Ex-parlamentar dá ordens a correligionários por meio da mulher e do advogado; defesa diz não haver ‘gestão partidária’
Por Redação
Mesmo após o STF (Supremo Tribunal Federal) ter determinado o afastamento de Roberto Jefferson da presidência do PTB, o ex-deputado seguiu dando as cartas no partido de dentro do presídio, segundo mensagens de WhatsApp obtidas pela Folha.
Oe-deputado dá orientações por meio de sua mulher, Ana Lúcia, e também de Luiz Gustavo, que é secretário jurídico do PTB e o defende perante o Supremo.
Detido desde agosto, ele foi afastado da presidência da sigla pelo ministro Alexandre de Moraes em 10 de novembro e, em 24 de janeiro, o magistrado autorizou sua transferência para prisão domiciliar.
Apesar da determinação judicial, o pivô do mensalão no governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e atual aliado do presidente Jair Bolsonaro (PL) não deixou de comandar a legenda.
No Distrito Federal no mês de setembro de 2021, ocorreu outro episódio envolvendo o comando do PTB na capital. O suplente de senador Fadi Faraj, havia assumido o partido por indicação de Roberto Jefferson. Logo após sua prisão autorizada pelo ministro Alexandre de Moraes, a então presidente interina da legenda Graciela Nienov, decidiu pela destituição de Faraj. Assumiu a presidência do partido no DF, o deputado distrital José Gomes, que se mantêm no cargo com uma liminar autorizado pelo STF.
Em um grupo de WhatsApp, no dia 30 de janeiro, o presidente da legenda no Rio Grande do Sul, Edir Oliveira, repassou estratégias eleitorais e informou aos colegas que havia falado “há pouco com nossa leoa guerreira Ana Lúcia Jefferson”.
“Ela me transmitiu o pensamento do nosso leão conservador Roberto Jefferson a respeito de nossa atuação agora na janela [de troca de partidos] que se avizinha”, diz.
Em um áudio no mesmo aplicativo, Oliveira afirma que estava em Brasília por ordem do ex-deputado para buscar uma saída “pela porta da frente” para a atual presidente do PTB, Graciela Nienov.
No dia 02/02, a atual direção nacional do partido entrou em pé de guerra com o presidente de honra e fundador da sigla, Roberto Jefferson. A presidente interina, Graciela Nienov, a quem Jefferson tratava como “filha postiça”, agora a chama de “traidora”. A briga transpôs as instâncias partidárias e virou caso de polícia, com registro de boletins de ocorrência, e de Justiça, com ações no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Na semana passada, Jefferson anunciou a “demissão” de Nienov sob alegação de que foi traído por ela, eleita presidente da sigla em novembro passado com seu apoio.
Em entrevista recente, o presidente do PTB de São Paulo, Otávio Fakhoury, foi questionado se a briga interna iria interferir no apoio em 2022 a Bolsonaro e ao ministro da Infraestrutura, Tarcísio Freitas, para o Governo de São Paulo, e também citou a mulher de Jefferson.
Ele faz menção à gravação que comprovaria que Nienov traiu o presidente afastado da sigla.
“No dia em que o Roberto recebeu as gravações pela Ana, ele ordenou que passasse essas gravações para todos os membros do partido, dos dirigentes federais e estaduais, ele mesmo —fui informado pelo Luiz Gustavo— passou um áudio para interlocutores do Bolsonaro através do telefone da mulher dele, né?”, diz.
Fakhoury também fala sobre a possível mudança nos cargos de direção da sigla após a ofensiva de Jefferson e diz que ocupará a posição definida pelo ex-deputado.
“Eu mesmo já falei: o Roberto me sugere aí a posição que for mais correta para conseguir os votos de maioria do diretório para eleger a executiva nova. Não cria atrito agora, põem quem tiver que pôr para ser eleito”, afirma.
O afastamento de Jefferson do comando do PTB foi determinado em novembro. Moraes afirmou que ele estava usando dinheiro público do fundo partidário para promover ataques às instituições e determinou que ele deveria ficar afastado “pelo prazo inicial” de 180 dias da chefia do partido.
O advogado de Jefferson, Luiz Gustavo, afirma que ele tem “respeitado na integralidade” a decisão de Moraes e que ele “não tem nenhuma gestão partidária” nem comanda mais a legenda.
As mensagens do WhatsApp também mostram que, para retomar o controle do partido, correligionários de Jefferson ameaçaram os atuais dirigentes e tentaram forçar uma renúncia coletiva a fim de evitar a convocação de uma convenção extraordinária da legenda.
Com informações da Folha e Agenda Capital