Por Redação*
Para algumas pessoas, emagrecer é mais importante do que ser feliz. Pelo menos foi isso que indicou uma análise da SEMRush, consultoria de marketing digital que identificou 112 mil buscas no Google relacionadas a emagrecimento ao longo de 2018. Enquanto isso, apenas 23 mil eram sobre felicidade.
Mas o que é necessidade e o que não é quando o assunto é emagrecer? A própria obesidade é considerada uma doença crônica e fator de risco para o desenvolvimento de outras enfermidades.
“Aumento de peso interfere em doenças crônicas, como no câncer, principalmente de mama e depois da menopausa”, alerta Mariela Silveira, especialista em nutrologia e diretora médica do Kurotel, em Gramado, Rio Grande do Sul. Pessoas com sobrepeso que têm asma, apneia do sono, hipertensão e diabete, por exemplo, recebem a recomendação para reduzir o peso.
Exceto por essas questões, há quem busque a redução de medidas por estética, para se encaixar em padrões de beleza questionáveis ou, ainda mais grave, devido a transtornos alimentares. Por isso, a perda de peso deve ser uma medida consciente, aliada à saúde e à forma como o indivíduo se sente bem.
Emagrecer com saúde
A nutricionista Débora Saraiva de Paula, da Endoclínica de São Paulo, destaca que saúde é muito mais importante do que estética e que é preciso observar o peso no qual a pessoa se sente bem. “A questão do peso é muito variável de um para outro. O IMC [índice de massa corpórea] é um norte geral para a população, mas não é específico”, explica ela.
O IMC calcula se uma pessoa está ou não no peso ideal com base na divisão do peso pela altura ao quadrado. Resultados menores do que 18,5 indicam magreza; entre 18,5 e 24,9 são considerados normais; entre 25 e 29,9 indicam sobrepeso; entre 30 e 39,9 apontam para obesidade; se forem maior que 40, trata-se de obesidade grave.
Embora seja útil, o cálculo não leva em consideração, por exemplo, a porcentagem de massa magra, composta principalmente por músculos. Uma pessoa com IMC igual a 40 pode tanto ser obesa mórbida quanto muito musculosa.
A especialista indica também que se basear apenas nessa medida para definir quanto uma pessoa obesa precisa emagrecer é arriscado. “O obeso pode até ter uma meta ideal, mas não é algo que ele vai conseguir bancar, por questão genética. Osso largo de fato também existe”, afirma.
O melhor a se fazer, segundo Débora, é controlar a diabete, a pressão alta e outros fatores ligados à saúde. “Questão estética é decorrência”, pontua. “Quando se está em bom hábito alimentar, naturalmente vai perder peso. Costumo dizer que [emagrecer] é consequência, não objetivo.”
Mariela Silveira concorda com a definição e acrescenta: “o ideal é que a pessoa faça acompanhamento médico, porque tem outras questões, aspectos emocionais que interferem muito, na composição corporal. E há uma idealização do padrão de beleza que é compatível com magreza excessiva”.
Medidas para ficar de olho
As especialistas indicam que, além do IMC, pode-se ficar atento a duas outras medidas que indicam se a pessoa precisa ou não emagrecer. Uma é a da circunferência abdominal, que para homens o ideal é estar entre 90 e 96 centímetros, e para mulheres, entre 80 e 84 centímetros. A medida é tirada na linha entre a ponta do osso da bacia e a ponta da costela, geralmente coincidindo com a linha do umbigo.
Outro marcador é o que mede o risco cardiovascular, que divide a medida da cintura pela do quadril. Segundo o Ministério da Saúde, mulheres com índice igual a 0,8 ou menos e homens com 0,9 ou menos são considerados seguros. Uma relação igual a um ou maior, para qualquer gênero, é considerada em risco.
Padrões de beleza
Ao falar sobre emagrecimento influenciado por padrões de beleza, a nutricionista Débora exemplifica como esse conceito mudou com o passar dos anos. Em 1954, Martha Rocha foi eleita a primeira Miss Brasil com 1,70 metro e 59 quilos, uma taxa de IMC igual a 20, dentro do normal.
Nos anos 2000, a top model Gisele Bündchen ganhou o mundo com seus 1,79 metro e 52 quilos, teoricamente desnutrida com um IMC de 16. “Normal passou a ser visto como excesso, e desnutrido como normal”, diz a especialista, ressaltando que saúde é o mais importante.
Um estudo realizado pela Universidade de São Paulo de Ribeirão Preto com 159 estudantes universitários concluiu que a exposição a imagens idealizadas da mídia contribuiu para a insatisfação das pessoas com o próprio corpo. Como resultado, elas faziam melhores escolhas alimentares, talvez em uma tentativa de se encaixarem no padrão de beleza socialmente aceito.
Transtornos alimentares
Quando a frustração com o corpo interfere na alimentação, é preciso ficar atento. “Nem toda dieta resulta em transtorno alimentar, mas todo transtorno começa em dieta”, alerta a nutricionista Débora, citando a anorexia, bulimia e compulsão alimentar. A psicóloga Deise Ribeiro, do Hospital Adventista Silvestre, no Rio de Janeiro, destaca que é difícil a própria pessoa que sofre do problema perceber que está em crise.






*Com informações Conteúdo Estadão