidente licenciado do PDT tem sido pressionado pelo escândalodos descontos indevidos de aposentados e pensionistas do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).

A avaliação no Palácio do Planalto é que, mesmo com a demissão de Alessandro Stefanutto da presidência do INSS, a hemorragia a que o governo federal foi submetido não foi estancada. Sem arrefecer a crise, a solução seria a própria saída de Lupi, responsável por ter indicado Stefanutto à chefia do instituto.

Aliados de Lupi seguem na mesma toada e defendem que o ministro entregue o cargo para evitar a fritura. O governo não defendeu o ministro de forma suficiente nesta semana, segundo o entorno de Lupi. Além disso, há um receio de que o Palácio do Planalto use a sua exposição para “desviar o foco” das irregularidades praticadas por sindicatos e associações, vistas como próximas ao petismo.

As investigações sobre as fraudes no INSS recaem sobre 11 entidades. Uma delas é dirigida pelo irmão de Lula, Frei Chico. O Sindicato Nacional dos Aposentados, Pensionistas e Idosos (Sindnapi), no entanto, nega irregularidades.

Para pedetistas ouvidos pela reportagem, Lupi deveria entregar o cargo para “não continuar sendo fritado como está sendo”. Há uma avaliação de que o governo receia se prejudicar com a ligação política com as entidades, já que “o DNA do PT está nos sindicatos”. Com isso, apontam que o governo pode usar Lupi para encontrar um culpado para o problema.

Há impressões, também, de que o ministro está sofrendo retaliação por ter desagradado parte do governo e do mercado pela conduta da pasta com as taxas de juros para empréstimos consignados do INSS.

Segundo aliados do ministro, a decisão de deixar o governo é de foro íntimo de Lupi, porque “quem está aguentando é ele”. Há um cuidado do partido de não transparecer falta de suporte ao ministro. Integrantes da legenda reforçam que confiam em Lupi e argumentam que o ministro tomou providências quando soube das denúncias.

Alguns pedetistas também defendem a posição de Lupi sobre extinguir o papel do INSS de intermediar os descontos das entidades nos benefícios e afirmam que a instituição não deveria agir como “corretora”.

Reportagem do Jornal Nacional, da TV Globo, de 26 de abril, mostrou que Lupi soube das denúncias em junho de 2023, mas demorou quase um ano para tomar medidas. Ao Broadcast Político, Lupi negou omissão, disse que procurou agir e responsabilizou o então diretor de Benefícios, André Félix Fidélis, pela lentidão nas apurações internas, o que levou à necessidade de o ministro demiti-lo.

Pesquisa AtlasIntel divulgada nesta quinta-feira, 1º, mostra que 85,3% dos brasileiros dizem que Lupi deveria ser demitido do cargo após a crise.

A pesquisa também diz que 84,4% dos brasileiros “acompanharam bem o caso”, ante 15,6% que sabem pouco do assunto. O levantamento ouviu mil brasileiros entre esta terça-feira, 29, e esta quinta-feira. A margem de erro é de três pontos porcentuais para cima ou para baixo.

Demitir Lupi não é considerado trivial, uma vez que ele lidera um dos principais partidos da base fiel do governo e é aliado histórico dos governos petistas, tendo sido ministro tanto dos primeiros mandatos de Lula quanto de Dilma Rousseff (PT).

O líder do PDT na Câmara dos Deputados, Mário Heringer (MG), afirmou que caso Lula decida exonerar Lupi de seu governo, estará não somente tirando o ministro, como também o próprio PDT da base.

A decisão de Lula de nomear como novo presidente o procurador federal Gilberto Waller Júnior, corregedor da Procuradoria-Geral Federal, órgão da Advocacia-Geral da União (AGU), sem ouvir a opinião de Lupi, foi visto como uma queda de credibilidade do ministro perante o presidente.

Entenda a fraude no INSS

Polícia Federal (PF) e a Controladoria-Geral da União (CGU) deflagaram na semana passada a Operação Sem Desconto, que identificou um esquema fraudulento de deduções indevidas em benefícios de aposentados e pensionistas do INSS.

O valor estimado em cobranças irregulares soma R$ 6,3 bilhões entre 2019 e 2024, segundo a PF. Mas, se retroagir a data até 2016, esse valor sobe para quase R$ 8 bilhões referentes a descontos sem autorização.

Com Estadão

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