São Paulo lidera em números absolutos, com 96.220 pessoas em situação de rua na capital
Por Redação
Mais de 335 mil pessoas vivem atualmente em situação de rua no Brasil, segundo dados divulgados neste mês pelo Observatório Brasileiro de Políticas Públicas com a População em Situação de Rua (OBPopRua/Polos), da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). O levantamento, com base em registros do Cadastro Único para Programas Sociais (CadÚnico) do governo federal, aponta que, em março de 2025, o total de brasileiros vivendo nas ruas chegou a 335.151 pessoas — um crescimento de 0,37% em relação a dezembro de 2024, quando o número era de 327.925.
O dado mais alarmante talvez seja o salto registrado ao longo da última década: em dezembro de 2013, eram 22,9 mil pessoas nessa condição, o que representa um aumento de mais de 14 vezes no período. A pesquisa do OBPopRua/Polos-UFMG também evidencia o perfil social dessa população, revelando uma realidade de extrema vulnerabilidade e abandono.
Quem são os brasileiros em situação de rua?
De acordo com o relatório, 88% das pessoas em situação de rua têm entre 18 e 59 anos, enquanto 9% são idosos e 3% são crianças e adolescentes. A maioria absoluta (84%) é do sexo masculino. Em relação à renda, 81% sobrevivem com até R$ 109 por mês — o que representa apenas 7,18% do salário mínimo atual, fixado em R$ 1.518.
A baixa escolaridade também é uma marca presente entre essa população: mais da metade (52%) não terminou o ensino fundamental ou sequer tem instrução formal. Esse número é mais que o dobro da média nacional, que é de 24% segundo o Censo de 2022 do IBGE. A precariedade educacional compromete o acesso a oportunidades de trabalho e dificulta qualquer tentativa de reinserção social.
Onde estão?
A Região Sudeste concentra a maior parte dessa população: 63% do total, o que representa 208.791 pessoas. Em seguida vêm o Nordeste (14%), Sul (13%), Centro-Oeste (6%) e Norte (4%).
São Paulo lidera em números absolutos, com 96.220 pessoas em situação de rua na capital. Outras cidades que se destacam negativamente são Rio de Janeiro (21.764), Belo Horizonte (14.454), Fortaleza (10.045), Salvador (10.025) e Brasília (8.591).
No comparativo entre estados, São Paulo também lidera, com 42,82% do total nacional. Em seguida aparecem Rio de Janeiro (10%) e Minas Gerais (9%).
Doze capitais registraram aumento no número de moradores de rua desde o levantamento anterior, entre elas, Rio de Janeiro, Distrito Federal, Santa Catarina, Pernambuco e Mato Grosso do Sul. Em contrapartida, nove capitais apresentaram queda nos registros, como Minas Gerais, Paraná e Alagoas. Outros estados mantiveram estabilidade.
Na análise proporcional, Boa Vista (RR) se destaca negativamente, com 20 pessoas em situação de rua a cada mil habitantes. Em São Paulo, são 8 por mil; em Florianópolis, 7; e em Belo Horizonte, 6.
Violência e abandono
Entre 2020 e 2024, o Disque 100 — canal de denúncias do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania — registrou 46.865 atos de violência contra pessoas em situação de rua. As capitais concentram metade dessas ocorrências, com São Paulo liderando os casos (8.767), seguida por Rio de Janeiro (3.478), Brasília (1.712), Belo Horizonte (1.283) e Manaus (1.115).
A maioria das agressões ocorre em vias públicas, mas também há registros alarmantes em locais que deveriam oferecer proteção, como abrigos, centros de referência e unidades de saúde.
A faixa etária mais atingida pela violência é de 40 a 44 anos, com 5.697 vítimas.
Um cenário de exclusão
Para os pesquisadores da UFMG, o aumento contínuo da população em situação de rua e os elevados índices de violência refletem a ausência ou a ineficácia de políticas públicas estruturantes no Brasil. “O descumprimento da Constituição Federal de 1988 com as pessoas em situação de rua continua no Brasil, com pouquíssimos avanços na garantia de direitos dessa população”, afirma o observatório em nota.
O Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS) reconhece a gravidade da situação e afirma estar atuando na retomada e fortalecimento de políticas de proteção social. Entre as medidas, estão a capacitação de entrevistadores do CadÚnico, o apoio financeiro aos Centros de Referência Especializados para População em Situação de Rua (Centro POP), e o custeio do Serviço de Atendimento Especializado a Famílias e Indivíduos (Paefi), executado nos Creas.
Ainda assim, especialistas alertam: enquanto moradia, educação e trabalho não forem prioridades, o Brasil continuará convivendo com um crescimento constante de sua população mais vulnerável.
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Da Redação do Agenda Capital